quarta-feira, 12 de abril de 2017

Quando meu pai era velho


Quando meu pai era velho,
Ficava ouvindo seu assobio
Intermitente,
Como se fora um lobo
Marcando seu território…
Quando meu pai era velho
Eu inda nem sendo gente
Seguia seus passos trôpegos
Mancando suas dores,
Vivendo suas lembranças,
Vencendo suas batalhas
De quando não era velho.
Agora sou eu o velho!
A terminar cada frase
Com uma recordação
De quando meu pai era velho
Ainda nem o sendo
A tanto.





Procederes


Os meninos passam,
Saindo em bandos da escola,
Chutando latas e gatos,
Fazendo pose de homens…
Querem-se donos,
Além de suas mochilas, da rua,
Onde se extasiam de ser…
Os meninos passam…
A meninice passa…
Fico pensando em quando
Essas pessoas poderão
Se adivinhar gente!











Arrogados


Não se mede
A conscientização
Com fita métrica,
Por isso o mal político
Não tem tamanho de ser.
Apenas concorrem
Com aprisionados a culpa
Pelas mortes antecipadas,
Cada um com seu armamento,
O da palavra mais mortal,
O do fuzil mais barulhento…
Bandido de terno, farda ou toga
Tem de ter mais culpa
Pois foi bem mais preparado
Quanto ao saber-se vil,
Arrogado.







Minhas rugas cansadas


A fase mais cruel do tempo
Pode seja a que passou ontem…
Examino cada detalhe
De minhas rugas cansadas…
O corte acidental no meu pé
Esquerdo… A dor esquecida…
A saudade lembrada
De momentos lívidos…
A promessa de amanhã
De manhã acordar-me a salvo…
A fase mais cruel pode esta,
Da espera pela esperança
De passos novos sobre grama,
De abraços fraternais…
A fase mais cruel pode seja
A passada entre falências
E falácias… Sei lá… Sei lá…
O cruel das fases depende
De meu senso desencontrado
Entre o fazer e o passado…



Recados de homem


Pode seja
Que já não saiba distinguir
Saudade de remorso,
Espera de esperança,
Alegria de felicidade…
A cada dia menos pesa
Minha consciência e mais
Pesa minha carcaça.
Constato
Entre meus recados de homem
E teu recato de mulher
Que, ao pensar ter-te conquistado
Tu, com a negação ao tato,
Já me tinhas em conquista…
Pode seja ponto de vista.








Vivências


A cada dia que passa
Se é mais sombra,
Como a árvore frondeia,
Este chapéu de aba larga
Puxa do sol a suada bica
E se estreia…
Que a manhã extravasa
Em outras chamas
E faz-se preciso o descanso
Dessa trama…
E põe sua sombra em risco
De ser apenas a sombra
Da sombra.










Tirando o tempo obscuro,
Tudo se clareia na memória.
- E pro futuro?






O que será de nós nessa
Fome atroz por numerário
Dos que cuidam do erário?











A lista


Engraçado, ou trágico?
Aos setenta e uns
Me sinto menos pesado
Que aos cinquenta e tantos…
Um tempo falido, fudido,
Com filhos pequenos e
Uma lista de compras,
Uma lista de desaforos,
Uma lista de credores,
Outra de devedores…
E tudo se anuviando ao olhar
O amanhã obscuro…
Hoje sei-me no amanhã,
Aqui ou acolá apenas com
A preocupação de respirar,
E deixá-los respirar,
E, mais pra lá do que pra cá,
Ao setenta e uns, tranquilo…
Como louco no asilo.





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