quinta-feira, 27 de abril de 2017

Talho


É o que sobra
Da sobrevivência…
Talvez um tanto
Cicatrizado pela saudade
De um tempo bom
Entre os malsinados…
Talho é a cicatriz
Que continua doendo,
Tendo sarado.














No bater dezoito horas


No bater dezoito horas
Termina o dia…
Acabou-se a inocência,
Acata-se as Aves Marias.
Quem pode mudar
Esse ritmo?
Mãe e Pai já se foram,
Amigos, não se pode contar,
Quem pode velejar
Esse mar de noturnos?
Seria bom desrespeitar
Os sinos e voltar
Ao claro do dia,
Às ordens dos pais,
À cornija que se fez
Quadro na parede…
Seria bom, fosse vero,
Mas o tempo é severo
Mandante desde
Sempre.



Fragores


Todas as palavras
Se calam à sua passagem,
Coroas são erguidas sobre carros,
Vai-se uma vida fragorosa,
Agora o silêncio é que aplaude
O momento cerimonioso
E, tudo termina.
O coveiro assenta os tijolos
À boca da campa…
Vai-se a memória.
É preciso que se esqueça
Este corpo, aqui encerrado,
E se vá em silêncio cuidar
Dos ainda vivos.









Abafos


Eu sonhava
louvores,
Meninas,
Cores de apoio…
Sonhava pendores,
Cânticos,
Espelhos de viagens…
Depois sonhei voltar
Ao sonho do tempo,
Sair deste lugar
A tempo de me procurar…
Me procuro ainda,
Sem mais cura,
Pois que cresci
E me perdi
Na sinecura.







Dores espinhais


Todos com suas dores,
Cada qual com sua sina,
Que não podem ser esquecidas,
Mas não deixam saudade…
Acompanham os passos,
Primeiro lépidos, depois cansados…
Cansados de correr atrás
Do impossível, ainda crível,
São as dores do parto,
São as dores espinhais,
São as uremias… As hérnias…
Todas muito ciosas de quanto
Fazem sofrer. Então,
Não há dor maior ou menor,
É de cada momento, que o seja,
E seu esquecimento…










Aquele que nasce feio
Tem uma vantagem:
Não fica feio de velho
Com o doer da vida…






As coisas são o que são:
- Fatos.
O resto são boatos…










Entaboques


Seria muito esperar
Que o hoje fosse o amanhã?
- Eu espero.
Porque o hoje já é ontem
Na contagem das minhas horas
Entabocadas…
Ontem as crianças cantavam hinos
Antes de entrar na sala de aula…
Já foi ontem o pedir a benção
Aos Pais e Padrinhos,
Foi mais tranquilo o adolescer…
O hoje todo mudado
(Pra pior, a meu ver)
Eu quereria pular e que
Não amanhecesse sem a benção
Dos pais e padrinhos…
Que se foram.
Que não esperaram este hoje
Deixado das inocências,
Que amanheço como fora tarde
E entardeço antes…


Domação


Consegui domar
Minhas doenças,
Já as tive, várias,
Selvagens, renitentes,
Mas acalmei-as
No chicote, como feras…
Agora convivemos bem,
Civilizadamente…
Ainda com o chicote
Abanando pílulas…
Pílulas… Pílulas…
Antes de cada
Esquecimento…













Todos os caminhos
Levam ao nada…
Não se iluda, o fim é
Começo de caminhada…








Para bem viver


A camisa
Não precisa ser nova.
A camisa
Precisa estar limpa…













CAMINHA, MINHA GEN

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