segunda-feira, 29 de maio de 2017

Fuga


Nos eludimos
À frente da batalha…
Esses egos destonados
Fazem fogo de arresto
Nas paredes dispersas…
Mas fogem das verdades
Muradas à frente…
Quando?
Quando seremos covardes
Outra vez?
Quando a frota vier
Nos receber
De braços abertos
E baionetas?
- Quando os poetas
Vierem nos receber
Com suas palavras
Baionetadas!





TODOS SOMOS DESIGUAIS



TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI.
TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI?
TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI!
Todos somos desiguais Perante
Essa temerária lei que admite caução
Ao grande dono das ações na bolsa…
Quem pode ser o caucionário
Do pequeno lesador do ulnário
Saco de farinha surrupiado ao dolo?
TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI…
Quem garante ao esfarrapado
Seu direito de, além de ir e vir, ficar?
TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI?
Até mesmo o usuário lesado pelo
Financiador do crediário preditivo
Na promessa da vitrine proibitiva
Ao bolso raso do salário pago?
TODOS DESIGUAIS PERANTE A LEI…
Tantas vezes lido e ouvido, olvido
Pelo mando do predatório lenido!


Gentilezas

Quão gentil pode ser
Essa pátria desamada…
Até o roxo da pancada
Será cicatrizado em vão?
Até quando o honesto
Será o tolo da negociação?
Até que o malho desmalhe
Todas as circunscrições
O objeto se objete
E torne-se inalienável
Ao casco do barco ao fundo?
Quão gentil pode ser
Essa pátria desarmada,
Povo que pensa o não
Mas se aquieta ao medo?
Se preciso a inquisição
Ao predador depredado,
Que assim o seja, melhor
O futuro que o passado…
Apeado ao suor do bardo
Que se baldeou por fraco
Ou por gentil ao fardo…
Do qual se fartou!
CONVIDO-OS A VISITAR
Desplanejos


Sempre pensei em relevâncias…
O que afeta, ou não, instância.
Sonhos profundos, futuro tosco,
Essa vontade de viajar o novo…

Se joguei sonhar-me impossíveis,
Até que me foram comprovados,
Aí fui desistindo de olhar o longe
E passei a contemplar meus pés

Pensando assim no caminhável
Entre o real d‘agora e o sonhado,
Inda hoje relevante para mim,

Que vejo os sonhos impossíveis
Com certo apreço esperançado
Sobre ilusórios de planejados.












O sonho maculado
Pode ser apenas o futuro
Indo para o passado…









Em meu olhar intimista
Pode seja que me sinta
Nesse espelho de ontem
Em que me via realista…







O que já não é de uso


O que já não se usa
É bem que se espere
Que de velho em velharia
Acabe o atual objeto
A se tornar antiguidade.
Não tu, caro senhor,
Que de velho se estraga
A cada idade…















À minha neta


É, minha cara, melhor
Esse tempo de espinhas no rosto
Que o de rugas de desgosto.









O que vale não esquecer,
Dependendo do tempo,
Não o tempo a conceber
Mas o de compreender…







Patronato


O que se apreende
Com a idade
É que não se comanda
O tempo. O tempo
É que nos comanda…
Entre o prazer
E o fazer, medindo
Cada distância…


















A internet é um barato
Mas faz quase impossível
Tornar a notícia em fato…







Como em sendo verdade
Contei uma estória triste,
Mas às vezes a verdade
É que até ela não existe…







Sonho que não


Sonho que não sou…
Seria bom, fosse verdade,
Não teria responsabilidade
Desse sol nascer em chuva…
No sonho de não mais ser
A mágoa desistiria de ser
No chão virado em prata
E no céu do amanhecer.
No tempo de não ser
Seria fácil perdoar danos,
Cicatrizes, feridas abertas,
Contar a vida que esconde
Antes de ter sido existência,
Assim a gente amanhece
Ileso do tempo perdido
Em desovado espírito…







Compulsoriamente


A pergunta é sempre outra,
A resposta sempre a mesma.
Falta imaginação ou mudou
A dissertação desse esmo?

Qual a melhor resposta
Para novos acontecidos?
Hoje incendeiam pneus
Os que queimavam livros…

Esses que não se podem
Queimar dessas verdades
Queimam as inutilidades…

Para os pequenos delitos
A pena seria compulsar
A leitura daqueles livros





Há um certo tempo


A um certo tempo vivido
A gente recorda a infância
Como essa alegria triste
De sentir ter-se perdido
O lembrar acontecidos,
Vulneráveis ao crivo
De amadurar-se nisso…
Tempo de importante
Ser as desimportâncias…
Desmanchar formigueiros,
Montar obstáculos para
Garrafa de vazia serventia…
Nesse certo tempo o vivido
Se importa em nós mais
Que notícias do repente,
Como brigas politiqueiras
E outras atuais asneiras,
Tudo mudado… Mudou-se,
Nem há mais formigueiro
Para o chutado coice…




Se o dia é findo

Se o dia é findo
Que se finde a sorte
Que carregamos
Do nascer à morte…
Se o dia é findo
Se acendam as luzes,
Despertem morcegos
Corujas e boêmios,
Viventes do findo dia
Ao luar do escuro.
Se o dia é findo
Dê-se ao sossego
De pender ao balanço
Dessa rede e sorver
O gole do sereno
Vindo de quando o dia
Por findo é feito.






Quando o bonito parecer feio

Quando o bonito parecer feio
E o hoje feio se tornar bonito
À nova visão de valor finito
O que será da bela esbelte
Da jovem quase esquelética
E da musculatura disforme dele?
Em certos povos o belo é untuoso
Em contradição ao manequim
Das passarelas e desavidas,
As praias são o pior momento
Para os que contiveram a gula
Antes de veranear o tempo
Mas que não chegam ao belo
Segundo estreito conceito
Efêmero em ossos desfeito.






Casa de estimação


Ah, casa,
Tinhas seus encantos
Entre paredes carcomidas,
Pilares podres e suas vigas,
Quintal de varanda florida…
Areia amontoada ao canto
Ciscada pelas galinhas e
A montureira das formigas…
Um cão chamado Duque
Que não respeitava ordens.
A casa talvez não sonhada
Mas muito bem vivida…
Não tem mais cancha
Para aquela casa inércia
No viver de hoje a lida,
Perfume de margaridas
Maneira de revividas
Cenas deixadas voar…
Ah, casa, que falta faz
Tua presença viva…


O que me vejo

O que me vejo
Revendo meus dias
É um bocado de mim,
Esquecido no espelho
Ficado noutros dias…
O que me vejo
É a paz desistida
No guerrear comigo.
O que me vejo
É o som da trombeta
Chamando as recordações
Do futuro.
O que me vejo
Caminhando entre pedras,
Areias e caramujos,
Deixados
Pelo último banquete do rei.
Aqui me sei espelhado,
Sorrindo pra fotografia
Mesmo que entristecido antes,
No instante passado.


Nas chamas dos dias


Nas chamas
Dos dias
A espera é forte
Aprendiz de ti.
Que mais pode
A fase ensinar-te
Ante as paradas
E a energia
Despendida
Dos gestos?

















Para se tornar luz
Faz-se preciso
Apagar as sombras
Externas.
Apenas a própria,
Essa que se desliga
Quando se evolui,
É imprescindível
Manter à luz.


















O dia se negou a nós,
Humanos,
O claro se desfez
Ao meio desse dia,
Apenas os gatos continuam
Perambulando,
Com suas patas sensíveis,
Medindo à frente
Os perigos que nós
Humanos,
Não prevemos
Tropeçados…















Aprendiz de feiticeiro
Se fazendo de rogado,
Sabe a sanha de tudo isso?
Já é passado…














Pelo cheiro do vento

Pelo cheiro do vento
Vem tempestade,
A poeira no ar,
O fio da ramagem…
Pelo cheiro do vento
Vem destroçagem,
Talvez um nó górdio
Nas minhas vontades.
Pelo cheiro do vento
Já não se pode navegar
As naus afundadas.
Esse cheiro no ar
É mesmo covarde,
Faz o que faz
E não move aragens.





















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