sábado, 5 de agosto de 2017

AQUIETADOS

Todos os gestos
São significativos…
Mesmo que em revolta!
As noites mal dormidas,
As manhãs desamanhecidas,
As desculpas desafeitas…
Mesmo a palavra não dita,
Gesticulada aos ares
Pode ferir ou amasiar-se
À alegria de ali estar…
Todos os gestos,
Esquecidos nesse sótão
De nossos sentidos
Volta a inquietar,
Se indevido.







Assobios de espanto

Sofrer sempre foi difícil.
O pai assobiava…
Isso amenizava vê-lo,
Assobiando sem música,
Com o olhar cansado de viver,
Já não gesticulava como antes,
Os braços pendidos à dor
Mas consciente de que aquilo
O fez maior que todos.
Hoje é que sei disso…
Hoje que sei distinguir
A coragem da tolerância…
A vida nunca facilita,
Apenas se explica em cada ser,
Vencido ser o ter sido…








Poesia concretizada


Hoje ganhei uma poesia,
A presença idílica de uma mariposa
Pousando sob a luz, translúcida,
Acesa em cores,
Poeticamente inocente
Do que assiste em redor…
Pura poesia…
Voando em círculos,
Ofertada a mim como palavra
Soletrada bela
Entre tantos rancores,
A arte que emana dela
Em suas cores…










O som líquido


Ouço o som
Líquido da várzea…
Choveu antes, agora envasa,
Entre taboas e patos selvagens
Eu ouço a água escorrendo delas 
A enfeitar o pó dos dias…
Esta noite a rainha dos céus
Passeia no reflexo das águas…
Brilha, mais que antes,
Sua presença imaculada.
Ouço o som líquido na várzea
A passear sobre cabeças
Em manadas…
Agora a estrela Dalva cuida
De reinar nesse reflexo,
Espelho do poder das águas
Sobre a secura
Do concreto…





A condição de estorvo


Passou
À condição de estorvo
A presença amarga
Da tristeza
Entre as fotos
De alegrias desfeitas…
Faia de folguedos
E folhas soltas,
O amarelado outono
À espreita…
Desfaz firulas
Até hoje aceitas…
Pena que a penar
Se enfeita,
Misericordiosamente
Refeita
Nesses ramos novos,
Inda por vindouro anseio,
Na espera infinda
De ser aceita.



Se eu pudesse


Se eu pudesse acreditar
Nas promessas descumpridas…
Se eu pudesse acreditar
Na vida no fim da vida…
Se eu pudesse acreditar
Na manhã nova, amanhecida…
Se eu pudesse acreditar,
Talvez fosse de se esperar
Nas verdades consentidas
Uma forma de partida…
Mas não me é concedida
Tanta ingenuidade…
Por isso sofremos mais
Do que a dor devida.



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