terça-feira, 10 de outubro de 2017

Para ver sob céus da noite


O tempo não cabe no tempo.
Perdidos nesse tempo
Abrem-se janelas para os ontens,
Redesenhados como fantasiosos…
- Felizes?  Talvez…
Numa noite dessas volto
Ao tempo não vivido antes
Sob os céus das noites.
Por falta de tempo perdi-me…
Corri para o dia seguinte
Sem anoitecer pensamentos.












Lascas


Continuo a descrever
O papel das páginas,
Sabendo desnecessário
Arguir da memória,
Que às vezes falha.
Como papel é página
Me folha cada alvorada
Enquanto árvore, cansada
De segurar o vento,
Desfeita em lascas…
















Vivo há sete décadas
Na mesma cidade
Mas sinto saudade
Da minha cidade…









Cada palavra é única,
Mesmo que repetida,
Por estar sempre
Em outro contexto…









Hoje a paciência não veio,
A quem eu posso
Mandar buscar?










Todo canto
É expressão.
Mesmo o mudo…










Chove
Sempre uma chuva
Mansa…
Hoje
O céu embrabeceu,
Chove pedras!
A derribar
Folhas e telhados
Sobre gramas
E consciências.
















Escondo-me das vontades,
A mais férrea, chocolates.
O corpo pede água… Muita…
A desopilar renitências.








Desisto da conversa (a)fiada  
E volto a escreve-las. Poemas?
Solilóquios monossilábicos,
Oblíquos às verdades…







Independências


A vida
Tem princípio e fim,
Difícil organizar o meio…
Enquanto a passarinha
Recolhe gravetos
E organiza seu ninho,
A cadela faz sua cama
Antes de parir filhotes…
Só o humano não sabe
A que veio?
















Faz toda diferença
Um pé de coelho
E um pé de cabra:
A sorte e a força.









Em tempos de cacos
Perdidos na memória…
Quando a saudade
Vai-se embora…






Diafaneidades


Caminho pelas estrelas…
Alguém diz que enlouqueci,
Mas eu posso, sou diáfano…
D’onde vejo o corpo, o meu!
Estendido a sono solto
Sobre um lençol lívido,
Aí me desfaço em tantos…
Voar ou permanecer,
Dormir pensamentos
Nesse alvoroço de ir e vir,
Sem poder voltar
Ao calabouço a que me prendi
Quando em moço aprendiz.
Como caminhar o voo às estrelas
Sem cair em mim, nesse fosso
De sumir para dentro
E não me atrever ir além
Desses egos?





Indevidamente feito


Talvez nos tornemos
Honestos
Nesse momento de nos dizer
Desonestos…
Falcatruas à parte,
Cada logro que executamos
Teve um motivo muletando
O que seria amoral,
Mesmo sendo legal…
Nessa hora todo ser é humano,
No pecar e arrepender-se,
Mas humanamente impossível
Prometer-se não mais fazer
O indevidamente feito
Vício.

CONVIDO-OS







Desacertos


Naquela idade,
Em que tudo era verdadeiro,
Inventamos as verdades
Ao menti-las em desacerto.
Amadurecemos
E nos tornamos incólumes
À dor do arrependimento.
Naquela idade,
Quando éramos coragem
De não prever o perigo
De não sê-lo.
Agora a comunhão de valores
Assusta o conceito
De revê-los.












Perdidos,
Viemos de algum lugar…
Quem sabe possamos
Voltar?








A vida se resolve nisso
De respirar profundo?
A vida não se resolve nisso
Pois não conserta o mundo!










O ato de conservar-se vivo
É complexo, disléxico?
Dialecto? Anoréxico?
Pior se apoplético!










Tinha alguém de meu lado
Cantarolando uma valsa.
Murcho com sanfona e pandeiro
Nesse baile de terreiro…








Tudo que pode ser
Poderia ter sido…
Se a idade fosse
Pelo merecido.



















Pandemônios


Às vezes
O barulho interior
É maior que o exterior.
O grito da consciência?
O remorso da inconsciência?
A guerra entre neurônios?
Às vezes a cabeça pesa
Mais que as pernas cansadas…
As mãos calejadas,
A visão cegada

Pela dor.

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