segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


Assistidores de calendário

Hoje finda um trecho,
Baseado no calendário
Hoje inicia outro trecho...
Mas a felicidade, como a dor,
Não tem dia a se por de pé,
Apenas rege o momento friso,
A cadência básica de se ver
O que passa de choro ou riso
Na pérgola dessa igreja
Chamado ser vivo!

Sergio donadio

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Ciclos
O que a vida nos dá,
A vida nos tira…
Não temos nada de nosso,
Nesse corpo, talvez na alma,
Tudo é empréstimo…
Alguns se resolvem
Armando guerras insanas,
Outros pregando borboletas
Em vidros expostos
Nas paredes de suas salas,
Cabeças de alces, bustos
De heróis… Todos mortos
Nessas trincheiras malfadadas.
O que a vida nos dá,
Além de nadas?
A visão de cada ponto difere
Do outro ponto armado longe.
Para um boêmio o prêmio
É a madrugada… Para um pastor
O prêmio é a alvorada…
Para o pescador, para o laçador,
Para o desembargador…
A dor… A dor da jornada…
O equilíbrio entre manhãs frias
Em mar aberto, desértico,
A pastaria onde se perde a cria
Ou as manhãs condicionadas
Em salas ultra fechadas…
Qual a sua solução ao nada?
Ainda é cedo para finar-se,
Para iniciar-se talvez seja tarde…
O viajor prepara a mala,
Promessa de aventura rara…
O colecionador encontra a gralha
Azul de sua forma inesperada…
Talvez o canto da arara
Seja o dia da redenção…
Talvez o grunhir do bugio
Em plena mata, ou o trem
Em plena cidade fechada…
O que a vida nos dá
A vida leva por enxurrada…
O sangue deixado correr
Ao pé da enxada
É o mesmo da luta armada?
O boi não guerreia mas perde
Sua batalha… O cão apanha,
O menino apanha, o velho apanha…
Quem é o dono da chibata?
A trilha que nos leva adiante
Informa que a fauna errante
Fará do trecho a conclusão usitada:
- tu tens tudo, na tua escolha,
Na recolha vertes ao nada.
Nesse tabuleiro das damas
O astuto tem sua cartada,
O sortudo sua chance vitoriosa
Urdindo peças à sua jogada
Sem a noção, com a mágica
Da sorte escalonada…
De onde verte essa água santa,
Que expõe ideias a talentos,
E faz-se vencedora ao alento
Da fé na mágica?
Nesse tabuleiro as damas
São corriqueiramente usadas,
Queira sobre a mesa posta,
Queira sobre a cama
Desarrumada…
No que a vida nos deu
Sobrou a tarde suarenta
Para a próxima jogada…
A que contrapõe ao sermão
O sermão da igreja, ao sermão
Do ateu convicto da razão.
Ao servir-se o vinho e o queijo
Não há diferença entre eles,
Apenas a mão ao sinal da cruz
E a outra mão jogando as cartas,
Quem se ilude com essa luz,
O patriarca?
Não esqueçamos os soldados mortos
Nessas batalhas ao fazer de conta
Que, surdos, deixamos de ouvir tiros
A nós fadados a perder-se o rumo.
Não esqueçamos que a arma
Agora por eles, soldados, empunhada,
Tem a obscura meta à cabeça errada.
As joias roubadas, corações magoados,
Tudo se julga no mesmo prelo
Desses valores desmaterializados
Em formas sutis de erros
Pela quantia de moeda em cada saco
Aqui mostrado ao magistrado
Cônscio da própria necessidade.
Convenhamos: a vida não nos deu
O que quer de volta no correr
De nossos suores e nossas lágrimas…
Apenas nos emprestou as valas,
As malas, o conteúdo delas,
Seja de roupas ou jararacas…
As valas e as malas vêm cobertas,
Desvendemos o mistério
Entre as nossas sortes e mortes
Na bruta escala.
A ideia de posses é ideia vazia,
Entre as alegrias e alegorias
Há um mistério a ser desvelado
De nosso futuro em nosso passado.
O mal hábito dos cretinos e das hienas
É rir falsamente em cada grunhido,
As fomes se alastram à revelia
Dos condutores dessa manada…
Empresários se iludem com o mando,
Empregados se iludem ser mandados,
Enfim, todos temos a mesma sina,
Somos alvejados pela mesma flecha
Induzida a ferir salvados…
E nada difere entre essas pessoas,
Brancas, negras, amarelas
ou avermelhadas pelo intenso turno
Das trincheiras fabricadas.
Pessoas que mandam em pessoas,
Porque essa é a lei constituída.
Pessoas com amplas janelas abertas
E pessoas com as janelas fechadas,
E até pessoas sem janelas…
Porque essa é a lei constituída.
Gentes correndo em suas rezas,
Gentes bebendo nas calçadas,
Se prostituindo de outras formas
Porque essa é a lei constituída.
Pessoas que têm tudo e não têm nada
Porque não há lei constituída
Para nossa extensa caminhada.
Alguns vieram dos longes,
Outros desistiram nos longes
Apenas respirando o ar de graça
Entre monges… As cobertas
Encobrem cabeças envergonhadas…
A malícia encobre consciências
Desavergonhadas
E partimos para nossas verdades,
A verdade de cada um
A cada mentira aceitada.
O que fere sua ferida,
Senão a visão do outro?
- Seu desconforto.
Uma dieta alonga a vida…
Para que? Para quem?
A corrida ao ouro a corrida ao nada
Que faz-se ritmo nas madrugadas…
Nessas manhãs preguiçosas a corrida
Leva ao próximo descarte,
O infarto equivocando o fraco…
A noção do risco, o risco da noção
De tardos na alienação lucrada
Pelo tempo vida….
Conclusão:
A vida nos tira o que não nos deu,
De empréstimo a juros caros
A cada parada.
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Editoras: Scortecci, Saraiva.
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sábado, 22 de dezembro de 2018


Momento propício

Qual o momento propício
Para desgarrar-se do sonho?
Qual o momento propício
Para engajar-se à realidade?
Qual o momento propício
Para sobraçar as dúvidas?
Qual o momento propício
Para dar o próximo passo?
Este é o momento propício,
Enquanto sonhas teu sonho,
Desninhava suas dúvidas,
Engajas na realidade crua
Dando o próximo passo
Em direção ao teu futuro
Árduo, áspero, duro?
Mas real como tuas mãos
Calejadas e tuas pernas
Frouxas de ir se vindo
Ao mesmo teu lugar.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018


Momento consentido

O momento consente
Chegadas e partidas,
Anseios e esquecimentos,
Toda sorte de acontecências...
O momento consente
Desde crianças cantando
Suas novidades velhas
Aos idosos despedindo delas...
Uma plêiade de lembranças
E esperanças...
Uns amuletos perdidos
Nas portas dos tempos idos.
O momento consente
A fé a toda prova
À ilusão de vencido.


CONVIDO A VISITAR 
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sábado, 8 de dezembro de 2018


Cochichos

É o falar baixinho
Que põe atentos
Ouvidos medrosos...
Uma vez fomos gritantes
E não nos ouviram.
Depois fomos esquecidos,
Lembrados agora
Ao falar baixinho
Todas as verdades
Gritadas...



Girassóis

Espero
Que adormeçam
Meus valores
Para sorrir ao toque
D’outros tempos,
D’onde a flor girava
Ao caminhar do sol,
A poedeira
De águas novas
Cantava aos fins...
Espero que o tempo
Absorva o mal vivido
E o bem vivido
Para que a passagem
Da infância
Faça sentido.


Amansamentos

Esta ideia dura,
Amansada pelas circunstâncias,
Salta de meu peito
Para as orgias da rua...
Peço calam a esta ideia maluca,
Que pensa sair esbofeteando
Meninos arteiros...
Que tenta processar
Políticos remendeiros...
Calma... Coração cansado,
A tarde já veio
E pergunta por nós
Nessa eternidade de atos sujos...
Calma alma acesa
Que o ódio é inerente aos fracos,
A piedade é ação dos fortes...
Calma, que chegaremos lá,
D’onde a paz será a resposta


A esta ideia dura
De esmurrar paredes e caras
Com risos sarcásticos...
Peço um pouco mais
Daquela paciência herdada,
Absorvida pela balburdia dos dias...
Calma, alma revolta,
Calam à sua volta as vozes antigas,
Cantam as almas novas...
Cala-te, coração cansado,
Que o tempo esmiuçará as levas
E trará dos longes a resposta
A esta dúvida sobre o certo errado
Ou o errado estar certo
Ante a verdade dos fatos
Revelados por suas presenças,
D’onde o silêncio da paz importa mais
Que o barulho das guerras.
A paz esteja convosco

A paz é sempre madrugada,
Mesmo o sol nascendo
Ou tardando chegar
A pôr-se sobre as nuvens...
É sempre madrugada
Para poder estar em paz...
Silêncio, por favor,
Não perturbe este final de dia,
Começo de esperança!
Que o tempo passou devagar
E caminha... Caminha
Para uma nova mão estendida
Ao alcance da esperada...
Mão vazia.




Desamparos

Um quarto sujo,
Num lugar abandonado,
Pode ser o túmulo de Bukowski,
A liberdade de Quintana...
Ou a ressurreição de Cristo.
Um quarto pode ser aconchego
Ou lonjura das outras vozes...
Como pode ajuntar tantas vozes
Ao seu silêncio?
Absurdo é queixar-se do quarto
Quando é a mente que está
Desamparada...






Vigília

Toda pessoa
Descobre, afinal,
Que sua necessidade
É menos material
Que hormonal...
Que tudo passa
No fim de cada dia,
Mesmo a fome
Ou a malícia...
Fica este respirar confuso
Nos fins de tardes,
Um pouco morrendo
Com o sol do dia...





Sem pegadas

Vão-se as vontades,
Diluídas entre
Mentidas verdades...
Fica o olhar distante
Meio que a pedir socorro,
A tristeza escondida
Em risos marotos,
Entre as fomes de viajar
Mora um estranho lugar
Chamado saudade...








Da inutilidade da palavra

Grito aos quatro ventos!
Tiro do silêncio meu grito,
Verdades antes escondidas
Nas intempéries do relento...

Talvez não seja o que penso
Nem pense tudo que diga,
Mas neste fervor de dizê-lo
Vibro com todas as letras...

Talvez não tenha a sutilidade
De um romancista escorreito
Para contornar xingamentos

E substitui-los por mentiras
Mas tenho aqui sinceridade
Compungida por mementos.

Cambiemos

Cambiemos,
Que está posto
O sol dos ontens...
Os passos dados
São passos dados,
Nada que possa
Consertar-lhes
O manco...
Cambiemos
Até chegarmos
À próxima
Parede,
Em pranto.












Deixo minhas palavras
Em cada passo dado...
A verdade é que a vida
Entristece, sem pegadas.









                                  MENSAGEM                                                    

            Às vésperas de mais um ano novo, nesse calendário atropelado pelas necessidades, primeiro de correr mais, segundo de chegar antes. Convido meus concidadãos a pensar o tema, ou melhor, repensar, tentando anular a convocação iluminada das vitrines, analisando que o ano novo é precedido de um final de ano velho, recheado de festas, almoços, entregas de presentes, amigos, secretos ou declarados, e...  acertos das contas. Nesse tempo de virtualidades, é preciso manter os pés no chão, firmes na convicção de que, no final, tudo é concreto demais para se abstrair. A vida não é virtual, é real! As dores não são virtuais, o estresse não é virtual... Virtual é apenas o virtual, ou seja, o abstrato pode se dar ao luxo de ser virtual, então, essa moçada que cultiva amigos virtuais em detrimento dos amigos reais, da família, que é real, dos conselhos dos mais presentes, que é real, podem se dar mal com a leviandade de se confessar aos virtuais, em vez de aos reais, que podem , e que normalmente o fazem, socorrer na hora do tombo real.
            Às vésperas de mais um festejo natalino, quero cumprimentar a todos, com sincero desejo de felicidade, mesmo que triste, de saudações, mesmo que ralas. Que todos tentem se aproximar de Jesus, o aniversariante, nesses dias de brindes natalinos, com o coração aberto, mesmo com bolso fechado, comemorando com os seus, mesmo que ausentes de almas, a felicidade de estar fechando um ciclo, se bom que seja repetido, se ruim que seja esquecido. Mas, nesse momento, que tudo seja em prol da paz, entre amigos ou inimigos, e, principalmente entre consangüíneos, que, mesmo atritados por algum motivo, são reais e não virtualmente, seus melhores pontos de apoio.
            Às vésperas de um novo ciclo, é preciso energia para espantar os crucificamentos, os dedos apontados para nossos erros, os pregos em nossas consciências, as cruzes em nossos ombros, e enfrentar as dores com resignação, os louvores com modéstia, e seguir adiante, carregando essa cruz dos deveres diários com o otimismo e até com utopismo, necessários para fazer germinar bons momentos no ano vindouro.
            Enfim, às vésperas do aniversário de Jesus, lembrar que este é o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, segundo as palavras de João Batista, o primeiro a reconhecê-lo como Messias, e não decepcioná-lo, brindando a data com sinceros votos de bem aventurança.
Sergio Donadio

sexta-feira, 30 de novembro de 2018


Estamos revivendo
Pôncio Pilatos e Barrabás,
Artífices do primeiro indulto
Conhecido historicamente,
Com o indulto almejado
Pelos ladrões da atualidade?
Que Cristo será condenado
A carregar essa cruz atual?
Penalizados aos milhares
Pagam suas penas sem pena,
Os indultados serão perdoados
Pelos cidadãos dessa
Res pública?

Sergio Donadio


segunda-feira, 26 de novembro de 2018


A cadeira vazia

Nesses dias,
Vésperas de natais,
Nota-se a ausência de alguém.
Teria morrido ou viajado antes...
Mas só agora, nas vésperas,
Foi notada a falta da sua presença?
A cadeira denota a desistência,
Talvez por ranhuras íntimas,
Talvez por desconsolo...
Nos dias frios a cadeira ocupada
Supria a presença dessa ausência.
Embora já costumeira e useira
Havia um corpo ali,
Mesmo com a alma ausente!
Nesses dias é primordial
Que se assentem as almas
Nas cadeiras vazias...
                           Sergio Donadio

quinta-feira, 22 de novembro de 2018


O silêncio de Deus

No dia da consciência...
(negra, branca, amarelecida)
Ouço algumas vozes, de pastoreios,
Dizendo-se emissários de um deus.
Ouço a cantoria das beatas,
O despreparo ao ignoto,
O ateísmo dos descrentes...
Mas não ouço a resposta de Deus
Com a força que querem uns,
Aos outros a derrota.
Cremos todos em um deus,
Cada um a seu modo,
Dos senhores das almas
Aos senhores dos ouros...
Ouço os materialistas discordarem,
Sem explicativa ou alternativa
Para os fatos de cada tempo,



Chamados milagres... Ou malfeitos.
Mas não ouço a resposta de Deus,
Nem aos bem-feitos!
Benfeitores os há,
Tanto ou mais que malfeitores,
Mas falhos, por feitores.
A resposta não é pela palavra
Que vem dos homens,
Que chama à razão e nos consome.
Ouço a gritaria pelos templos,
Não mais sacrificando cordeiros,
Mas intimidando almas de fracos,
Que cederam ao ferro posto
Na palavra que sangra cada alma,
Tanto ou mais que a chibata.





Mas não ouço a resposta de Deus
A esta escravização franca,
Sem algemas, desconscienciosa,
Açoitada pela miserabilidade imposta
Pelas desigualdades,
Legalizadas por estas amarras,
Impostas à favelização forçada ao fraco,
Doentivadas de sem revolta!
Pode ser justo crianças nos esgotos?
Pode ser justo plantar e não colher?
Mas não ouço a resposta de Deus
Na massificação das fomes,
Por comida, saúde ou cultura...
Na fé dos incautos.






Talvez eu esteja surdo.
Tu vês os meninos famintos?
As mães desesperadas?
Os pais desocupados?
Com suas mentes
Ocupadas pelos predadores?
Eu vejo e ouço!
Invejo tua boa visão
E audição à inaudível palavra
De Deus!

Sergio.donadio@yahoo.com.br

sexta-feira, 16 de novembro de 2018


Cafifes

Estamos buscando
Um trem para a felicidade
Mas
Ele tem
Muitas paradas...
No esforço das verdades,
No sonho das realidades,
No apito das curvas fechadas...
Estamos esperando
A estação felicidade
Depois das estações
Cafifentas... Vagas.






Historicamente

A história faz a vida,
As estórias confundem-na.
Não existem bichos papões
E fadas malvadas...
Apenas pessoas,
E pessoas são mal interpretadas.
Talvez o carrancudo da esquina
Seja doce na lida diária...
Talvez o homem do saco
Esteja com medo dos meninos
E suas pedradas...
As estórias enfeitam os sonhos
Mas a realidade vive-os
Historicamente.




Valências

Não vale o tempo
Que se perde
Arguindo razões
Por descontento...
(Todos temos razão)
Não vale o tempo
Deixado nas filas e paixões...
(Todos sofremos paixões)
Nada singular que o valha
No tempo perdido,
Achado nas horas dormidas,
Quando o que vale
É a emoção do sentido...





Lembrareis

O hoje é severo demais
Com os ontens...
Não preocupemos com isso,
Não moramos mais lá...
Mas deveria haver mais respeito
Pela memória dos gritos...
Pelos caminhos errados...
Pelos conselhos mal dados,
Ou recebidos...
O que o hoje tão abomina
É não poder ser esquecido.
Mas amanhã,
Quando o hoje se tornar ontem,
Será a mesma crítica miragem,
Quase obscena malandragem,
Sobre o que nos passa, e,
Despercebidamente não vemos
Tal passagem.
Para ter sentido

Todos nós
Seremos somente
Um retrato na parede.
Por isso economizemos
Poses e palavras sutis.
Só emitindo
As com sentimento
E algum sorriso
Disfarçando...



quinta-feira, 8 de novembro de 2018


Fundamentos

Eu fundo esperança
Na terra em que piso,
A cada pilar que cavo
No amargo que mastigo,
Na flor que admiro
E não colho...

Eu planto pilar concreto
No abrigo ou desabrigo
Nos sonhos que por certo
Irão viajar comigo
Nas horas feito vidas
Que recolho.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018


                                                             O estilo é o homem
“O estilo é o homem” segundo o Conde de Buffon, frase proferida há mais de 200 anos, continua validada pelas atuações recentes. Em 1989, na primeira eleição direta após o regime militar a disputa foi acirrada, mas acomodou-se no tempo posterior. Em 2010 a polarização nos ofertou uma renhida disputa de achincalho, que parecia repetir a emoção daquele ano pós-militarismo, mas excedeu-se na baixaria. De lá pra cá a ofensão das declarações piorou bastante, o que parecia improvável, mas se tornou verdadeira luta sem regras tácitas. Neste ano o que era ruim piorou, onde o partidismo baixou o nível a tal tema, que velhas amizades se inimizaram a ponto de romper o laço vulnerável de toda relação humana. A carga de impropérios do radicalismo bilateral afetou a percepção de diferenciar propostas reais das incumpríveis, sonhadas, esperadas ouvir sabendo-as anuladas pela própria incoerência, mas acreditadas pela cegueira da idolatrada voz corrente.
A tese “o estilo é o homem” floresceu de vez nesta eleição, contrastando dois extremos que ganharam força firmados nessa teoria, o centro foi deixado de lado num primeiro turno barulhento e pouco esclarecedor de planejamentos governamentais, tomando lugar no segundo turno o radicalismo provocador de ambos os lados, ainda sem projetos confiáveis. É pena que no filtro sobrou isso: Opções entre radicais, incoerentemente aplaudidas pelo eleitorado. Afunda-se aí a esperança de soluções reais de nossos problemas, enquanto cidadãos sujeitos à penúria de meios e a abundância de receios, visto que os dois contendores miraram na insolvência, em vez de na proposição de solução para as desesperadas urgências sob a obrigação estatal, ou seja, nenhum dos dois mostrou plano exequível para a precariedade de nossa saúde, nossa infraestrutura, nossa educação formal, nosso desemprego endêmico, nossa insegurança, nossas diferenças sociais, mais que raciais, entre todas as urgências de um país que foi potência e agora é mendicante de atenção às suas prioridades.  
Voltando ao estilo ser o homem, o que sobrou estilada é uma precária junção de bafos e abafos, coordenada por insultos, mentiras, eufemisticamente glamorizadas fake News, que, de novo não têm nada, autoflagelações impensadas há um tempo, a confundir o eleitorado, amedrontado pela penúria atual e a futura prometida.
Pois bem, terminado pleito, valham-nos os santos protetores! Que o estilo prometido ser o homem não exagere na sua presunção de poder, alienado da obrigação de ser, palpável ao abraço, o governante com olhos voltados para os 200 milhões de cabeças pensantes, sim, esperançosas, apesar de...

quarta-feira, 24 de outubro de 2018



Devassa a natureza
Aparentemente nua,
Vestida da certeza
Da força que é sua.








No nunca mais o sempre
Espraia-se em cicatrizes
Secando ou lesando
O que nos faz matrizes...





    Na esteira dos acontecidos
O que te traz dos longes
É indignar-se ao tema
De ter sorrido antes
Que de si se abstenha...
Se o canto foi mesmo este,
Embora em outro clima,
A ilusão que tinhas
E que te tornou tímida
Na esteira dos acontecidos,
A cada tema revivido...
O que te atrasa agora
Que a cinza apaga a chama
Se ainda assim aflora?
O que de si reclama
Se a luz te põe mais bela
Na mostra das cicatrizes?
O que importa no agora
Além do que me dizes?
O que importa é o tema
Que trazes dos teus longes
Perpetrado em níveis
Antes que te abstenha.
A agonia do agora

Ah... Este tempo
Advindo das esperas...
Que mata a esperança
E planta na memória
A saudade d’outro tempo,
Que já foi embora...
Pensado ser verdade
Foi-se em teus pensares
De que viria um dia
O espanar que passasse
A agonia do agora
Realidade.









Rastros

São apenas passos
Chegando às decisões tomadas,
Levados da outra vez
Pelos ventos da mocidade,
Agora se arrastando pela calçada,
São apenas passos...
São apenas passos
Que vêm dos longes a ver
As novidades novas
Do mesmo parecer
À antiga forma do ir-se sem partir
Acobertados nas ações primárias.
São apenas passos
Que veem nas lembranças
Mas nunca viajaram
Como pretendias, e anulados,
Tornam-se teu passado
Em desesperança do ir sem vir
Deixando rastros...


Turbas

As animálias voltam
Ao toque dos sinos
No chamamento
Do velho peregrino...







O agregador menino

No vórtice da ameada
A voz grita memes
Em cima do mourão
Puxando a procissão...






Carrego nos meus dias
O que se diria história,
Não fora as cicatrizes
Trazidas na memória...







Passada a obrigação
De sermos cabalísticos
Volto-me à lonjura
De momentos míticos...








O escrevinhador sonha
Um mundo que não existe.
Se existisse seria o fim
Dos escrevinhados ditos...








A poesia não tem futuro?
Neste mundo cibernético
A poesia não á passado,
É a sobra que deu certo.







Não estão completas
As palavras ditas
Numa noite em festa,
Falta-lhes a realidade
De um canto amargo
Que ficou atravessado
Pra depois da sesta...
Não estão complexas
As inserções vazias
No correr da noite
Se acompanhadas
Desse vinho tosco
E de ideias idas...
Mas se locupletam
As palavras gritadas
No calor da animosidade
Logo depois de despirem-se
Os corpos envilecidos
Pela morna tarde.


Culminâncias

Se o tempo culminar em espera
O que fora doce amarga a hera...
Na descoloração sombria dos desejos
Sibila o gozo empapado beijo
E faz-se do amor seu regaço em pejo.
O que te foi vida palpita o estro
Do encanto daquelas primaveras
Floradas ainda no teu cedo...
A invernal presença desses núncios
Pôs-se a vibrar à anunciação do ledo...
Aqui o agora faz-se realidade
No manto límpido da saudade
A sobra do que te foi desejo.
Para o que sobrevive à memória
Nesta opaca procissão de erros
Lembrando o dia em que foste glória.
Toma das mãos que te acalentavam,
Palmadas em horas de desespero,
Que, afinal, a sobra das horas lesadas
É como este fim de noite tempestuoso,
Deixado aflorar em teu desassossego.


Ao fim das tardes folhas derrubadas
Dizem adeus ao qual faltam palavras,
Visto que esvoaçam até o galho seco
Entre folhagens mortas de passagem
Postas no espaço da antes alegria,
Retratadas na sobra do hoje velho
Bardo descontando dias postos fora...
Por isso o tempo que se faz presente
Impõe-se à saga viajada a outro
Tempo escorrido em horas divididas...
Talvez agora, em que te sobra tempo,
Possas sorrir do choro descontente
De quando o riso não te satisfazia...
Assim, se o tempo passado e presente
Culminarem na espera da doce hera
A descoloração será aberta ao gozo,
O mesmo que telara na antiga raiva
Antes sobrada de impetuosos voos,
Hoje pousando no cansaço afoito
Do dia feito espera, topado morto.

Aviso aos navegantes 2

Não é possível ir adiante
Olhando sempre o reflexo
De sua imagem na água...








Se não puder viver
Como quero
Não quero viver
Como posso.