sábado, 13 de janeiro de 2018

Deparadas


Tudo que me indaguei
Nessas décadas,
Sei-o agora,
Foram perguntas que me fiz
Respondidas com versos…

Foi preciso
Me tornar septuagenário
Para perceber
Que minhas dúvidas
Não eram perguntas,
Eram respostas!








Tempo bom
Em que meninos
E canarinhos
Voavam soltos
Pelas ruas
E pomares…
Hoje
Tanto meninos
Quanto canarinhos
Vivem presos.
A diferença
É que a lei protege
Canarinhos…





Fontes


Piada batida
Saída de um poema
De Bukowski:
“Ele saiu da cozinha
Trazendo uma língua de boi,
Consegui chegar à pia
E vomitar minha náusea…
Fui para casa
Comer um ovo
Cozido…”








Lições


Ensinou-me
O velho bêbado:
“Tudo que te acontece
Faz de conta que é com outro”
Assim procurei externar
Meus sentimentos,
Dividir com terceiros de boa fé
As agruras de não poder sair,
Seja do lamaçal na estrada,
Seja do destempero cá dentro,
Nunca dá certo,
O outro, mais perto,
Tem seu próprio lamaçal.






Silenciosamente


“Morrer é igual
O murchar de uma rosa?”
Pergunta Bukowski.
Sim senhor,
As pessoas, finalmente,
Viram flores
E a flor que murcha imita
O último suspiro
De um poeta.
Assim nos completamos:
Flor e pessoa,
Pessoa e alma,
Alma e flor…
Bois e porcos morrem
Prematuramente, esperneando,
Flores não, sucumbem ao vento
Silenciosamente,
Como os poetas…

Consequências


Ao consertar uns versos tortos
Se percebe que a vida escorre
Por esses foles…
Uma vez preso à ideia troncha
O verso vira palavra e se dispõe
A duelar com o pensamento, antes contrário a qualquer evento.
Ao remendar essa ideia e fazer
Caber na antiga roupagem
O canto esmorece a fera e amansa
O atrito virando prece…
E o verso? Se desfaz nas lágrimas
De contentamento, antes ilícitas,
A prover a nova fórmula
Por um novo princípio,
Da consequência.



Essas nuvens


Essas nuvens,
Com seus formatos dissolúveis,
Dão-nos exemplos de comunhão,
Rebanhos delas passeiam
Sobre nossos dissabores, e,
Ímpares, formam pares…
E se vão…
Como que paziguadas  
Pela presença desse sol de outono
Essas nuvens,
Navegando céus abertos,
Mostram-nos que o errado
Pode estar certo.






Mente premiada


Em sua inocência
A mente criança
É farta de bondades…
Depois, grilada pelo trato
Se expande em malícias,
Para o bem ou para o mal,
Pendente ao que e lhe oferecem
Premiada.











O tempo, se passa cá dentro,


O tempo, se passa cá dentro,
Desfaz vontades e sonhos
Irrealizáveis…
Se passa cá dentro a vida dói,
Agora mais que na mocidade,
O Cristo, morto aos trinta e três,
Quase um menino,
Sofreu as dores de suas correntes
Sem o desânimo desses cansaços…
O tempo, se passa cá dentro,
Traz a verdade sobre os sonhos
E sangra mais, e dilui o mel
Que se fez brotar antes…
O tempo passa cá dentro
Desse senhor gris,
Que se sabe vivido mais que isso,
Levado pelo vento forte
Do arrependimento
Em seu relento.  
Chorar pitangas


Não que esteja
Chorando mágoas,
Mas o tempo
Faz chorar pitangas,
Como se dizia
A um tempo…
Frutas colhidas,
Doces ou azedas,
Devem ser consumidas
Lento… Lento…
Salvadas antes
De passadas…







Assomos


Cá estamos nós,
Aplaudindo os cem anos
Do desbravador de horas,
Mas ele, educadamente agradece,
Não vê a hora de irem as pessoas
E assomar seu travesseiro,
Companheiro das horas
Dormidas cedo…
Não te desiluda, menino,
Diz do alto de sua vivência,
Espera que te sacuda o senso
E te faça ouvir todas as vozes,
As que se foram, as que chegam agora entre teus desajeitos.
Nas tardes mornas o senhor ressoa
A levar as dores para amanhã
Cedo.























SEG 17:17

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