terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O círculo que faz o compasso
Estavas alí,
Invisivel na tua espera,
Vestindo-se
Da placenta de tua mãe,
E já eras…
Viajavas alí,
Entre as vontades e as necessidades
Nessa esfera,
Enquanto teu sonho se afasta
A cada quimera
Do traço dos desencontros
À procura
De míseros pontuamentos
A seu critério…
E o céu continua distante
No horizonte
À vista do inebriante fim
Do arco-íris…
Entre o aqui e o depois
do sonho, iludido ser
real.
O que vês pela frente?
O que te vai pela fronte,
Se ao caminhar pisas teus passos
De ontem?
Bates nessa parede,
Na porta que desenhaste nela,
Mas que não existe!
A porta se fechou no ontem,
Naquele sonho amarelecido,
De antes…
Pediste ao teu Deus
Mas Ele silencia ao teu pedido
Pela estapafurdia vontade
Do que querias sem o suor
De tua face…
O que tens pela frente
É uma vida inteira de calosidades
Antes que tudo passe.
Pensaste
nessa hora dolorida?
Nessa fusão
entre sonho e vida?
Gritavas para que te abrissem portas,
Mas apenas gritavas…
E as portas não se abrem,
Senão ao gesto forte de força-las
À mão e ao corte de tua navalha…
Teu Deus precentira cada falha,
Cada desistência, cada ira…
Teu relógio, neste instante,
Aponta os ponteiros empatados
No zero simultâneo
De horas, minutos, segundos,
Transformados dos anos…
Pensaste nessa hora advinda?
Ou estás ainda naquele útero
Que te aqueceu a vinda?
Os passos que deste, deste…
Agora os passos que tens de dar
Ao que mereces…
Teu calendário emenda
passado e futuro
e,
embora tu não entendas,
lavra teu prisma infinito
entre os dias vazados e os por vir
nessa contenda.
Encontrarás,
Nas cicatrizes de teus dedos
O desvelo de teres sido
Inteiro!
Toma dessas mãos que te afagam,
As tuas próprias mãos,
O ar que não te é alheio
E leva ao porvir de teu anseio
O que tens pela frente
De teu meio.
A noite escura
Não te vem do alto céu nublado,
É de teu céu que anoitece o eito
Em meio dia feito…
No lago o peixe parece-te um pássaro?
Mas nem o pássaro voa
Ao primeiro passo,
Tateia o ninho, como o peixe a lama,
Como tu a cama em que deitaste,
Sendo todos do mesmo meio,
Ocupamos nosso espaço sobre a terra
Ou sob ela,
Pendente o esforço
De caminhar o antes desta noite,
Que cada um de nós,
Pássaro, peixe ou homem,
Faz-se singular, embora múltiplo,
E respira o ar, puro ou impuro,
De cada esfera
Dentro dessa esfera maior,
Em nosso mundo.
A distância é prisioneira
De teu remo,
Rema… Rema…
Que a noite está distante
Mas já chega
Ao teu penar e teu contentamento,
Que o sonho faz-se real
A cada trecho
Se sonhado menos.
O círculo que faz a esfera
Está pronto.
Nadou o peixe, voou o pássaro,
Caminha, homem, tu,
Que vieste de tão longe,
Descansa,
Que te espera a esperança,
A última que mata
O que seria a dança
À música esperada
Nessa trança.
Dorme, criança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário