quinta-feira, 15 de março de 2018


          Escudos  
            200 propostas, entre leis e emendas constitucionais consideradas retrógradas, avançaram no Legislativo no ano passado. Uma das medidas consideradas mais graves foi a aprovação do projeto de lei que transfere para a Justiça Militar o julgamento de crimes contra civis praticados durante operações”. Será o medo da sinceridade militar? No Rio de Janeiro, 1.035 pessoas foram mortas por policiais militares em serviço entre janeiro e novembro do ano passado, e 134 policiais tombados nesses entreveros. Em São Paulo, foram 494 vítimas até setembro, contabilizados 88 policiais. Muitos estados brasileiros não possuem estatísticas sobre essas mortes. Considerando-se as mortes de policiais por facções altamente armadas, a resposta à tamanha violência não seria outra, por falta do apoio das autoridades nas outras áreas, que têm de estar de mãos dadas com a segurança, a mais grave talvez seja a educação pela escolaridade nesses nichos abandonados, a saúde? O acesso às “regalias” das crianças das avenidas floridas? "A estrutura policial tem dentro dela a percepção que determinado tipo de pessoas em situação de vulnerabilidade podem morrer sem haver consequências", diz certo advogado. Pessoas não são objetos, mas assim são tratados pela abjeta opinião. Pessoas desprovidas de ganho, são doze milhões de desempregados, empregados mal remunerados, famílias carentes, até da sopa no jantar, se transferem para essas “comunidades” e se imiscuem entre marginais, e se tornam marginais, no sentido fétido da palavra, incham a panela fervente que os habita, o aumento da violência traz o aumento da repressão, num dominó sangrento, tombam aqui as promessas de futuro, comparar a nossa polícia “sangrenta” com as polícias do chamado primeiro mundo é uma utopia comparada à procura da fonte da juventude nos contos de fada.  A Anistia Internacional critica a escalada da violência em todo o país e o uso do Exército para cumprir funções policiais e de manutenção da ordem pública. Mas não vem a campo duelar com suas teorias o forte armamento bandido. As reuniões dos altos escalões, sempre longe do campo de batalha são inócuas, as promessas de novas penitenciárias não são cumpridas, as cadeias com o triplo de detentos de sua capacidade, são ninhos de novas bandidagens, o comando de grandes chefes, presos a sete chaves, e se comunicando enquanto incomunicáveis, são o fruto dessas reuniões, que se completam em si mesmas, entre quatro paredes, e dali não saem para a concretização. Já dizia um grande brasileiro há muitos anos: “Ou se constrói mais escolas ou teremos de construir mais cadeias no futuro”. O futuro chegou, amargo, duro, falho desde suas lideranças aos seus votantes ignaros, e pagamos com nossos medos a realidade cruel desses dias áridos. A conclusão inexorável é que mudam os atiradores, os escudos são os mesmos, os fragilizados habitantes desse país esperançoso num eterno futuro.

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