domingo, 29 de abril de 2018


Anuário para minhas dores


Sentindo-me
Portador das encomendas
Respiro esse ar
Das flores olorizadas,
Esse som das larvas
Mastigando folhas,
Esse farfalhar
Feito ao vento…

Não sou eu
Que vivo esses momentos,
Esses instantes
É que dividem comigo
Seus valores,
A água a mourejar da pedra
A pedra a brilhar da água,
Borboletas
Passeando sobre flores
Emancipadas…


Não sou eu
Que vivo
O que o som delata,
Somos parceiros,
Sim, dessa efeméride,
Embora me ache
Senhor das intempéries
Apenas capto
Essa vida em redor de mim
A me mostrar
A independência
De seus atos,



Assisto
A nascimentos
E funerais da espécie
Que viceja à próxima
Primavera suas cores,
Enquanto assisto
Esse féretro acinzentado
De meus valores…
Absorto ao dado fato
De que apenas eu
Não voltarei renovado
Com as águas
Do próximo agosto.

quinta-feira, 26 de abril de 2018


Charneira


O espelho que ora me vê
Não me enxerga como eu.
Sei que esta dor não se mostra,
Que este labor se esconde
Nas barbas por fazer…
Charneira me mostra em rugas
Que não me sei,
Este cansaço de olheira
Faz-se inimigo da vida inteira
Que me põe a derreter.




















Constatação


A poesia que se inicia
Se irradia…










Ao pensar-me fazedor
De discorrer meu dia,
Não me descrevo nele,
Delineio em si o dia…

















Se a paz desse momento
Não lhe faz sentido
Socorra-te desse estorvo
Sem pensar-me aguerrido.
Que a paz esteja convosco
Se a guerra em “vosco” estiver.








Quantas palavras cabem
Num pensamento?

















Esta chuva, da grossa,
Grassa sobre roseiras
E despetala os pés
Dos meninos na poça.









Ideia mole em cabeça dura
Tanto bate até que burla…


















Cachola funciona direito
Se o explicar não for estreito…












Às vezes no silêncio madrugueiro
O murmúrio das folhas multiplica
E assusta o solitário solteiro
Em sua cama de espinhos…












Voláteis


As agruras de meus avós,
Suas fomes de sonhos,
Suas mãos calejadas
Fazerem-se lágrimas…
O amargor das viagens,
Dos plantios às colheitas,
Alheias enquanto meeiras,
Fazem suas defensas
Ante as tardes e luas cheias…
As tristezas… As tristezas…
Trazem para minha alma
A politizada aspereza
Que se levanta ao gemido
E me põe em guerra
Sem outro sentido
Senão o de querer
E não ter ido…
















Eu me faço descobridor
Dos ares das marés…
Me faço provedor de minha fé,
Corcoveando um cavalo baio
Que se empina ao meu lado…
De dentro.
Eu me faço outra vez moleque
E me dou o direito de quebrar
Vidraças e conceitos velhos…
Me faço alto e bom som
Perscrutador das melodias
Que ouço a partir do vento…
Por isso posso me fazer estátua
Se me convier calar palavras
E olvidar o que me tenho:
A paz que ganhei com o tempo
De procurar momentos…
















A palavra, na poesia,
É uma paulada… Amena.
Sinta-se ofendido ou elogiado
Pela poesia em que a palavra
Centra-se mais no que foi ouvido
Do que foi falado…



























Conheço
As coisas que o são,
Por si…
Como a fruteira,
Vazia…
A janela batendo
O vento…
O cheiro da fruta
Que não há,
Que a gulodice
Inventou…
Apenas o vento bate
Agora a janela
E eu.
















O reflexo


A lua, na água,
É a mesma lua,
Molhada.











Estou ficando paranoico
Ou teremos eleições
Sem candidatos
Que o valha?












Nascituro


Quando me vi
Desvestido de minha mãe
Percebi no choro
A alegria de estar vivo. 










Poema com endereço


A comemorar este momento
Nas lágrimas que vêm agora,
De emoção ou contentamento,
Outras por teres ido embora…








Conceda-me esta contradança?


Dancemos, menina,
Que o tempo é curto
Para lamentações…
Apenas guardemos o que valha a pena
Neste lixo todo de badulaques dos sonhos.
A valsa continua sendo a voz
A impor o ritmo de vidas…
Tempo vai, tempo vem,
Mudam-se os versos, as cadências
Neste ritmo forçado de nhem nhem nhem
Mas o tempo ritmado é sempre o mesmo,
Cadenciado em sentimento…
Conceda-me esta contradança
E vamos bailar os dias vindos…
















Leminski estava certo:
Não vem um dia atrás do outro,
Quando o amanhã estiver vindo
O hoje estará indo…









A gente diz que está tudo bem
Mas não está tudo bem,
Senão a alegria da despedida
Não doeria tanto…













Tem momento em que o momento esquenta
No momento em que o momento esfria…
Assim o tempo conta o tempo de poesia.












Por mais que eu caiba em mim
Sempre extravaso assim…










Metrô


Quando pego o trem
Para a Pinacoteca
A viagem parece curta
Mas alonga-se
Na poeticidade
Que me põe a viajar
Nos longes da arte…
















sábado, 21 de abril de 2018



O caminhar por essas ruas


O caminhar por essas ruas
Sem ter o que fazer
Além do tendo feito sempre…
Contando as pedras das calçadas,
Tropeçando nelas a cada instante
Nas faixas estendidas aos cegos,
Ter por eles a visão das cores
Nos sons das ruas…
Que tempo é este que me acompanha
O caminhar por essas ruas
Sem eira nem beira deste destino
Tosco e mofo de caminhar
Apenas pressentindo a dor
De cada passo…
















O caminhar pela manhã


O caminhar pela manhã
Tem de ter objetivo:
Banco, feira ou…
Improviso.
O caminhar pela manhã
Com imperioso o que fazer,
Além de caminhar…
O caminhar pela manhã
Como que à procura
De um objeto, lâmina, flor,
Ou um afeto!
Caminhar objetivos
Nessas manhãs de dívidas
E acertos, ou desacertos…
Desencontros de quem caminha
Pelos vazios da manhã.

















O que não existe
Faz parte da realidade…
Assim aprenda
Antes que seja tarde.










O que esperar de 2018?
Que erros da justiça
A tornem injustiça?















Se um dia
 A vida perguntou,
Não ouvi que queria
Saber a vida









Passa correndo
Na porta do metrô
Como quem corre
Do adeus…













Ei, você…


Ei você … Você… Você…
Todos que passam
E se desgastam
Em querer compreender
A mulher vender seus filhos
Para livra-los da fome prometida
Tentando que possam
Vencer na vida.
Você… Ei, vocês…
Vejam de perto o que
Vistes na Tv!






















Cada dia que passa
Somos outro…
O que fica, enfim,
Veio conosco…








A vida vai passando devagar,
Todos os dias têm 24 horas
Mas parecem alongar-se
Cada dia mais…

















Neste dia cheio de preguiça
Me ponho a pensar
Como é difícil a opção de levantar…










Se “fura bolo” matasse piolho
Que nojento seria lamber feridas
E destravar as cracas do olho…
















Sexta-feira
Cesta feita
Vamos à sesta…








Haicai sucinto
Não sai de mim
Enquanto bato
Assunto assim…
















Sonolento


Quero dormir…
Mas esta ideia de poema
Me chama, reclama,
Me cama…








Quando dói-te a cabeça
Até ao cuco calas a boca…
















Charneira


O espelho que ora me vê
Não me enxerga como eu.
Sei que esta dor não se mostra,
Que este labor se esconde
Nas barbas por fazer…
Charneira me mostra em rugas
Que não me sei,
Este cansaço de olheira
Faz-se inimigo da vida inteira
Que me põe a derreter.




















Constatação


A poesia que se inicia
Se irradia…










Ao pensar-me fazedor
De discorrer meu dia,
Não me descrevo nele,
Delineio em si o dia…

















Se a paz desse momento
Não lhe faz sentido
Socorra-te desse estorvo
Sem pensar-me aguerrido.
Que a paz esteja convosco
Se a guerra em “vosco” estiver.








Quantas palavras cabem
Num pensamento?

















Esta chuva, da grossa,
Grassa sobre roseiras
E despetala os pés
Dos meninos na poça.









Ideia mole em cabeça dura
Tanto bate até que burla…




Do outro lado do medo


Do outro lado do medo
Estão os sonhos perdidos,
Deixados enternecer…
Do outro lado do medo
Estão as viagens negadas,
Prorrogadas por fazer…
Do outro lado do medo
Estão os termos errados.
O tempo conta os erros,
Dia chegará em que
Te dirá segredos…

CONVIDO A VISITAR MINHA PÁGINA
COM VÍDEOS E TEXTOS. Disponíveis
No blog Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. Incógnita (Portugal) 
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores
E seus distribuidores.

sábado, 14 de abril de 2018



Uns vencem pela aparência,
Outros apesar dela…













A paz que nos governa



A paz que nos governa
Chega ao avesso,
Urrando suas forças
Entre crianças assustadas…
Fazendo voar as pombas
E esconderem-se os gatos…
A paz que nos governa
Expressa nessas togas
Ameaças veladas sobre
Madrugadas sombrias
Estendendo votos
E críticas aos devotos…
A paz que nos governa
Por nervosa expia.















Poderes


Se pudesse
Daria mais atenção
Às pequenas realidades
De meus sonhos…
Se pudesse,
Não voltar, mas refazer
Os momentos desfeitos
Pelo tempo…
Se pudesse
Sorriria aos meus medos
De ontem, anteontem,
Que o tempo esclareceu.
Mas não posso,
Além de lembrar a saudade,
Refazer cada passagem,
Então está na hora
De contentar-me
Em sorrir das situações
Chorosas de ontem.











Índole


Sou o predador!
O que faz campanhas de preservação
Enquanto devasso ao redor.
Sou o que admira
O canto dos passarinhos avoados
Mas os prendo engaiolados…
Me encanto com as cores das flores
Mas as decepo…
Sou o que fere, transgrede,
Regride ao estado troglodítico
Enquanto me vanglorio defensor!
Invejo o voo do pássaro,
A agilidade do peixe,
A beleza selvagem do felino,
Mas combato todos
Com minhas prisões sem grades,
Neste torvelinho.


CONVIDO A VISITAR MINHA PÁGINA
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Vives soçobrando
Sonhos de partir
Por medo de
Cada chegada…












Consciências intranquilas


As mentiras do passado
Se tornam verdade
Por falta de testemunha…








De mãos vazias


Coração carregado…
Se tiveres vivido cem anos,
É uma vida!
Mas,
Cada minuto é uma vida…
De mãos vazias
Através desses tempos
Vividos entre minutos
De espanto.
























A palavra
Que se desata ao vento
Mas permanece
No pensamento
Talvez explique o inexplicável
Momento da poesia
Tomando forma
Entre as ideias
Vestindo cada sentimento
Com luxuria ou santidade
Este momento.



















Por isso estamos aqui


Talvez o cheiro
Do café no bule
Ou do último perfume…
Por isso estamos aqui?
Entre a paz de ser
E a guerra de ter sido
Extremamente útil
À inutilidade em siso
Por isso estamos aqui,
Entre os soluços
Do mais recente choro
E o susto e o riso
De sobreaviso…
Estamos aqui por isso,
Que é o viver-se
Sem precaver-se
Do prejuízo.
















Daquela vida vinda
Olvidada por decerto
O silêncio emana
Só o eco…












Das mantras que me ensinaram
Uma afeta e me assombra:
Velha cantiga, que homens passam
E não deixam sombra.





sexta-feira, 13 de abril de 2018


Cicios


Anoitece em plena
Extensão do texto,
A cigarra cicia
Escondida,
Ao medo de ser vista
E pegada.
Anoitece a fala
Das meninas brincando
As cirandinhas…
Ante a paz advinda
Dessa espera
A cigarra, a medo
Se cala.





















Não se sabe quem
Está errado ou certo.
Mais certo é o incerto.









Gostar de pertinho
É a impertinência
Dos ausentes queridos…


















Segundo Paulo Coelho:
O amor é uma pergunta
Sem resposta.
Tenho outra visão disso:
O amor é uma resposta
Ao que não foi perguntado.








Uns vencem pela aparência,
Outros apesar dela…













A paz que nos governa



A paz que nos governa
Chega ao avesso,
Urrando suas forças
Entre crianças assustadas…
Fazendo voar as pombas
E esconderem-se os gatos…
A paz que nos governa
Expressa nessas togas
Ameaças veladas sobre
Madrugadas sombrias
Estendendo votos
E críticas aos devotos…
A paz que nos governa
Por nervosa expia.















Poderes


Se pudesse
Daria mais atenção
Às pequenas realidades
De meus sonhos…
Se pudesse,
Não voltar, mas refazer
Os momentos desfeitos
Pelo tempo…
Se pudesse
Sorriria aos meus medos
De ontem, anteontem,
Que o tempo esclareceu.
Mas não posso,
Além de lembrar a saudade,
Refazer cada passagem,
Então está na hora
De contentar-me
Em sorrir das situações
Chorosas de ontem.











Índole


Sou o predador!
O que faz campanhas de preservação
Enquanto devasso ao redor.
Sou o que admira
O canto dos passarinhos avoados
Mas os prendo engaiolados…
Me encanto com as cores das flores
Mas as decepo…
Sou o que fere, transgrede,
Regride ao estado troglodítico
Enquanto me vanglorio defensor!
Invejo o voo do pássaro,
A agilidade do peixe,
A beleza selvagem do felino,
Mas combato todos
Com minhas prisões sem grades,
Neste torvelinho.
















Vives soçobrando
Sonhos de partir
Por medo de
Cada chegada…












Consciências intranquilas


As mentiras do passado
Se tornam verdade
Por falta de testemunha…








De mãos vazias


Coração carregado…
Se tiveres vivido cem anos,
É uma vida!
Mas,
Cada minuto é uma vida…
De mãos vazias
Através desses tempos
Vividos entre minutos
De espanto.