domingo, 20 de maio de 2018


Da perspicácia


A chuva é perspicaz,
Mesmo depois que cai,
Corre atrás...
Atravessa bueiros,
Leva paredes, pega gente,
Lava, mói, põe na rua
Sem casa ou guarda-chuva,
Sem futuro leva a moldura
Desse passado sem mobília,
Sem o rádio que avisa
Da meteorologia...
Que a chuva vinha, vinha,
Desabando as paredes,
A fé, futuro e fibra.
A chuva é perspicaz,
Por isso capaz.







Todos os dias passados


Todos os dias assisto
Homem do lambe-lambe
Expondo sua persistência
Na praça da catedral...
Último retrato fotografado
Nesta caixa de saudades...
Penso no romantismo
Daquele tempo,
Que imaginava esquecido,
Quando passa ao largo
Com sua matraca
O beijuzeiro que tanto
Assanhava a gula.
Para quebrar a nostalgia
Um casal de noivos
Procura pelo lambe-lambe
Para registrar preto e branco
Este singular momento:
Uma foto recrudescendo
O tempo.



Eles sabem o caminho de casa


Esses meninos, vendendo-se
Em doces, mutretas e fósforos,
Nessa esquina desnutrida,
Sabem seu destino de hoje,
Amanhã inexiste na desesperança.
O sol se pondo marcará seu tempo
Nesse fim de vida em fim de tarde,
Que se mostra lúcido de sua pseudoliberdade de não ir nem vir
De lugar algum para lugar nenhum.
Esses meninos sendo vendidos,
Deixam-se vagar até mais tarde,
Sabem o caminho sem casa.
Se os deixar decidir por si o melhor para suas fomes aduaneiras
Serão uma vez ainda Senhores
De suas verdades...








Do momento mudo em mim
Tem alguém que fala
Da sorte de ter-me quieto
Se minha mente se cala...

Deste momento, mudo,
A voz se desprende e estala
No híbrido entendimento
Do silêncio lívido

Deste momento mudo
Saber o quanto exala
A flor plantada ontem,

Hoje flor murchada
Entre o susto emudecido
E a voz que se cala









Sempre comigo
Esta ideia tosca
De ter me perdido
Deserticamente
Entre as fases ricas
E os pensamentos.
Sempre comigo
A sensação de vivido
Cada momento
Desacontecido
No silêncio.
Sempre contigo
O poder da mente
De juntar laços
E elementos...











Ter a visão alerta ao ego
A distar-se de um cego
A mudez que te fala










Não há de haver
Esperança na sopa rala
Vertida da concha
Por mera caridade



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