quinta-feira, 14 de junho de 2018


esperanças vazias


O caminho está aberto...
É por aqui que me vou,
Levando a mala cheia
Das esperanças vazias...
O que ficou, ficou...
O que vivo hoje é legal
Mas nunca saberei
Se é melhor reviver
Ou esperar amanhecer
O novo avistado longe...
O caminho aberto
É o convite a percorrer
Sem medo, com cuidado,
A parte feia do abismo
Que viaja ao lado...








O caminho está aberto


Roçado,
Cuidado,
Varrido...
Da entrada ao postigo
O caminho está aberto,
O resto é contigo.

















Na praça


Onde as árvores descansam
Dorme um mendigo...
Enquanto o frio desfaz-se
Em folhas caídas
Da última quaresmeira
E um menino brinca no balanço
Umedecido pela névoa...
O inverno brinca no balanço,
Com este menino
E com a árvore nua assistindo
Entre pedras sobrepostas ao brejo
Apegado aos pés teimosos
Do pipoqueiro distraído...













Aqui se desfigura
O corpo acidentado
Enquanto saqueiam
A carga tombada.
Geme entre ferragens
O condutor lesado
Enquanto saqueiam
A carga tombada.
Como pode, SENHOR!
Tal insolvência do ser
Que seria humano,
Não fora tão odioso
Este ato de civilidade!
Som, pois selvagem
Assim não age sobre
O ser que parte.










É... Eu tenho essa paixão
Pelos sóis das manhãs,
Quando brilha o vermelho
Antes da luz plena levantar-se.
Talvez seja isso que me prove
Seja eu poeta, sendo homem.
A paisagem é o poema
Que se descortina em imagens,
Quando vem a neblina
Vejo neblinarem na grama branca
A vaca amojada, uma criança
Caminhando para a escola,
Sua mãe coando o chá pra tarde...
É... Eu tenho essa paixão
De ver entre paredes
O que de ti se esconde
E é quase nada a acrescentar
Ao cheiro do feno colhido ontem...








O tempo
Tomou a forma
Desses cabelos ralos,
Dessa face em rugas,
Desse cansaço acárpico
Das manhãs caminhadas
E as tardes dormidas...
Este sol de inverno convida.
Essas mãos ceadas
Dão-me vida, sonho ainda
A próxima partida.












Depois de tantos funerais


Depois de tantos funerais
A paisagem continua ilesa
Com seu verde ar florido
Desde antes de eu vir
A estar presente à mesa...
Depois de tantos funerais
As luzes continuam acesas,
Talvez mais que antes,
De quando ainda vivi
A apreciar sua beleza...
Depois de tantos funestos
Encontros dessa realeza
Posta de joelhos frente
À verdade da natureza









Escureceres


Quando escurece
O som da passarinhada
Trazendo grãos e moscas
À sua prole, me ilumina...
Acorda em mim o viajado,
Voltado ao ninho
Trazendo moscas pasmas
Nessa mochila abstrata...
Quando escurece
Preocupa-me a forma
De meus danos
Entre as manhãs dos ontens
E a grade derradeira
Dessa miragem.









Distorções


O que me abate
É ver essas crianças
Enxotadas dos portões
Com suas fomes
Enquanto “mãezinhas”
Carregam seus cãezinhos
Vestidos de meninos
A passear pela tarde...
Uns procurando lugar
Para defecar
O que recolhem,
Outros a procurar
O que se come!

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