segunda-feira, 18 de junho de 2018


Versões de vidas


“Quando eu morrer,
Não quero choro nem vela”
Nem uma fita amarela
Que penumbre o que fui!
Quando eu morrer
Respeitem essa vontade.
Na gaveta sepulcral
Tomarei o lugar do último sepultado,
Do qual as flores já secaram,
(E a memória)
Vou estar acompanhado
Pelos sacos de ossos, desterrados
Para dar lugar ao próximo.
Estarão ali, lado a lado,
Minha saudade e esquecimento,
A esta derrota para o tempo
Seremos solenemente ensacados.
O próximo que se cuide,
Virão com flores e rezas
Até que sejam murchados.



Olhando o céu de junho


Não há nada lá...
Mas há um mundo se movimentando
Além de nossos olhares...
Meteoros são condores
Sobre todas as montanhas imaginárias
Nesse céu de junho,
Entrada de inverno no cone sul
De nosso mundo...
O nosso mundo...
Que mundo seria este, partido
De uma galáxia... Em crescimento?
Talvez se desfazendo nos séculos...
Não há nada lá,
Entre as estrelas e o infinito
Fim de nossos olhares
Fortuitos.










Que bom seria se
Aprendêssemos a ouvir
Quando aprendemos
A falar...








A vida não é feita
De perguntas,
É feita de respostas.








Êxodos


Teu olhar,
Endurecido pelas vivências,
Faz a guerra
Sobre todos os momentos,
Assim a dor se perpetua.
Teus olhos lacrimados
Viajam aventuras
À procura do outro teu ser,
Adormecido.
Os passarinhos se vão ao verão,
Mas voltam.
Tu não,
Tu vais até a impossível volta,
A padecer os dias de derrota.
Anda,
Procura o que se perdeu
De ti nessas andanças...
A próxima ponte pode seja
Tua esperança.




Tina


A água jorra por esta encosta
E enche a tina por ali posta...
Que vasa, como sempre,
Desta despercebida abundância,
O que faz tua paz pequena
À procura d’outro cântaro
É deixar para trás a semente
Dessa extravagância.
A tina, ao extravasar da água,
Encima a mágoa que queres tolher
À expressão do nada.















O que procuras já foi,
Por ti vivido inconscientemente,
Mesmo que não te apercebas
Já passaste por este memento.







O tempo se espreme,
Em horas esperadas
Um dia traz o outro,
Conforma-se manada...








As cores das raças


A cor não é raça.
O sol do poente desenha
Em cada face uma identidade,
Em cada latitude uma atitude,
E a longitude planeja
Circundar o mundo
De desgraças...
A cor não é raça,
A música faz sua graça
No que vem e passa...
Navios negreiros continuam
Cruzando mares
Entre séculos de caminhada
E a proibição de morada
Para quem atraca...
A cor não é raça!
A migração estelar
Será sua próxima
Farsa.




Oratório


Hoje
Esteve cá um pregador
A dizer as coisas proibidas
Pelo tom de sua bíblia.
O Senhor nos deu a livre escolha?
Até de interpretar o mandamento,
Onde tudo é permitido
Segundo cada consciência e siso...
Já dizia Pessoa:
“Tudo vale a pena
se a alma não é pequena”
então vale a pena ter vivido,
até para saber o erro irrefletido!
Ou o sal da terra será medido
A cada passo concebido.








Refreios


Nesta hora
O dia repousa no silêncio
Das facas...
O menino crescido grunhe
E se afasta,
Animal ferido
Pela própria desgraça.
O dia repousa sob louros,
Venceu o homem do tesouro,
Aplacou a dor do desgraçado...
A mãe, parindo a novidade
De um novo bandido,
Sem alarde...
O dia repousa nessa lousa
Onde se marca dia e hora
De cada derrota...
Volto a conferir que talvez
Seja melhor nunca do que tarde
Já que se sagrou o nascituro
E o idoso ferve em febre.
Sufoca sua dor e parte...


Visório


De onde estou
Estou olhando a música
Desse mar...
Descobri nas leituras
Que posso ver a música
No silêncio das vozes,
É só fixar os olhos
Na planura dessas ondas
Para ver sua rebentação
Sonora...
Violinos fazem olhos lacrimar
Quando estar a vê-los
Pode se materializar...
De onde estou
Estou olhando a música
Desse mar...







Chávenas em saudade


Surpreende
Como as coisas entardecem
Antes...
Desde a cafeteira com coador
À máquina de escrever,
Guardados com discrição
Entre bibelôs e chávenas...
Perde o brilho o verniz
Da porta da rua e do olhar
Da velha senhora,
Ao mesmo tempo... 
Entardecem junto coisas
Em desuso
Como este seu olhar
Profundo...








Conciliarmente


Tentemos conciliar
Nossos pensares
Com nossos atos...
Materializar planejamentos
Sem olhar derrotas...
Ir em frente, depois da página
Desenhada limpa num papel
De sedas...
Solidifica-los com material
Durável ao tempo
Derrotado...
Tentemos!
Por favor, tentemos mais
Que a teoria, que, sabe-se,
Na prática será outra:
“daqui se olha, de lá se vê”
Quantas vezes esta verdade
Nos bate à consciência
De nos viver?

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