quinta-feira, 26 de julho de 2018


Um féretro de cada vez,
A senhora veste preto,
Mais uma vez chora
Sua eterna viuvez...




A eternidade para a flor
É verdade adstrita,
Desde sempre a vejo
Constantemente florida...






O amor a si se basta,
Diurnamente,
Noturnamente
Vive em sua graça...



Diabetes

Quanto baste de emoções
Para tornar o tempo
Dono das estações...



Nascido da argila?

Talvez seja feita a vida
Entre coaxos de alevinos
E choros de liberdade,
Cada vida uma verdade...





Se a eternidade ronda
Este momento, reza
Para que não cesse
Em arrependimento...


Extroversos    publicado
Eu me destino.
Tu te destinas.
Assim nos destinamos
A ser o que somos,
Sem culpa ou desculpa,
Pelo fim amoroso ou oneroso
A que nos desaguamos
Como rios extroversos.
De nossos contornos e adornos
Pedras nos guiam e desviam,
Ou trombamos nelas
Em nossa corredeira
Até o grande mar
Ou navegamos através
Saltos e barrancos...
A saltar
Frêmitos

Chegamos
Às implicações do tempo,
Que remontam aos primeiros andamentos. Caminhar
Foi meu primeiro intento,
Depois a fala,
Antes do entendimento...
Deveria ter aprendido
Ouvir a esse tempo, meu choro
De manha ou fome ou sono ou caca...
Deveria ter sabido resmungar
Em silêncio cada mágoa...
Poderia ter poupado ao tempo
Esse frêmito pela carga
De cada momento...


Chegamos ao sétimo dia da criação.
Descansa Senhor, sua criatura
Já se fez vil, como não previas...






Se já estive só,
Passou despercebido...
Pensando momentos assim
Fito minhas horas
De estar comigo...

Espelhamento

Nas funduras do pisado
A luz se movimenta,
Lava as folhas e as almas
Dos pisantes nesta calma
Entre azuis brilhantes
Dos seixos soltos,
Onde peixinhos ciscam
Borboletas caídas...
Este lago límpido
Pode seja o céu de antes
Ou o reflexo d’outro céu,
Visto na fundura pisada
A cada instante, que,
Em pouco o sol desmonte
Em sombras.


O comando das emoções
Se perde quando vibram
As carcaças do plano chão.




1946/2018

Chegou-me esta idade
Mas me surpreendo
Aprendendo cada passo
Trôpego pela calçada...


Transitoriedades

Tudo muda
Com o tempo revisitado...
Das faces vívidas do passado
Às faces mornas do hoje...
Mudanças sutis expostas
Das entranhas cansadas,
Das mentes cansadas,
Das presenças cansadas.
Voltando à vila de antes
Descubro-me assustado
Forasteiro transitório
Nessas aplacadas pegadas
Pelo chão sendo pisado...




São ações agora apagadas
Num extinto encavado
Trilho de passos dados
Nos antes desses encravos...
Assusta-me a transitoriedade
De portas fechadas
Ao visionário que vivi
Em tempos descravados
Nas cascas dos tamburis,
Tudo me vê mudado...
Verdades que a vida repassa
Por aqui.



Choramingas

O choro
De em criança
Tem um sentido
De manha...
O mesmo choro
Na meia idade
Tem um jeito
De saudade...
Entre esses tempos
De vida o choro
Tem a chegada
Ou a partida...





O que seria
De nós sem os nós?







Quando morrer inda terá vida
Pois o corpo que morre em ti
Tem a alma renascida...



Águas passadas

Águas passadas
Movem moinhos!
O tempo não tira
O gosto pela palavra,
O grito da veemência
Maturada...
Águas pausadas
Na mesma inhaca
Com margens floridas
Na podridão...
Águas empossadas
Sustem os passos
Na mansidão,




Lentos
Em mesma direção,
Embora distantes
Respirem vida
Entre taboas
E margaridas,
Estranho poder
De sorrir chorando,
Juntando saudade
E esperança na espera
Do amanhã, ainda hoje,
Agora, ontem,
Descambados
Na evasão.



A escória do tempo rivaliza.
Com o brilho do sol nascente
As mesmas sombras
Se desfazem em cores vivas,
O canto do galo se anuncia,
O frêmito das folhas
E dos pios acordados...
E recomeça no clarão
do mesmo dia
D’onde deixou sombrear
No fim de ontem
A outra tarde...



Há de se perguntar

O que é feito
Das senhorinhas frágeis
De um tempo
De coloridas sombrinhas
Segurando o sol forte
Em suas mangas largas
E frases feitas ao agrado?
Aquele jeito singelo
De serem belas
Com as saias nas canelas...
Há de se perguntar
Nesta atual estreita era víbora
De parecerem homens
Meninas irritadas
Em seus modos rudes gestos?
A gritar alguma ordem nova
Que as mostram feministas,
Mais que femininas,
A abrir seus foles de revolta...
Não que se as queira frágeis,
Mas não lhes veste bem
Essa rudeza intrínseca de machos

sábado, 21 de julho de 2018




Quando a saudade bate









CONVIDO A VISITAR MINHA PÁGINA
COM VÍDEOS E TEXTOS. Disponíveis
No blog Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. Incógnita (Portugal) Amazon Kindle, Creatspace
Perse, Clube de Autores
E seus distribuidores.






Inquietudes
Quando
a saudade bate
A alma apanha...



ÀS VEZES A CASA CAI...
MAS, COMO CAI
SE LEVANTA...





Um féretro de cada vez,
A senhora veste preto,
Mais uma vez chora
Sua eterna viuvez...




A eternidade para a flor
É verdade adstrita,
Desde sempre a vejo
Constantemente florida...






O amor a si se basta,
Diurnamente,
Noturnamente
Vive em sua graça...



Diabetes

Quanto baste de emoções,
Para tornar o tempo
Dono das estações...



Nascido da argila?

Talvez seja feita a vida
Entre coaxos de alevinos
E choros de liberdade,
Cada vida uma verdade...





Se a eternidade ronda
Este momento, reza
Para que não cesse
Em arrependimento...


Extroversos
Eu me destino.
Tu te destinas.
Assim nos destinamos
A ser o que somos,
Sem culpa ou desculpa,
Pelo fim amoroso ou oneroso
A que nos desaguamos
Como rios extroversos.
De nossos contornos e adornos
Pedras nos guiam e desviam,
Ou trombamos nelas
Em nossa corredeira
Até o grande mar
Ou navegamos através
Saltos e barrancos...
A saltar

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No blog Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. Incógnita (Portugal) Amazon Kindle, Creatspace
Perse, Clube de Autores
E seus distribuidores.

Frêmitos

Chegamos
Às implicações do tempo,
Que remontam aos primeiros andamentos. Caminhar
Foi meu primeiro intento,
Depois a fala,
Antes do entendimento...
Deveria ter aprendido
Ouvir a esse tempo, meu choro
De manha ou fome ou sono ou caca...
Deveria ter sabido resmungar
Em silêncio cada mágoa...
Poderia ter poupado ao tempo
Esse frêmito pela carga
De cada momento...


Chegamos ao sétimo dia da criação.
Descansa Senhor, sua criatura
Já se fez vil, como não previas...






Se já estive só,
Passou despercebido...
Pensando momentos assim
Fito minhas horas
De estar comigo...



Nas funduras do pisado
A luz se movimenta,
Lava as folhas e as almas
Dos pisantes nesta calma
Entre azuis brilhantes
Das seixos soltos,
Onde peixinhos ciscam
Borboletas caídas...
Este lago límpido
Pode seja o céu de antes
Ou o reflexo d’outro céu,
Visto na fundura pisada
A cada instante, que,
em pouco o sol desmonte
Em sombras

sábado, 7 de julho de 2018





Quando fomos iguais?
Faz tanto tempo
Que passou a ser mais...










Tive uma esperança
À minha espera
Que foi desvanecendo
Na vivida dor de chegar...






O inverso do universo


Há tempos meu universo
Estava restrito às distâncias
Que me era passível visualizar...
Depois o mundo me parecia universal,
A terra e seus habitantes, sozinhos
Nessa constelação estrelada...
Depois meu universo todo, inteiro,
Resumiu-se à identidade que me vive.
Passado o tempo o universo
É o inverso do que eu via...
O conjunto de quanto existe,
Indiferente à minha ignorância
De senti-los na vivência
Se resume
À minha presença nessa teia
De incompreensíveis idades
Paralelas, onde cada um é
Seu próprio universo
Nela.







A acentuação,
Às vezes não importa.
A tarde estará sempre
Esperando superar as vírgulas
De um dia todo revivido...








Atado aos valores da vida
Carregas teu pesado fardo
Só dei idas...










Penduro
Minhas meias e ideais
No mesmo varal
Suspenso em varas
Aos sóis dos dias...
Perdendo pares
Sei-me descartado
Como meias e ideias,
Minhas feridas...














Estigmas


A princípio
Não falaria sobre a morte,
Mas ela faz parte
Da vida...
Esta espera angustia
Os dias do enfermo
E estigmatiza
O tempo relevante
Nessa cadeira de balanço
No avarandado,
Sobre as águas correntes
Lá embaixo
A vista assoberbada
Espia o alto monte
E não se vê em partes...
Apenas a morte sacraliza
Este momento
De vida...





Quando partires


Quando partires
Deixa comigo a saudade
Por não ter ido...
Quando partires
Leva contigo
A minha fronte antiga...
A que lacrimeja tua partida.
Quando partires
Deixa comigo
O teu último sorriso,
Leva meu pesar de amigo.
Deixaste teu pijama puído,
Levaste o colchão vivido,
Inda o lençol amassado
Faz tua presença ativa
Entre os broches e saliva
Quando partires
Leva contigo
A sorte de ter-te amado
Entre as mutações do siso.






Se partires
Não olhes para trás,
Pois a memória
Que terás levado
Será da flor florindo,
Não do verão acabado
Em fortuitos...
Se ainda fores
Quando partires
Terei tua identidade
Entre nossos possuídos
De saudades
Nos copos lavados
E nos corpos desvestidos...
Quando partires
Quando partires
Que a paz te acompanhe.
A dor ficará comigo,
Por teres ido.





Em marços


Em março meu aniversário
Propondo novas guias...
Em abril envelheço mais
Decidido reviver os anos...
Em maio sinto calafrios
À espera do inverno frio...
Em junho cubro-me,
Que o tempo me faz frio.
Em julho aqueço-me
Na ilusão de sobrevidas.
Em agosto as folhas caem,
Com elas me ânimo vivo.
Os cachorros ficavam loucos,
Agora passeiam suas donas
Desapercebidamente
Pelas folhas secas...
Passo os meses seguintes
Esperando o próximo março,
Vindo dos longes de mim...






Em dezembro vislumbro
O novo ano, não o meu, de março,
O de todos, na convenção firmada
Entre louvores e cantigas...
Em janeiro
Iludo-me com o novo ano vindo
Na repetição de todos os outros...
Talvez mais cansativo
Para meus sonhos
Exaustos da batalha...
Mas em meio a tudo isso
De cruzar dados e perceber
Que nada muda com meses contados
Esfrio os ânimos de seguir...
Paro, reflito, sigo?
Que voltar seria desperdício.
Sigo carangueijamente, de lado,
Ao mando de meu cansaço
Por ter vivido.




INDECISÕES


Paro.
Como quem quer ir adiante
Paro no último instante.
Medito... Sonho... Respiro...
O dia se repete insistentemente
Na previsão de sempre.
Paro!
Coleciono desfavores
Como quem caminha ao cepo.
Sei-me ainda insatisfeito
Com o dia feito.
Feito obra e refeito acabado conceito.
Paro
Entre as horas do relógio,
Estaciono entre dois atos
Desato o choro que vinha guardando
Desde perdido o ranho
Da última adolescência,
Ind’ontem.







Paro
Na indecisão do próximo horário,
Procuro a precisão dos ponteiros
E
Vejo-me do outro lado,
O lado pioneiro.
Agora sim recomeço,
Meço
Do primeiro eito,
O mesmo que perdera,
Insatisfeito
Paro!











Engaiado


Ouço o tilintar do guiador,
Nesta barafunda
A alma se salva, imune.
Todas as vozes se confundem,
Confunde a mim a minha voz
Soturna...
Ouço a toada que desconheço,
Fé no inusitado recomeça,
Aqui somamos vitórias
E derrotas...
Um tempo ido aos idos
Da memória...
É o tempo vencido em mim,
A voz que chega
Sem ter ido embora?
Enfim,
A voz chegando,
De alguém que foi embora
Ao tilintar do marroeiro
Guiador que engaias
Em tempo eiro...

domingo, 1 de julho de 2018


Concepções


Poderia
Se conceber uma teoria
Mesclando o ascendente macaco
Ao barro que se fez homem?
Talvez explicasse tantas
Metáforas por aqui afora...
Levamos milhões de anos
Para ganhar em inteligência
E perder em força bruta...
Olhando certas ações “humanas”
É de se pensar sobre
Esta perda de brutalidade...
Consequentemente pensando-se
Capazes os humanos
Inda se matam!








Elas vão e vêm


Voam mariposas,
Ornadas de cores e vontades
Depois de não serem mais
Lagartas.
Elas vão e vêm
E não olham pros lados,
Bem à vontade
Em suas vaidades...


















A espera cansativa
Lembra relógios antigos
Pingando minutos...








A maior parte dos viventes
Descobre que a vida é curta
Só quando ela está a se acabar









Esses rosários antigos


Pendurados atrás das portas
Revivem todas as derrotas...
Chamam para si rezas mansas,
Dessas das Virgens Marias,
Que tanto bem fazem às rezadeiras...
Esses rosários, gastos de novenas,
Esses dedos, sujos de mangabas,
Dessas senhorinhas benfazejas
Entre suas lamúrias e mágoas...
Esses rosários confessionais
Trazem todos os pecados
Das meninas tentadoras
E seus anais...
Talvez eu seja lembrado
Por esses versos desairados...
Que assim seja. Assim será,
Que canto o que a alma deseja.
Enfim, canto o que me seja...
Ao Deus dará...




Aspirações


Os sonhos têm barreiras
Quase intransponíveis...
Talvez por serem sonhados
Acima dos impossíveis.
Vejo esta criança e sua espada
Sonhando ser D’Artagnam,
Mas os mosqueteiros
Se esfalfavam entre ações
De esgrima e fantasmas...
Talvez se o menino sonhasse
Ser como seu pai herói,
Um sonho mais palpável,
Quebrasse essa barreira
Interminável... De dar dó.












O que me maravilha
Depois da chuva
É o verniz que expõe
Nas folhas velhas...









O modo mais seguro
De caminhar na vida
É um pé depois do outro,
Em qualquer circunstância...









Confrontado
Com sua imensa biblioteca
O ledor assíduo diz:
- Daqui só não li o dicionário.
Completando:
É pena que agora a única
Leitura dos novos aqui
É o dicionário...















A menos que


A menos que
Doa até sangrar
Não dou um passo
Além da vírgula...
A menos que
Esqueça a forma
De continuar
Não resfolego...
A menos que
Termine o verso
Interrogando,
Sossego
Pois o poema
Acabado está
Quando a ideia
Se desnudar
Em reticências
E não sobrar nada
Para salientar
As sobras
Dessa paciência...





Para os dias da idade
Devemos sorrir enquanto
Não se faça tarde...





















Sobre poetas e cavalos


Amáveis, mas indomáveis,
O Poeta e seu cavalo,
Um arcabouço pensado
Para limitar-se ao pouso
E do voo alimentar-se.
Sente os espaços mas sabe
Até onde irá seu passo.
Sente a beleza do salto
Mas conhece sua lhaneza:
A própria, inerte beleza
Do saber-se aprisionado
E contentar-se de sonhos,
Maravilhar-se de achados...
O poeta e seu vocábulo,
O cavalo e seu pedaço
De terra, mas nas alturas
Da brisa...

Hilda Hilst