quinta-feira, 29 de junho de 2017

Os dias de viver


Os dias de viver
São como aqueles bolos
De casamentos…
Os glacês em branco e rosa,
Intercalados na cobertura
De uma massa macia,
Cheirando a pão de ló,
Assim como nossos dias,
Branco e rosa…
Rosa e branco…
Intercalados num doce
De atritar a alma
Igual o açúcar, os dentes
Branco e rosa… Branco…
Dos dias que nos são
Ofertados, doce amargos.











A festejar-se


Sabendo,
De algumas pessoas,
Que não têm festa,
Ou motivo para,
Me convenço de que
As cores têm limitações,
Subestimando uns,
Sobrestimando outros,
Nessa luxuria do tempo
De festas, natalinas,
Carnavalescas, efemérides
Das quais algumas pessoas
Não alcançam nem pensar
Como seria tê-las.













Novedios


Nesses tempos novedios,
O pinhão fervendo na panela,
Que a criança curiosa
Não sabe o que seja,
Informada das mensagens
Intermetidas de seu tempo,
Excluindo tais coisas simples,
Como pinhão cozido
No frio da manhã de hoje…
Como feijão batido de vara…
A espera pelo gelo nos beirais…
O chocolate quente
E mesmo o leite tirado na hora,
Só conhecem o de caixinha,
Não ligando a vaca
Sua história. 











Meninos deletreados



Eu bebi dessa água
Que agora bebes…
Comi desse amargo
Que agora engoles…
Portanto, deletreados,
Nos veremos amanhã
Como iguais,
Não agora, que já corri
Todas as raias
E me embebi de derrotas
E algumas vitórias…
Antes mesmo que tu
Sonhasse acordar teu ego
Entre as coisas vazias
Que emprego.











O que se passa?


Com essa gente que passa?
Com essa gente que fica?
Com essa gente faminta?
Com esses gatos pardos?
Com esses cães ladrados?
O que se passa
Com essas cabeças vazias
Pensando-se pensadas?
O que se passa
Com esses que roubam
De todos a indigência
Preparada solta nos cais?
O que se passa a esses
Que navegam águas turvas
Em terras secas?
Secarão suas falas vazias
Em torno de si mesmos,
Visto que não mais haverá
Atenção à sua palavra…
Que passa.

CONVIDO-OS A VISITAR 





Os olhos são os primeiros
A se despedirem dos outros.
Depois o abraço,
As mãos se dando,
Depois se abanando…
Por fim os olhos novamente
Lacrimando adeuses







A chuva de um tempo
Deve ser como de hoje,
Mas era diferente.








A delação,
Nem sempre premiada,
As comadres nas janelas
Sabem de tudo,
Vendem verdades e inverdades,
Mesmo as inventadas,
Com menos custo
Ao erário








A solidão
Não é estar só,
Mas estar em tantos
Olhares vazios…





A gente corria
Sob a chuva,
Chutando ela
Em estado de poça,
Bebendo ela
Pingando da testa,
Voltando sãos e salvos
A enxugar as alegrias
Molhadas de prazer…
Lavadas as almas.














A hora é esta


Talvez eu tenha
Me perdido nos aconchegos,
Que o canto pode seja dor,
O riso pode seja de nervoso,
Mas nas alegrias tardias
Desse bardo, o canto
Tem a ver com isto
De rir ou chorar
Ao entristecer do siso.
A hora é esta, a mesma de ontem
Com um tanto mais cansaço
Pelo vivido.








Recado


Amanheces
Teu canto de aurora
Tardiamente…
Já passa o meio do dia
De teus dias lentos,
O cansaço muda teus gestos.
Tardas responder, pela dor.
Talvez não devesses partir só,
Agora que teu remo está peado
Porque enfraqueceste os nervos
E a câimbra toma-te os gestos
E mal te aconselha,
Pois andas puxando as pernas,
E os pensamentos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário