Provinciano
A graça da vida provinciana
Está em passar tranquilo pela calçada
Sem ter de prever se aquele moço
Encostado na parede está espreitando
Sua fragilidade para rendê-lo...
A graça está em ir a pé ao mercado,
Ao banco, ao dentista, à escola...
Ao alcance de cem passos,
Sem o tempo a açoda-lo...
O tempo é feito de imaginações,
Acontecendo ou não,
A graça está em tê-lo pensado
Antes possível ser concluído,
Seja uma viagem, um encontro,
Uma pessoa impossível, um lugar...
A graça está em imaginar tudo isso,
Desfeito em fatos? Que importa?
Ter o prazer de tê-lo pensado
Sem culpa ou motivo...
A graça está em cruzar o rio a nado,
E voltar carregado?
Seguir rodando para o mesmo lado...
A graça em subir a montanha,
Descer aguadas,
Cumprir e descumprir jornadas...
A graça em poder tudo isso,
Mas,
Sentar na cadeira no avarandado
E não fazer nada disso,
Deixando o tempo passar lento
E não se arrepender pelo perdido.
Conciliamentos
É possível
Que a pessoa termine a vida
Sem ter vivido...
Outras vivem em cinco minutos
Todo o tempo de viver-se...
Seria possível
Conciliar esses elementos
Sem ferir sentimentos?
Caminheiros
Segundo dizem,
Todos que morrem
Sobem um degrau.
Seja na altura que estiver,
Não é possível retroceder
Ao caos...
Olhares
Quando perguntamos
Sobre a saúde de alguém
Talvez estejamos
Querendo saber
Se está melhor ou pior
Que nós
Com essa trinca de azes
No jogo de viver-se...
Nenhum comentário:
Postar um comentário