Ditos-cujos
Poemas
Ditos-cujos
Agora,
Que alguns se foram,
Acendo a indignação
Pelos atrasos de tornar
A vê-los...
Agarro-me ao escuro
Que a página em branco
Me administra saber
E
Me posiciono a
reconhecer
Os que passaram
incólumes
Dos que ficaram
ladeados
Ao sentimento de ser
Que me abrange no todo
E me expõe ao erro
Acertando minha
consciência
Como um soco no queixo.
Viajamos juntos
Nessa viagem infinda
De conhecer valores,
Inda que trôpegos,
Canhestros,
Válidos para validar
Nossos interesses,
Nossos defeitos
menores,
Cada um
Com seu cada
Jeito.
Pode ser que sejamos
Hipócritas
Mas bem-intencionados
Reviramos nossos baús
De passados...
Quantas manias...
Quantas letargias
Empenhadas,
As víboras
Sendo víboras
Disfarçadas...
Quantas benesses
Deixamos de usufruir,
Por companheirismo?
Talvez pela ousadia
De sermos
Tímidos...
Cruzamos
As porteiras proibidas,
Jogamos malhas
E malmequeres...
E nos tocamos aqui
Numa intensa
Hegemonia de valores,
Desvalores?
Enquanto a vida
Esgarça
Somos induzidos a saber
Onde erramos
E seus porquês.
Intuídos nos
dispersamos
Em remotas direções,
Perdidas
Nos aconchegos
Da boa vontade,
Mesmo que erradamente
Caminhamos
Para essa finalização
De passados.
Esses dias
Foram de orgias
E apedrejos
Mas esse dia
Termina
Logo cedo
Entre as planuras
Da vida adulta
E
Os insultos
Da juventude
Esgarçada em erros...
Esmail partiu
Inda cedo
À procura da fonte
De seus degredos...
Beto se indispôs
Com a própria vida
E se fez mártir
De sua derrota,
Tantas vezes vista
E procurada
Ser corrigia
Nessa ordem...
Outros se dispuseram
Viajar sem rumo
E foram-se adurindo
Ente premissas
E respostas
De ficar rico de
dinheiros
E tão pobres de nivelo
Entre o certo e o errado
Em cada gesto...
Pessoas são anjos
A pequena distância
Se sobrevierem.
Ainda passo
Num bar sujo
A ver se lá estão
Nossos passados...
Mas não,
Banquetas vazias
Me desanimam
De procurar
Companhia
Na sujidade do lugar,
Que parecia limpo
E asseado
Quando isso não valia
Mais.
Atravessando a rua
Ainda podemos assistir
Numa vitrine a Tevê
Nos condenando
A incapazes
Com suas fake News
Descaradamente
Anunciadas verdades
De cada vertente...
Ainda bem que
Não éramos letrados
Para entender recados
Analógicos
Das paradas verbais
Que impunham
Detratores
Como oficiais de zelo.
Deram-nos
Refrigerantes
Para ouvirmos
Palestras
Em silêncio,
Qual o que...
Nos digladiamos
Contra aquelas
“Verdades”
De graça pudemos
Tomar os refris
E discordar
Em silêncio,
Calados pela sede
De beber o líquido
E cuspir palavras
Que diziam
Nadas.
Meninos e anjos
Não estão prontos,
Cunhados fracos
Irão acrescentar
Seus valores
Ao fabrico deles
Antes da perfeição
Das ideias formadas,
Aí é o momento
Em que anjos e meninos
Viram lúcifer
Na lucidez dos fatos
Decorados prontos
Nas cabeças
Desordenadas...
Meninos anjos
Se desfazem no banho...
A pressão holística
Parece ser tardia
Quando nos alcança
Em plena letargia...
Os muros descascados
Resistem aqui
Entre heras e formigas,
Rebatizando mentes
De vinda e ida
À procura de uma
verdade
Consumida...
Quem sabe agora
Desviemos nossa
história
Para novos horizontes,
Mesmo que embaçados
Nas verdades
conseguidas
A ferro em fogo
Em nossas partidas...
Parece que somos
As escarradeiras
Daquelas salas
Desde a invasão
Nos casarões ornados
De meninas moças
E velhos senhores,
Carcomidos pelo sonho
Perdido nas viagens...
Mas nos sentimos
Cristais em
cristaleiras,
Frágeis,
Sujeitos a serem
quebrados
Pelas verdades
escondidas,
Quando encontradas
Nas velhas salas
Dos casarões desse
passado
Entre escravizados
E alforriados pela
verdade.
Encarnações de
escravos,
Desde Roma à África,
Levados de seus sonhos
A viverem pesadelos,
São esperados ainda,
Dóceis? Manietados!
Agora que jovens
escravos
Reivindicam direitos,
O quinhão a ser
dividido
Meio a meio?
Talvez uma parte maior
Ao que antes veio...
Preso entre paredes
Desse túmulo enfeitado
Há de se ver o passado
Com a vergonha
De não ter passado!
Quantas verdades
Insistem em ser
Escondidas
Nas franjas?
Quanta deselegância
Habita essa elegância
De ternos e gravatas
Em reuniões fajutas,
Que querem decidir
Quando o fim da luta?
Esses sussurros
Entre cadeiras elegidas
Faz tremer a raiva
Incontida...
Somos mais velhos
agora,
Seguramente informados
Dessa barbárie...
São ouros nomes
Para as mesmas faces
Energúmenas,
Capazes de produzir
Mentirosas verdades...
Os olhares dos gatos
Que se lambem
Nos ermos da sala
Denotam o quanto
Não confiam nesses
Que esbravejam
Quando falam
Cuspindo goela abaixo
Suas parições de fatos,
Boatos desavergonhados
De serem boatos...
Na rua
Velhos amigos passam,
Mesmo que estejam
mortos,
Partidos em saudades...
Viram as cabeças
E negam viver outra vez
O mesmo ego
De quando transitavam
Corpo e alma
Sob o cassetete do guarda
Exponde ideias novas,
Mesmo que erradas...
Velhos amigos passam
Pela memória os fatos
Aqui destrinchados
Em velhos sonhos
Desfeitos n’agua...
Agora jovens da vez
Marcam seu território
Com o mijo da
insensatez
Em cada poste...
Deixem passar essas
presas
De novas promessas
Vazias...
Deixem viver outra vez
Esse sonho em poesia...
Que todos têm de ter
Sua chance de
conhecer-se
A cada avaria...
O velho gato pergunta
Se reconheço as
paredes...
Não sei responder,
Elas estão pichadas
Com os desvãos da vez.
Desmemoria
É uma desculpa para
Pensar que se engana
O futuro
Apagando o passado,
Mas ele está nas
cabeças
Pendurado em cada
mente...
E se faz presente!
Por substância
A experiência discursa
Suas passagens na luta
Que foi a
sobrevivência...
Sobrevivemos?
Ou apenas nos
conservamos
No formol da vivência?
Por sua vez os de agora
Meninam suas vontades
Na impaciência.
O velho gato dorme
Entre papéis de
notícias
Sobre cada fome...
Houve um tempo em que
Rastejamos semeaduras
E deixamos de colher,
Por podres, tempo
depois...
Lembra, menino da vez,
O que te fez e desfez?
As paredes são túmulos
Das verdades históricas
Deixadas esmaecer
Nessa pobreza
memoriada...
O que será deles agora,
Velho gato...
O que poderá ser deles,
Gatovelho?
A mão que alisa o prato?
Poema do desconsolo 28/01/2020
(Em Paris, o campo da
vergonha migrantes sobrevivem em uma onda de indiferença)
Existem inúmeras
tendas,
Coladas umas às
outras,
De todos os
tamanhos e cores,
Lotadas entre três
e oito pessoas.
São hazaras,
essa minoria xiita
Que é o alvo
favorito dos talibãs,
Que os torturam
ou decapitam.
Eles
atravessaram o Irã, Turquia, atravessaram o Mediterrâneo
Em um barco
"muito usado",
Onde dez pessoas
morreram...
O chão lamacento
cruza
Como um ato de
equilíbrio.
Cobertores,
lonas, tapetes,
Sacos de dormir
de alguma forma
Se retêm do
deslizamento.
A lama que os
cobre
Não incomoda
mais
Os adolescentes
Que circulam em
sandálias,
Sem meias.
Ao pé do muro
baixo
Que corre ao
longo
Da rampa para o
anel viário,
Um monte de
lixo,
A mais de 350
metros;
Montanhas de
roupas usadas,
Muito úmidas, o inverno
As impede de
secar.
Cerca de 2.000
migrantes
Sobrevivem neste
lixo gigante,
Uma favela a 3
km do Sacré-Coeur.
Afegãos,
sudaneses, eritreus,
Somalis e,
recentemente,
Iranianos e
kuwaitianos.
Ao cair da
noite, um exército
De ratos dobra
essa população.
As pequenas
cabanas,
Consertadas com
pedaços
De chapas e compensados
Oferecidos pelos
ciganos,
Alinham-se na
parte
Superior do campo.
São cerca de
sessenta,
A maioria delas
decoradas
Com cuidados ao
movimento:
No chão,
linóleo,
Azulejos enferrujados
E poltronas
estripadas;
Um balde ou
bacia de água;
Um fogão. Prateleiras
deterioradas carregam as necessidades básicas
Do banheiro e
escassas provisões,
Velas acendem um
pedaço de vidro frequentemente quebrado,
Um espelho
improvisado.
A cama: uma
tábua de madeira
E um colchão de
espuma
Encharcado, onde
duas, três
Pessoas se
amontoam.
A fé persistente:
"O Senhor é
meu pastor,
Não me faltará nada.
”
"Deus nos
leva adiante
Tanto nos dias bons
Quanto nos
ruins"
Gravado numa parede...
Extraído de um jornal
Cujos ditos
Do silêncio
Se extrai palavras...
Se boas ou más
Depende da compreensão
De cada ouvinte...
Até aos que não diz
Nada...
A vida como ocorre:
Do medo do que fica
À calma do que morre...
Motivos que entristecem:
Ser lembrado por “havedores”
E esquecido por devedores...
Empretecimentos
Já sem saber caminhos
Percorri-os cegamente
Entre paredes empretecidas
E janelas embaçadas...
Percebi depois
Que eu é que deveria
Limpa-las
Para ver o outro lado
Dessa paisagem oferecida...
Agora viajo nessa ideia
De que tudo pode ser visto
D’outro jeito,
Menos agressivo...
Cortei árvores centenárias,
Sacrifiquei animais à faca
Para alimentar-me...
Agora sei-me vencido
Pelas manadas...
Treliças
Entrelaçadas visuais
Deixam passar ar livre
Dos efeitos dos vendavais
Sobre as cabeças altas
E as mentes desbocadas...
Aqui somamos nossos ais
Em defesa de quetais,
Arbóreos pendem
Mas não quebram,
Pensos resistem mais...
Eu disse adeus de novo
Eu disse adeus de novo...
Não percorra meus pensamentos,
Que se alongam em frases
Desconexas...
Somos desiguais nas ofertas,
Somo igualdades dispersas
Nesses pensares frios
Entre o que dizes
E o que quererias ter dito,
De verdades...
Quando o telefone toca
Quando o telefone toca
Desperta-me a princípio,
Sempre em notícia desagradável,
De um parente adoentado...
Quando o telefone toca
E não fala nada em resposta
Ao atendimento, no silêncio
Fico possesso pelo trote...
Quando o telefone toca
Com ofertas de promoções,
Pela vigésima vez no dia,
Seja um broche ou remédio novo,
Respondo secamente
Ao empréstimo consignado da vez...
E, por fim, quando o telefone toca
Sinto-me o idiota na visão deles,
Que vai ser tungado outra vez,
Só quando o telefone emudece
Consigo perceber quão desagradável
Foi a insistência redada...
Internet
O mundo ficou pequeno
Ou me apequeno
Frente este mundo novo?
Como podem
Parecer grandes
Os pequenos
Aconteceres...
Lembrar estórias
Todos temos rugas
Na memória...
Da sobrevivência
Das vivências,
Comprometedoras...
Se não por isso,
O que importa
Este exercício?
Truco
Estou ouvindo
O silêncio da rua,
Agora a pouco
As pessoas produziam
Alaridos...
Talvez um jogo de futebol,
Uma tômbola, um truco,
Esses jogos induzem
Ao grito...
Tempo de festejos incomoda
Quem gosta de silêncio,
Então silencio.
Na real
Estava o Poeta
Cantando à lua
Sua amarga
Amargura
Quando a lua
Fechou-se
Em nuvens...
Calou-se o Poeta
Desencantado
Com seus encantos
Com a lua
Em seu passado...
Vivo minhas dúvidas,
Minha sombra não as tem,
Vive à sombra de mim
Com seu tamanho desdém
Dita na hora errada
A palavra pode ser
A faca mais afiada...
Todos os olhares
Todos os olhares se foram
Com a paisagem escurecida,
Depois que o sol se pôs
Adivinha-se a cor do canto
Som de despedida...
Todos os olhares olham
Para o que sobrou de vida
Nas faces enrugadas
Pelo labor esquecido
Da mesma face
Todos os olhares convertem
Ao mesmo lado...
Merece algum cuidado
O que passeia
Aos olhos do condado...
Cantemos a canção
Que se canta em guerras,
Oposta da paz denegrida
Que nos traz a vida...
Ossos desnudos
Os ossos já desnudos
Expõem quão fraca
É a ambição dos ontens...
Já disseram do tempo
Que o tempo é a razão,
Que tudo se esfola
Na podridão dos órgãos...
Do nada sopra vida nova
Da atação dos ossos
Limpados desde a hora,
Que dizem onde ficou
A aspiração das mentes
Deserdadas agora...
Sonhos infidos
Quereria tecer paredes
Que evolassem fugas
Através dos tempos,
Passassem pelos dias idos
Sem quebrar suas alegrias...
Quereria apressar os passos
Entre lamúrias inficionadas
E produzir do nada esse nada
De que não sou capaz...
Por isso a voz rouca e fraca
Não interfere nas causas
Cujos efeitos ferem princípios,
Quereria tecer fatos na poesia,
Como fizera um Castro Alves
Sobre a escravatura,
Mas não vejo possibilidade
De ferir a fera que me faz fera
Frente às conclusões dos nadas.
Mas não posso, então
Me calo.
sergiodonadio
Nenhum comentário:
Postar um comentário