Cenas passantes
Descrevo,
No que escrevo,
Cenas cotidianas...
Cada palavra acena
A um passado, nebuloso?
São favas contadas,
Mas vivas,
No atual momento
De vidas...
Não lembro bem
A voz de meu pai,
Mas vendo este senhor,
Que a mim se parece com ele,
Esses passos trôpegos,
Que ele apresentava,
Essa calva acentuada...
Lembro gestos,
Mas não consigo lembrar
Expressões de meu velho pai,
Agora que o velho sou eu!
Com a memória pouca,
O mesmo cansaço dele,
O semblante atenuado...
Agora, o passante passa,
Não devo interpela-lo,
Mas lembra de um modo
Aquele antigo meu mundo,
Em cada passo...
Sem medo de colher o meu plantio
Semeei minhas estórias
Para a história de meu tempo...
Assumi minhas derrotas
Entre meus contentamentos...
Argui minhas dúvidas
Ao meu assentimento...
Passeei por vias tortas
Procurando meus instintos
De como reviver memórias
Neste labirinto...
Concluo que o tempo audita
O desperdício da forma,
Onde a norma é bendita
E me conforma...
Viajando a paisagem
À minha frente o mundo
É pequeno...dele só vejo pedaços,
Tentando adivinhar o invisível
Fora de meu raio de visão...
Depois da esquina outra esquina,
Depois do morro outro mundo...
Cada paisagem o pensar profundo,
Talvez haja novidade além de muros,
Tenho meus medos a novos estudos...
Talvez um rio, uma ponte, silêncio?
Pode seja apenas o som de um fio
Em provimento...
Quanto a mim
Quanto a mim
Bem sei que venci paradas
E estou aqui...
Quanto a mim
Perambulando pelas tardes
Não me perdi...
Quanto a mim
Lendo abolicionistas
Encontro valores perdidos
Nas desaguas...
Mas o tempo limpa
As enxurradas deixadas
Pelas chuvaradas
E torna o chão outra vez
Liso e afeito às causas...
No meu silêncio
No meu silêncio grito alto
As vontades resistidas...
Talvez a parte mais lúcida
De nossas vidas...
Neste silêncio e seu alarde
Me vejo grande dentro da tarde
Em que voamos
Sem asas púrpuras,
Apenas asas...
Em tal silêncio a grita esparsa
O susto dos passarinhos
De das lagartas...
No meu silêncio a vida aparte,
Como arte...
Efêmeros
O homem cria,
Mas não é o deus
De sua criatura...
Às vezes nem tem
Tal estatura,
Que possa arcar
Com sua figura...
O homem cria,
Na cria se recria
Entre fracassos
De aventuras
E a forma lânguida
Com que esturra
A face verdade
De sua altura...
Os maus elementos
Terra, água, fogo, ar...
Às vezes esses elementos
Se rebelam,
Inundam vales de profundo esgar...
Montanhas cospem fogo,
Marés invadem além-mar,
E o ar, neste refogo
Faz a terra nos aterrar...
Talvez sejam sobras do logro
Que maus elementos
Põem a somar...
Terra, fogo, água, ar
Se combinam em esmarridos
Soluçar...
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