Somos
seres divisíveis quando
Damos
colo aos descendentes
O
encanto pela palavra
Atravessa
gerações e aporta, se esperada,
Viaja
séculos e conforta
O
leitor obstinado pela verdade que ela traz em seu bojo em brasas!
Incisões
A vivência que temos
É muito pouca para
Dar lição aos novos,
Corremos por fora
Nas incisões às normas...
Não participamos nessa maratona,
Salvo algumas exceções,
Fugimos da real necessidade
Nas sesmarias.
Na superficialidade de nossos atos
Cruzamos ruas sem dobrar esquinas
Por medo de nossos fantasmas
À espera,
Tudo que vencemos
É por alguém que erra...
Partidas
Como hei-me seguro
Ao segurar as mãos da morte
Neste corpo moribundo?
Como hei de entender
O sentido infértil da passagem
Por este tempo imerso
Em imagens?
Como hei te consagrar
Ao afeto de meus atos
Se desato em lágrimas
Com teu parto?
Inventários
Se fosse possível
Ansiaria voltar
D’onde foi-me início,
D’onde me veria
Na inocência de ter sido,
Sem ter olvido...
Talvez se possa faze-lo
Em sonhos e inventários
De não acontecidos...
Ah, se assim fosse possível,
Render aos rios e baldes de sal
Que ganhei contigo...
Se assim pudesse ter sido
Que bom fora estar vivo!
Kamikazes
As esquinas são praças de guerra,
Motores obedecem a instintos,
As motos são as partes fracas
E se habilitam a guerrearem-se
Entre sarjetas e asfaltos...
Apanham, mas não arrefecem,
Lançam-se sobre carros e atletas
E se machucam sempre...
Ou sobre ou sob kamikazes
Que se ofertam em sacrifício
Neste campo de batalha
A céu aberto aos desastres,
Seja na paz da manhã
Ou na batalha da tarde...
Ressurreto
Alguém
Que me aparenta um ídolo,
Propagando que seria um bom papo,
Um companheiro de pescaria...
Chegamos, sentamos,
Ficamos a olhar aquela múmia
Temblando os longes de sua vida...
- Bem, ele deve ter sido um cara legal
Quando estava vivo...
Quaisquer maneiras
De qualquer maneira
A gente envelhece,
O tempo vivido nos despromete,
Os membros não obedecem,
Os olhos não veem com bons olhos
Nossas preces...
As mãos tremulam quando,
Como bandeirolas ao vento,
Torcem para o time conveniente...
Como eternos perdedores
Nos conformamos com cada derrota,
Só não quando, à juventude,
Se entrega vencido ao torpor
Jogando fora momentos preciosos
De viver-se ao seu dispor...
De todas as verdades
A que mais dói é a imediata...
No colo da tarde me aconchego
Deitado neste berço esplêndido
De vividos momentos tensos...
A mentira da terceira idade:
Traçada assim cor de rosa
Essa verdade mentirosa...
Conceitos, ideias, opções,
Religiosas ou sexuais,
São como escovas de dentes,
Cada um usa a sua...
Armadilha
Os senhores da mansarda
Olhando da água-furtada,
Trapeira onde a luz alveja,
Há de se ver a criançada
Correndo de erva em erva...
A memória puxa a franjada
De um tempo levado à era...
E passa, por cicatrizada,
A raiva chamada besta fera
Na rima pobre de dor e cor
Há uma inversão poética,
A cor a gente que escolhe,
Na dor a gente se encolhe,
Contorce, geme, e espera...
DO LADO DE LÁ
Do lado de lá do sonho
Os ossos se contorcem,
O manco manca a sorte,
O tempo não se estorce...
Do lado de lá não sonhe,
O tempo não se demora
A assistir a rota da hora
Que a tempo foi embora...
Do lado de lá em sonhos
A vida até que melhora
Ditames de hora em hora
Por isso não se demores
Do lado de cá nem leves
Em cantigas as derrotas.
enfim entendo que aprendo o que não sei
e continuo não sabendo...
São tantos mais não do que sim
Que acostumamos a negar-nos...
Não se nasce em berço de ouro,
No máximo pintado de dourado...
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