Casos e
causos
Pela minha percepção, sem floreios, casos são
verídicos recontados, causos são inventados não vividos. Então, indo ao ponto,
dedico esses casuísmos aos meus contemporâneos, que persistem em avançar
idades, em series de memoriais inibidos antes, soltados agora, nessas sete
décadas de desacertos, remendados de casos, vividos, a causos, desmembrados de
sonhos, deixados na gaveta das intenções vencidas pelo cansaço de ilusões
desiludidas ao tempo requentado de fornos apagados de ontens... Dedicando aos
setentões palavras de convívios, inda relembrados com sorrisos, ou sarcásticos
risos anedóticos sobre tropeções assumidos, ou não, daqueles dias
convulsionados pelas urgências das fomes diversas, aventureiras e prolixas de
retalhos de fatos e boatos. Segundo estatística, todos os dias se locupletam
por guerras, pessoais ou impessoais, dos avizinhados ou do outro lado do mundo,
que nos afetam o juízo dos porquês de suas existências. Nascidos nos pós
segunda grande guerra, nós, desta geração, amiúde nos perguntamos: O que tenho
com isso? Ao mesmo tempo somos parte das escaramuças, e nos distanciamos da responsabilidade,
pela distância dos fatos, mesmo aos afustuados na vizinhança de nossas vidas,
corridas e escorridas nos suores da sobrevivência de cada um. Guardamos nossos
casos e nossos causos nesta memória de distâncias, nessa idade em que não
guardamos ocorridos de hoje, por desnecessários ao convencimento de reais
motivos. De fatos e não fatos vivemos a pensar nessas décadas de arranhões na
pele e na alma, de nossas cicatrizes, teimosamente reincidentes na
inconsciência de os ter vividos. Na idade em que estamos as importâncias de
ontem se desimporta por agora, nesta ebulição de motivos os relacionados a
comorbidade se tornam essenciais, ante outras dores ou prazeres possíveis.
Caros, é hora de curtir a ausência de barulhentas companhias, que preferem sons
pesados, modos deseducados, atos impensados... terão uma vida toda para se
reconhecerem tão chatos quanto nós, em nossa idade, no momento de atingirem
este ponto sem retorno, a saber o que inda não sabem, a perceber a chatice da
chamada “melhor idade”, esta última idade na contagem regressiva dos tempos
vividos e sem retorno ao esquecido de viver, quando se verão, como nós hoje,
afunilando segundos, mancando passos e ideias,
Pedros, Zés
Maria, Marias José, Dalcis, Vilsons, e tantos outros teimosos em continuar
respirando, mesmo que doa, consolemo-nos porque a outra opção seria ter deixado
de respirar antes de envelhecidos, mas igualmente envilecidos, rsrs...
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