sexta-feira, 19 de julho de 2024

 

Finalidades

 

Se tu queres

O que quero

Porque o medo?

A vida nos trouxe

Ao mesmo ponto,

As mãos suam

Ao contato,

Não somos nós

Os mesmos,

Somos extratos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Despedimentos

 

Pendurado na tristeza

Um senhor idoso,

Inda que de meia idade,

Meia vida, meias palavras,

Meio esquecido, meio morto,

Cansou-se de sulcar a terra

E plantar as ervas, e colher

Os frutos da espera,

E foi-se...

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 19 de maio de 2024

 

Reflexões sobre o luto       

          Para reflexar sobre o sentido do luto faz-se preciso mentalizar o motivo precípuo do sentimento da perda, que abrange a quebra de um vínculo afetivo, que trazia significado para o enlutado, não apenas por morte, mas também por outras rupturas em vida, como por exemplo, o término de um relacionamento, a quebra de um contrato, a perda de emprego ou a aposentadoria. Então, é preciso considerar os processos dinâmicos de mudanças no correr da vida. No século XVIII o luto era considerado uma patologia, carecendo de prescrições medicamentosas, que incute até os dias atuais a ideia de doença, em situações estremas necessitando cuidados profissionais. Mas, paulatinamente, vai-se compreendendo a complexidade do processo, como parte da nossa vida. A perda, em algum momento, acontece quando não há escolha e precisamos renunciar a alguma cena planejada em continuidade, e nos resta a saudade sem questionamentos. Na teoria podemos abraçar formas de aceitar cada processo, na prática cada mente, talvez pela vivência, reage de um modo, da aceitação ao desespero dos aconteceres.

          O luto é dividido em fases, é preciso encara-lo do momento da perda ao da continuidade da falta, de algo ou alguém que nos foi caro, como algo singular, embora coletivo, a afetar as ações vindouras, mesmo como remorso, pelo que deixamos de fazer quando poderia ter feito, ou saudade por não mais pode-lo. Subjetivamente oscilatório em cada fase da memória, o luto representa a quebra de conceito da perda em cada mente.

          O transtorno do luto prolongado afeta cada um, pela intimidade ou precisão da pessoa falecida ou de peça quebrada, na sequência dos dias esvaziados. Do mesmo modo cada impacto marca indelével a ausência de fato, afetando de maneiras diversas reações, dependendo até da visão da religiosidade pessoal.          

          O luto “normal” resguarda também um tempo, afetando cada um singularmente, dispersando em poucos dias a sensação da perda dolorida para tornar-se aceitável por irremediável, as condições do afastamento também são afetadas pelo susto, se inesperadas, ou tristeza pela morbidade continuada, que leva às consequências esperadas.

          Enfim, o luto quebra uma relação, uma realidade que nunca mais será revivida, demandando esforços para reconstruir-se à sombra do acontecido, entendendo que a falta afeta cada um com uma intensidade única, pois cada ser ou ato é diferente e único.                                                             

 

Babando na gravata

 

Estes bêbados ilustres

Não caem pelas beiradas

Porque são bem ancorados

Nos puxa sacos eirados...

 

 

 

 

 

 

 

Obstáculos

 

O que enevoa a vista

É o conceito de pilastra

Sem noção de sua força

Essencialmente desmedida...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nada na vida é essencial

Depois da desmama da mãe...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O triste do momento no IML é

Ter o morto que provar-se morto!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Inventário

 

Depois do crematório

Talvez eu caiba num cinzeiro,

Mas ainda estou inteiro

De corpo e peso

Mais que a alma

Na balança da estrada,

A quem entrego minhas culpas

Para aliviar a carga...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O paganismo levado a sério:

 

Estórias demandadas

À beira do abismo...

As horas,

Fadadas a chorar mementos,

Se estraçalham em dobras

Como uma cueca usada...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O período

 

Talvez seja

Um bom motivo

Para a espera,

Esta oferta de prazeres

Simples

Como um copo d’agua

Na enxurrada...

O fim, enfim,

É apenas uma parada

Entre o tudo

E o nada...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

há um lugar

no coração

que parte

rumo

ao infinito da palavra

 

 

 

 

Perdimentos

 

Perdi-me

Entre os sonhos vencidos,

Sem perceber a verdade

Entre firulas que inventei...

Sim, me perdi no sonho,

A realidade cruelmente

Me admoestou sobre

Os enganosos projetos

Inacessíveis ao meu dia

De ser...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conceitos

 

O tempo passa

Vagarosamente,

Filmando em cada mente

O instante vivido...

O sentimento de velhice

Empreende

Cada novo sentimento

Ao sabor do esquecido...

O tempo passa

Penosamente,

Acima dos sentidos

Relevantes

De cada momentoso

Invento...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

 

As viagens do pensamento

 

Quando o tempo se cala

Vem à memória

Fatos históricos, de hoje:

São tantas guerras entre falas

E o desespero de outros...

Sentados em suas poltronas

Confortáveis, esbravejam,

Os mandantes se provocam

E mandam bala, de longe...

E nos longes abatem crianças

Em soldados adolescentes,

Que mal sabem o que sentem!

Há uma revolta emudecida

Pela tragédia iminente...

São tantos corpos sem alma,

São tantas almas sem corpos.

Onde estarão essas pessoas?

 

 

  

 

 

Por isso não me atrevo

 

Por ter a idade velha

Procuro ficar em silêncio

Quando ouço teorias incertas

De entendidos em variedades...

Mesmo que a mim

Pareçam barbaridades,

Sob a pena de ser taxado

Elite ou quadrado...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Baile

 

A beleza nua

D’uma noite crua

Sem a maquiagem

Da noite em festa

Traz a saudade

Daquela seresta

Dormida na tarde

Distante desta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

gentes?

O dia seguinte

 

Foi muito discutido o assunto

-Guerra!

Os temores aos ataques

De um turbilhão de notícias.

As estórias dos mais velhos,

A fome, o frio, os motivos...

Os avós inda contavam

As ofertas de nova terra,

Portos distantes, outra verdade

A perpassar aos famintos

Por um pão recheado...

As ofertas, navios aportados

Num chão distante, viajando

Para outro chão, mais distante,

Com promessas de não fomes!

O desencanto da espera

Por dias melhores em casa...

Assim emigraram os novos,

À procura de oportunidades

Famintos de novas eras...

 

 

 

Anos dourados

 

Lá se vão os anos dourados

Em plena inatividade

A lembrar os passos em falso,

Os temores desassestados,

Em que a cama é uma maca,

O quarto enumerado...

Identificando o enfermo preclaro,

A bebida é preceituada,

As vozes são cochichos

Das cuidadoras descuidadas...

A manhã não amanhece clara,

Absorta nos passos rápidos

Dos transeuntes abafados...

São pedreiros sem pedrarias

Apenas o contar de dias...

Os sonhos dilapidados

Na conversão das iras...

 

 

 

 

 

 

 

O lado bom da vida

 

O lado bom da lágrima

É conte-la quando amarga.

O lado bom da tarde

É o cansaço da labuta.

O lado bom da viagem

É o percurso e a chegada.

O lado bom da volta

É o sumo da saudade.

O lado bom da dor

É não se desesperar.

O lado bom do sonho

É esperançar à vida.

O lado bom da luta

É a derrota assumida.

O lado bom do abrigo

É acolher o desabrigado.

Enfim, o bom da vida

É vive-la a cada passo!

 

 

 

 

 

 

As viagens do pensamento

 

Quando o tempo se cala

Vem à memória

Fatos históricos, de hoje:

São tantas guerras entre falas

E o desespero de outros...

Sentados em suas poltronas

Confortáveis, esbravejam,

Os mandantes se provocam

E mandam bala, de longe...

E nos longes abatem crianças

Em soldados adolescentes,

Que mal sabem o que sentem!

Há uma revolta emudecida

Pela tragédia iminente...

São tantos corpos sem alma,

São tantas almas sem corpos.

Onde estarão essas pessoas?

 

Por isso não me atrevo

 

Por ter a idade velha

Procuro ficar em silêncio

Quando ouço teorias incertas

De entendidos em variedades...

Mesmo que a mim

Pareçam barbaridades,

Sob a pena de ser taxado

Elite ou quadrado...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Baile

 

A beleza nua

D’uma noite crua

Sem a maquiagem

Da noite em festa

Traz a saudade

Daquela seresta

Dormida na tarde

Distante desta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

gentes?

O dia seguinte

 

Foi muito discutido o assunto

-Guerra!

Os temores aos ataques

De um turbilhão de notícias.

As estórias dos mais velhos,

A fome, o frio, os motivos...

Os avós inda contavam

As ofertas de nova terra,

Portos distantes, outra verdade

A perpassar aos famintos

Por um pão recheado...

As ofertas, navios aportados

Num chão distante, viajando

Para outro chão, mais distante,

Com promessas de não fomes!

O desencanto da espera

Por dias melhores em casa...

Assim emigraram os novos,

À procura de oportunidades

Famintos de novas eras...

 

 

 

Anos dourados

 

Lá se vão os anos dourados

Em plena inatividade

A lembrar os passos em falso,

Os temores desassestados,

Em que a cama é uma maca,

O quarto enumerado...

Identificando o enfermo preclaro,

A bebida é preceituada,

As vozes são cochichos

Das cuidadoras descuidadas...

A manhã não amanhece clara,

Absorta nos passos rápidos

Dos transeuntes abafados...

São pedreiros sem pedrarias

Apenas o contar de dias...

Os sonhos dilapidados

Na conversão das iras...

 

 

 

 

 

 

 

O lado bom da vida

 

O lado bom da lágrima

É conte-la quando amarga.

O lado bom da tarde

É o cansaço da labuta.

O lado bom da viagem

É o percurso e a chegada.

O lado bom da volta

É o sumo da saudade.

O lado bom da dor

É não se desesperar.

O lado bom do sonho

É esperançar à vida.

O lado bom da luta

É a derrota assumida.

O lado bom do abrigo

É acolher o desabrigado.

Enfim, o bom da vida

É vive-la a cada passo!

 

 

 

 

 

 

As viagens do pensamento

 

Quando o tempo se cala

Vem à memória

Fatos históricos, de hoje:

São tantas guerras entre falas

E o desespero de outros...

Sentados em suas poltronas

Confortáveis, esbravejam,

Os mandantes se provocam

E mandam bala, de longe...

E nos longes abatem crianças

Em soldados adolescentes,

Que mal sabem o que sentem!

Há uma revolta emudecida

Pela tragédia iminente...

São tantos corpos sem alma,

São tantas almas sem corpos.

Onde estarão essas pessoas?

domingo, 21 de janeiro de 2024

 

Tempo perdido

 

Estava distraído

E o tempo passou batido,

Sonhava nova aurora

E o dia já ia embora...

Pensava o sonho lindo

Sem saber que era findo,

Depois de somar as horas

Prevejo amargas vitórias

Carregadas de derrotas...

Entre glórias inglórias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O relógio

 

O relógio marca segundos,

Minutos, horas...

Mas não marca as emoções

Desses minutos vazios,

Nem a saudade de outras

Horas...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Retornos

 

Não me reconheço vil,

Mesmo que tenha errado,

Nas coisas que sei que errei

Foi com vontade de acertar...

 

Mas não preciso provar

Meus desacertos, sei que

A culpa já é o bastante

Para me desaforar frente

 

Aos julgadores incapazes

De se reconhecerem em mim

Nessas proezas sem fim.

 

Não importa cada intento,

Se quisesse ser eu de novo

Teria de voltar ao ovo...

 

 

 

 

 

 

 

 

heterônimos

 

é preciso esconder

dilações momentâneas

de divagadas ideias

contrárias à hegemonia

em pensares tortos...

assim, quando eu quiser

esconder-me de mim

assinarei por outro eu

que mora em mim...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

momento confessionário

 

de alguma forma

a verdade sempre  chega

à noção de ética...

assim,

ao fim de dias de raiva,

tivemos a paz da chegada

dessa verdade doída,

mas necessária,