Reflexões
sobre o luto
Para reflexar
sobre o sentido do luto faz-se preciso mentalizar o motivo precípuo do
sentimento da perda, que abrange a quebra de um vínculo afetivo, que trazia
significado para o enlutado, não apenas por morte, mas também por outras
rupturas em vida, como por exemplo, o término de um relacionamento, a quebra de
um contrato, a perda de emprego ou a aposentadoria. Então, é preciso considerar
os processos dinâmicos de mudanças no correr da vida. No século XVIII o luto
era considerado uma patologia, carecendo de prescrições medicamentosas, que
incute até os dias atuais a ideia de doença, em situações estremas necessitando
cuidados profissionais. Mas, paulatinamente, vai-se compreendendo a
complexidade do processo, como parte da nossa vida. A perda, em algum momento,
acontece quando não há escolha e precisamos renunciar a alguma cena planejada
em continuidade, e nos resta a saudade sem questionamentos. Na teoria podemos
abraçar formas de aceitar cada processo, na prática cada mente, talvez pela
vivência, reage de um modo, da aceitação ao desespero dos aconteceres.
O luto é
dividido em fases, é preciso encara-lo do momento da perda ao da continuidade
da falta, de algo ou alguém que nos foi caro, como algo singular, embora
coletivo, a afetar as ações vindouras, mesmo como remorso, pelo que deixamos de
fazer quando poderia ter feito, ou saudade por não mais pode-lo. Subjetivamente
oscilatório em cada fase da memória, o luto representa a quebra de conceito da
perda em cada mente.
O transtorno
do luto prolongado afeta cada um, pela intimidade ou precisão da pessoa
falecida ou de peça quebrada, na sequência dos dias esvaziados. Do mesmo modo
cada impacto marca indelével a ausência de fato, afetando de maneiras diversas
reações, dependendo até da visão da religiosidade pessoal.
O luto
“normal” resguarda também um tempo, afetando cada um singularmente, dispersando
em poucos dias a sensação da perda dolorida para tornar-se aceitável por
irremediável, as condições do afastamento também são afetadas pelo susto, se
inesperadas, ou tristeza pela morbidade continuada, que leva às consequências
esperadas.
Enfim, o luto
quebra uma relação, uma realidade que nunca mais será revivida, demandando
esforços para reconstruir-se à sombra do acontecido, entendendo que a falta
afeta cada um com uma intensidade única, pois cada ser ou ato é diferente e
único.
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