quinta-feira, 6 de junho de 2013
Enquanto fui menino
Quando eu fui menino
Alguns não acreditavam
No emprego das forças
Para suprir meus medos...
Para suprir os medos passei a andar sozinho
Pelas trilhas abertas entre toros ressecados
Junto à estrada de ferro, por onde vinham trens
E iam levando as peças de um quebra cabeças
Que eu enfrentava ao ver tantos lacres abertos
A perder farelos para uns poucos catadores...
Quando eu fui menino
Assistia deles as dores
A suprir meus medos
Ser um deles também...
-Eu vou tomar este trem. Pensava em valores
De seguir adiante, ao desconhecido mundo
De fugir também, como faziam os meninos
Perdidos de suas mães e de seus desvalores
Como eram parecidos a mim, assim presos
Aos mesmos fins de tardes, às manhãs frias...
Quando eu fui menino
Via pelos açougues
O amigo praguejando
Cortar as carnes frias...
Quando eu fui menino
As carnes eram frias
Aos açougues e depois
Aos desossadores...
Naquelas manhãs geladas pedíamos perdão
Pelo que não éramos, mas não éramos nada,
Apenas uns fracotes deixados aprender
Que a vida seria dura diante das asperezas
De ser então meninos, desaprendidos ser
Apenas como pequenos aprendizes fracos...
Quando eu fui menino
Devia de ser menino
Sem antes responder
Aos desatinos de ser.
Por isso e por tanto, enquanto fui menino
A vida passou aos trancos de apagar o quadro
Buscar leite, levar compras, e um tanto cedo
Correr atrás dos sonhos desensonhados
Antes que crescesse em mim a necessidade
De também ser homem um dia no porvir...
Por vir as tantas coisas
Acontecidas no tempo
De aprender apanhando
Enquanto fui menino...
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