Desfazimentos
Trancado
entre essas paredes
invisíveis
procuro minha liberdade
travando a língua
entre acontecidos
e por aconteceres...
amanhã veremos
se o ontem tinha razão
de desfazer-se em
noite...
Inspirações
Um sapato que colhi
Semeando meias...
Uma frase que perdi
Espalhando teias...
A espera pela esperança
É muito cansativa...
É promessa de mais vida
Onde nem se tem vida...
As pessoas
Não vêm de graça,
Apenas sacam
Alguma graça...
O canto
Que cantar não possa
Traz
Uma nova proposta...
Até que a vida nos
separe.
Devemos lealdade
A todos com que convivemos.
Aos professores do
primário,
Do secundário, do
terciário...
Aos cães criados
conluiados.
Somos devedores de
lealdade
Aos coletores do lixo das
ruas,
Aos cuidadores de nossas
almas,
Aos perdedores de nosso
tempo
Aos que nem bem conhecemos,
Com os quais cruzamos
nas ruas...
Devemos lealdade ao
botequeiro
Quanto ao prefeito e seu
gabinete,
Ou ao médico de nossas
dores...
Devemos lealdade
Ao princípio de nós
mesmos,
Mentindo ou omitindo
lavores...
Somos devedores e
credores
Da lealdade aos nossos
erros
Pois conviveremos com eles
Até que a vida nos
separe.
Homem lendo jornal
Um homem lê o jornal
Enquanto a vida lhe
passa...
O assassino foge,
O político se promete,
A prostituta esvai-se...
Enquanto outro lhe rouba
O homem lê o jornal...
A temperatura ameniza
O dia em que se faz o
sol...
Enquanto o homem lê.
Enquanto a guerra
explode
Corações e mentes
E o tempo se sacode
Entre relentos...
O homem lê.
Aos que se miram
O mundo
Não sabe esperar.
Ninguém nesse mundo
Sabe esperar?
A pressa dos carteiros
Enerva os cães de guarda
E os vagabundos...
O mundo é uma correria
De fazer dó aos que se
miram
Neste espelho imundo
Das calçadas...
Por que todos
Com tanta pressa?
Para aonde pensam que
vão?
A um velório? A uma
festa?
Talvez apenas
Defender o pão.
TROPEÇOS
O que tem pressa
Tropeça nas palavras...
O que tem fome
Engole com vontade
As carnes duras...
O que sonha viagens
Se estrutura...
O que desiste da viagem
Se atura...
O que mal se programa
Se decepciona...
O que nada espera
Se alegra.
São as pedras
do caminho
Ou o tempo é mesmo
Esse susto
Em descaminho?
Dúvida
Se gosta do frio
Por que acende
A lareira?
As quantas andam
A percepção e vigia
Das frases mal ditas?
Sob olhares
Sob o olhar conivente
Dos que passam
Sei-me seguido
E seguidor de passos...
Não fora assim
Como dizer a história
Que nos fez?
Somos os mesmos,
Troglodíticos,
A procura de ser
originais,
Cópias dos que vieram
antes,
Os mesmos nossos ais...
Sob o olhar conveniente
Dos que passam
Vendo as janelas abertas
Com que espiamos o
mundo,
Sabem que nossa visão
turva
Vislumbra o mesmo sol
Pondo-se há milênios,
A pensar que o sol de
hoje
É sempre o mesmo...
Sob o olhar conivente
Dos que ficam,
Assuntam sobre greves,
Mortes, nascimentos,
Tombos que se repetem
Em cada dos rebentos...
E querer o novo,
Incontrovertido,
Em cada pensamento!
Serei, no entanto,
Copiado amanhã,
Copiando o ontem,
Que a cada manhã
Pode seja sem futuro
Desde este momento,
Mas, seguramente,
Tendo um passado
Presente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário