Motivamentos
Escrevo
Para que me aperceba
Das continuidades
Plenas ou desiludidas.
Inda ontem audazes
Num possível convívio
Com as transas da tarde.
Das continuidades
Plenas ou desiludidas.
Inda ontem audazes
Num possível convívio
Com as transas da tarde.
Hoje sou verdade.
-Intragável? Como todas
As necessidades deglutidas
A cada mastigável lida.
Se não doesse tanto
Não seria vida.
-Intragável? Como todas
As necessidades deglutidas
A cada mastigável lida.
Se não doesse tanto
Não seria vida.
Que é feito dos momentos?
Um tanto choro, um tanto riso...
As memórias redivivas
De um escrevinhador
Ambicionando
O impossível.
Um tanto choro, um tanto riso...
As memórias redivivas
De um escrevinhador
Ambicionando
O impossível.
Quase tudo acontece
Quando não...
A chuva na janela aberta,
A mão na porta que fecha,
A chamada na hora incerta...
Quase tudo,
Menos a premeditação
Confirmada pela ação...
Na mesa o vaso,
No vaso a flor,
Na flor a declaração
De amor...
A dor dói, tem mais é que doer,
A única coisa que a dor sabe fazer...
A passagem do tempo
É sempre a verdade
Em detrimento da hora,
Aviltada, evitada?
Diluída em eventos...
O hoje, daqui a pouco
Será ontens,
Inevitavelmente...
Vivido ou não,
Sentido na pele e nos ossos
A erupção do tempo
Na fase, nos gestos,
No entendimento
De todo o resto...
Poema em cores
O azul deste céu invernado
Traduz o frio desagasalhado...
As cores com que se pinta
O dia em curso
Pode seja apenas a cor
Que os olhos fabricam
Com sua íris absoluta...
O preto do teclado
Esquece letras aninhadas
No tom celeste da tarde...
O vermelho das mãos geladas,
O pueril informe das fadas
Na transparência da vidraça...
Quantas cores dividem o dia?
Em partes de sonolências
E ativos lavores rastos
A conteirar os fatos...
Visitando Fiódor
Dostoiévski
As pessoas se atraem?
As pessoas se retraem....
Quem leu “crime e castigo”
Não o pode deixar mais...
Ao inconsciente
O não castigo tanto faz.,
Mas a solidão do medo
Açoita a escuridão
Que se faz ao tempo...
A certa altura a pessoa
Não se sabe salvo...
Apenas se desfaz em
Culpas menores, encaixes,
A vida dos humilhados
À sua volta refaz a cena
A cada esquina
Remoendo as sobras...
“Cem anos de solidão”
É um tempo demais
Para os calos das mãos
Se calarem de vez
Na mente e no coração...
Quem machucou o
“Bebê de Rosemary”
Bota um pé atrás...
Por que as pessoas
Se machucam sem dó
E sem arrependimento?
Porque o entendimento
Já não se dá mais...
A noite anoitece
Sem ter anoitecido,
A dor enrijece
Sem ter enrijecido...
Faz parte do fazer
Na estranha figura
Que deixou de dizer
A que se estrutura...
Sentado à mesa
Espio as coisas sensatas,
A xícara, já trincada,
A luz ainda acendida
Sobre o castiçal de prata...
A própria mesa banzeando
Ao peso do café e seus serviços...
Cadeiras bambeando tempos a fio
Por todos os cafés ali servidos...
O bule empretejado,
O mármore manchado...
A casa tem seu senso de eternidade
Que não vale para mim o trincado,
O mármore insensível ao toque,
Peças que se desfazem lento
Ao redor de meu envelhecimento,
Despercebido deles
Momento a momento...
As novas roupas
Nem sempre são
Roupas novas...
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