No
jornal
Na
notícia de cada dia
A
mulher continua tendo preço
Nas
contradições do avesso...
Aviltado
pela formosura
Nessa
propositura
Do
prostituído apreço...
Antes
que eu volte
Antes
eu volte à realidade,
Que
se afrouxem os sonhos,
Ou
veleidades dessumidas
À
desconjuntura dos ossos...
O
que esperar dessa lida
Senão
a mais pura sorte
Entre
planuras do Norte?
Antes
que eu volte grave
A
desobedecer às vontades
Que
esfriam até pedras
Pela
fadiga da meia idade...
Antes
que eu volte tenso
Que
se arreie o tempo
No
contratempo das tardes
Sem
a deslicença das partes
Antes
que eu seja saudade...
À
deriva
Quem
pode acudir a ida
Senão
a volta concebida?
Um
olhar adivinha a morte
Enquanto
outro vê a vida...
Distraidamente
à deriva
Vai-se
levantando a voz,
Sempre
a mesma parida
Entre
as sortes consortes...
Apenas
a voz esquecida
Eiva
a promessa morta,
A
que se refez aquecida.
O
que esperar dessa lida
Senão
a mais pura sorte
Entre
planuras do norte?
Vi
as estrelas de perto
Num
tempo
Assim
meio perdido
Entre
a primeira infância
E
a alfabetização forçada
Eu
via estrelas de perto...
A
falsa claridade do crepúsculo
Me
estragou a visão de toldos,
Os
crepusculares envoltos
Nessa
página obscura
De
meus olhares escusos...
Nunca
fiz rebeldia aos atos
Dos
que me conspurcaram
Nesse
tempo desvivido....
Agora,
recriando o passado,
O
que faço com isso?
Brilho
eterno
De
holandeses africanos,
De
indígenas panamenhos
Ou
russos ucranianos,
O
que fazer dessa gente
Que
nasce em lugares errados
Na
concepção de suas metas?
Mas
isso é casuístico
Como
o cão latindo ao nada
Do
outro lado do muro...
Do
outro lado desse muro
A
identidade se define
Em
polacos e amarelos,
Em
pardos e pálidos... As pedras
Que
brilham são eternas,
As
pessoas opacas são efêmeras
Queira
ou não a filosofia
Desses
extremos...
Entre
turvos
Talvez
tarde demais
Descubro
poetas novos
Na
minha nomenclatura...
Os
mais antigos sempre
Me
foram melhores
Entre
os turvos...
Nesse
palco me distraio
Em
versos e não versos
Entre
os ditos...
Resmungos
Com
cara e coragem
Desorganizo
a vida...
Vem
da infância
Essa
mania esquisita
De
pernoitar lá fora
Entre
latidos e folhas
Resmungando
o tédio
De
esperar a manhã
Que
vem de longe
Prometendo
a luz
Que
não tem...
Estado
de idas
Nessa
idade d’hoje
Em
qualquer rua andada
Me
sinto em casa,
Como
se soubesse de antes
Para
onde ir embarreando,
Quando
nem sei d’onde vim...
Talvez
daquela serraria
Onde
nasci... Ou talvez
Das
estradas não andadas,
Ou
ainda do apito do trem
Que
passava convidando,
E
nunca fui...
Pena
que igrejas
Tenham
tomado o lugar
Dos
antigos cinemas,
Sem
os mesmos filmes...
Perdemos
várias liberdades
Com
as promessas das idades,
O
que ganhamos com isso?
Das
engananças
O
prometido pelas chances
Parece
morrer na praia,
Onde
guardar a esperança
Chamada
futuro de amanhãs?
Quem
disse que seria fácil,
Ou
ao menos concrescível,
O
de prima prometido?
Nas
feituras, senhora Esperança,
Parece
que todo o vivido
É
só enganança...
Delongas
Se
encontrasse com deus
Por
agora, diria na dúvida:
-Por
que demorou tanto?
Sem
nem saber se espera
Possa
seja demora...
Se
a desesperação faça eco
Com
as vontades sonhadas
Quando
em criança...
Se
o encontrasse assim,
Sem
aviso, levaria tamanho
Susto
na esperança...
Precário
Sei-me
precário
Em
quase tudo,
As
precariedades
Talvez
sejam
As
minhas melhores
Qualidades...
Já
que
Não
somo vitórias
Mas
também
Não
me sei
Derrotado...
Das
rasidades
É
raro macho ser homem,
Ser
de todo soletrado...
É
raro pessoa ser gente,
Assim
delatado e deletado...
Como
criança vira gente
Se
não tendo nascido gente?
Brigamos
com nosso eito
De
mão a mão passo a passo
Entre
ser gente ou ser fato...
Idas
ao meio do dia
Voltar
de onde
Se
não fomos
A
lugar nenhum?
Quem
sabe possamos
Partir
ainda amanhã,
Que
todo amanhã tem
Uma
manhã desde cedo...
Quando
o sol convidar, aceita,
Que
o tempo vira meio dia
Num
instante...
Vigências
Não
espere as férias,
Espere
os dias...
Que
os dias
São
subsequentes
A
cada melancolia...
Os
dias formam horas,
Bordam
e empilham
Lenhas
e camisas...
Não
espera férias,
As
faz vigentes
Nas
manhãs que chegam
Assim
de repente...
Varantes
De
onde brotam os livros
Nas
cabeças desusadas?
Pode
seja de sonhados,
Ou
de nadas...
Apenas
nascem na cabeça
Do
curioso impetrado
Nessas
cabeças varantes
De
passados...
Para
lá da linha de trem
Quem
mora depois da linha
Sabe
a hora do trem passando,
Mas
nem sonha pegar o trem,
Que
passa resfolegando...
Quem
mora depois da linha
Vive
numa segunda pessoa,
A
que sonha bolo e broa,
Quando
ele passa jactando,
Para
lá da linha desse trem
Outra voz recriminando
O
sonho superado tonto...
Passa
como quem nem sabe
Se haja gente depois da linha,
Lhe
esperando...
Tempos
velhos
Moro
numa cidade
Que
inda não fez história,
Que
história demanda
Tempo
vivido e estroçado...
A
cidade em que nasci
Também
não formou inda
Sua
destroção planejada
Pelos
musgos dos tempos,
Que
sobrevivem aos tempos
Se
os tempos forem velhos
Com
suas muletas de erros
E
forçarem essas velhas
Cidades
serem refeitas
De
suas maleitas...
Luto
O
luto faz necessário
Outros
motivos pra vida...
Assim
como inundações
Reconstroem
cidades
Obrigatoriamente,
O
luto propõe mudanças
E
força a esperança
Tomar
lugar cedido
Ao
desespero...
O
infinito tão curto
Com
uma pequena lente
Espio
o mundo
Em
sua grandeza de graça...
Com
uma pequena mala
Arrumo
o que levar adiante...
Assim
caminhamos sempre,
Olhando
para frente...
Com
essa maleta me arrumo
Para
a viagem premente,
Mesmo
que não seja pressa
O
melhor motivo para a ida,
Mas
quando abro a janela
E
o infinito é tão curto,
Sei
que devo ir adiante,
Ver
o outro lado do muro...
sergiodonadio
Coxeios
Há
o belo no feio,
Desde
que visto adentro,
Entre
as rugas e rusgas
Cá
de fora...
O
feio que fica belo
Depende
desse olhar
Que
vê além da verdade
A
outra verdade feita
De
sonhos reconciliáveis
Com
a realidade dos dias...
Eu
não coxo mas
Não
vejo bem o outro,
Que
não ouço...
Risco
Eu
vou riscar
Um
desenho falado
Numa
língua nova,
A
língua que sei o fazer
Que
me ampara...
Quero
fazer um desenho
Em
branco e preto,
Que
a cor vem da ideia
Descrita
em cores vivas
Num
papel transladado
De
outra esfera,
O
passado
Que
me espia...
Pentecoste
Toda
espera é pentecostal,
Para
os cristãos são sete
Semanas
de espera
Pela
vinda da divindade...
Para
os judeus cinquenta dias
De
espera para a saída do Egito.
Para
nós, descrentes de hoje,
São
as esperas pela contagem
Dos
dias sem pandemia
Que
na espera principia...
A
verdade é que
Enquanto
o jovem carrega força
O
adulto carrega a culpa...
Não
aceito a morte como fim,
Mas
como uma mudança,
Talvez
para melhor assim
Para
esperança...
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