Adeuses tardios
Já não há estranhamento,
Todos a quem encaro
São velhos conhecidos,
Das pessoas aos utensílios...
O adeus do finado
É descuidadamente um até log0.
O que se vai
Ficará numa memória fosca
Que fará reagir verdades
Deixadas quietas
Enquanto a alma se inquieta...
Em volta
Essa balbúrdia satisfaz a reza,
E não digam que ao tempo
Desfez-se a promessa,
O canto daquele pássaro
É o mesmo da outra manhã,
Embora pareça infausto,
Em torno o vento rege as folhas,
Os carros passam,
As mentes mentem...
Tudo é o mesmo de antes,
Quando vivia este
Que morre novamente.
Voltaremos a o encontrar,
Talvez n’outra viagem,
N’outro ambiente,
Mas será esquecido por hora,
Já que se vai, em silêncio.
De tudo, o que parte esquece
Andamentos d’outra parte,
A que não interessa mais...
A caminhada chega ao fim do eito,
Faz parte deste fim o mesmo leito
Em que esbravejavas ao que se faz...
De tudo, o que fica é a verdade,
Inaudita n’outra parte,
A que se apaga por querer-se
Irreal a realidade que se suja
De ficar na alfombra desses ais...
Que queres tu? Que fica?
Se além de ficar se identifica
Com a mesma palavra,
Deixada atrás...
Adeus meninos pedros, ladinos,
Josés, colombinos, alguéns
A dizer que fora bom
O mal vivido desse tempo ido...
Adeus às frases deixadas no ar,
Entre mentiras e invencionices
Que se fizeram verdades ocultas
No mesmo retrato frio das tardes...
Adeus ao que ficou só na saudade
E se dispôs a ser realidade
Num sonho apagado em ais...
Adeus aos que ficam olhando
Este passante despachado antes
De ser-se em vida
O que não foi capaz...
Não me digam nada,
Seja verdade ou inventada
A estória mal contada
Pela irreal realidade vivida
Entre paredes escondida
Da dor deixada doer mais...
Voltemos ao assunto de antes,
D’onde era irrelevante
Se viveria o sonho ou iria adiante
Sem o realizar...
Ainda soltamos a tinta recente
De nossas coniventes cores,
Porque de amores não se vive mais,
Apenas se colore azul o incolor
Sabor do tempo que passou
Em branco...
De tudo fica a verdade nua
Que se deixou desnudar
Por ser verdade impoluta
E por ser doída demais...
Na praça a mesma estátua
Olha quem passa e não a vê
Entre folhagens florescidas
No que deu a vida...
O que deu à vida?
Esta pergunta irrespondível
Traz a mesma inquietação
De não vivida plena,
Tanto quanto a estátua vê
Ao redor a primavera dispor
Em cores o escasso olor
Da pessoa em si...
Por mais que se espere a sorte
Neste velório que não sou eu,
Por sorte, e nem és tu,
Que reza a ladainha
Encomendando a alma vizinha
Para além do norte...
Este que vai, descansa?
Talvez mais de em lembrança
Possa voltar à ser criança,
Que a saudade, ou remorso,
Alcança a mesma linha
Que deixou nos trilhos
Que trens levaram para além
Dos muros da esperança...
O sonho desfez-se em nadas
Além das mágoas...
Por ir-se antes perambula
Entre passantes curiosos
A mesma gula desse tempo eivado
De figuras e passados lentos...
Agora o canto do pássaro
É mais triste,
É que se fecha um ciclo e mostra
Que a primavera existe
Para a ramagem e para o pássaro,
Que insiste em reviver
Momentos idos na realidade
De sonho que não se fez verdade,
Porque sonhado acima
Da fanfarronice...
Por fim, o fim deste soldado,
Vestido em farda,
Desvestido em colchas,
Que se vai ao frio da realidade
E não leva mais que a camisa rota
Dessa fase lúdica, deixada ficar
Entre as flores das coroas naturais,
Postas ao lado das velas
E da disponibilidade de lágrimas
A quem não volta mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário