Sobrevivente
Acordei e me surpreendi
Falando comigo, sobre mim,
Foi-me estranho
Que me estranhe em detalhes
De como surgem as respostas:
Algo em torno de pensamentos
Me remetem a um tempo
Em que me conhecia melhor...
Estou me vendo num pequeno barco
Com um companheiro de farda,
(Meu momento militar de cinco dias,
Fui dispensado por excesso de contingente)
Saímos ao lago do bacacheri, e,
Lá no meio lembrei que
Não sei nadar!
D’outra feita
Atravessei o rio do peixe,
De canoa, para buscar
A balsa da outra margem,
Me horroriza lembrar
Que o rio estava transbordando
Com uma correnteza de tocos...
Agora, falando comigo,
Indago como fui irresponsável!
Neste barco chamado vida
Não me vejo sobrevivente,
Acordo que não sei nadar
Ainda hoje...
Íntima
As palmas de minhas mãos
Estão úmidas de tocar as suas,
As pálpebras de meus olhos
Estão pesadas de olhar os seus,
Esta imaginação de seus gestos
Me suplicia de não tê-la...
Por não tê-la vou querendo
Mais e mais quere-la...
Fico esperando-a no olhar...
Os olhares passam, absortos,
Fico, com as mãos úmidas
E as pálpebras pesadas
Mais e mais...
A sabedoria do choro
Pode seja a cor da dor
Espionando detalhes,
Talvez a unha trincada
Ou um dedo amassado...
A dor da cor esfumada
Entre fogo e fumarada,
O que é chão se redima
Da chaleira sapecada,
Na friagem da alvorada
Nos olhos lacrimejados
Carpir-se adeus amargo
Na névoa do alvorecer
Traga os frutos da paz
Entre o que se perdeu...
Cáften
Todas as verdades
Serão aceitas, até
A dos proxenetas,
Entre sussurros...
O sangue de bocas
Esbofeteadas,
Com o agressor
Dizer-se agredido,
Mas a resposta
Não faz sentido
No pleno da
Madrugada...
A mesma notícia
Que li e me emocionou
Releio e já não diz nada
Porque o encanto ficou
Na memória apagada...
Não faz falta ao mundo
Que falte um homem,
Faz falta ao homem
Que lhe falte um mundo...
Consumação
O ar consumido
Pelo qual não vale a pena
É o mesmo ar
Do que se arrebenta
Soprando a vela
Que se faz acesa
E se consome,
Então cala-se no escuro
Da vela que se apaga
Frente ao desalento
De sentir-se só
Numa multidão covarde
De dar dó!
sergiodonadio
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