A história do (meu) mundo
Aqui estamos,
Eu
E estes levianos...
De partida criamos,
Recriamos um mundo
Que de novo
Só a parição do ovo...
Aqui freamos
Nossas derrotas
Em fim de anos
De chacotas...
Neste trem em trilhos
Sempre cabe mais um,
Seja poema ou estribilho...
Ó mundo velho,
És mais novo
Do que estorvo...
Ao tardo
Tudo
Que eu quereria
Veio,
Não como novidade,
Como correria...
Mesmo que seja tarde
Ao tardo se inicia
Um novo ano
A cada dia...
Olhares
A pessoa
Que me olha
Para e chora...
O que será
Que ela viu
Que não vejo
Nem prevejo
Ver amanhã
Outro jeito
De sorrir
Insatisfeito?
Em respeito ao momento
Dialogo em silêncio...
No fundo do fundo
Acorda um dia esperto...
Verrina
Estamos vivos aqui e agora
Por isso essa demora
Em repensar a hora...
O tempo não espera,
Não tem culto ou fanfarra,
O tempo apenas tolera
Tempos de estafa...
Depois emerge do nada
Cultuando nova energia,
Sincronia rara aspirando
Apenas o sentido fértil
Da verrinada...
De corpo e alma
Corpo, a criatura,
Investe contra alma, o criador,
Impondo certa vontade
Em sua dor...
A alma, criador da criatura,
Se impõe, prelevando
A dor à própria dor,
Indultando sua áurea
Ante a vontade de finar-se
Em aconteceres infratos
Deste seu pedaço lavor
Que se contorce ao rasgo
De pele sobre ossos
Desafrontados ao louvor...
Pelos braços e seus abraços
Se expressa raiva ou cansaço...
Para o iletrado
A poesia não tem letra,
Tem som silábico...
Quando puderes sorrir de novo
O relógio persegue o tempo,
Aqui e ali mostra suas garras,
Expõe seu medo ao medo que
O dedo aponta como o ontem.
A guerra não mata mais
Do que a fome quando há paz!
As duas situações equilibram
As dores do luto
Se entrefazem lazeiras
Na aniquilação dos mortiços...
O relógio percebe o tempo
Da desfolhagem quando
A pessoa humana torna-se
Esquelética imagem,
E plange...
sergiodonadio
Ter nascido
Por haver nascido
Criou-se um compromisso
Com a arte de ofício
Desde o primeiro respiro
A tornar-se lícito...
Por haver nascido
E ter sido amamentado
Cumpre-se à razão
De compromissado
Por haver nascido
Em família e ciclo,
Esteio, sociedade,
A espera na
esperança
Dos ascendentes fálicos...
Por haver nascido
Cresce-se endividado
Com o instruído laço,
Lasso por desperdício...
Por haver nascido
Torna-se cativo
O desabonado.
De intenções sobrevidas,
Sonhos de liberdade,
Adolesce junto ao siso
Do passado tísico...
Só por haver
nascido,
Só por haver nascido
Num século sem lastro
Ou berço ou tasco
Entre pedaços...
Asilados
Cabeças brancas,
Mentes a murmurar a morte
Riscada em traços fortes
De viver pernas afrouxadas
Pelo caminhar de tempos...
Mãos trêmulas de esperar
A vivência vivenciar atos...
A dor inerme a perdurar
Além dos minutos lassos...
Janela estreita, porta fechada,
Olhar distante de somar
Derrotas revividas...
Triste cenário de ir embora
Sem adeuses...
Agora
Quero gritar meus lavores,
A dor no peito transforma
O longe perto da inação...
A água bate no queixo
Entre chances e afagos
Deixados nos esquineiros
Transversos da estrada...
Quero expor meus adores
Entre lágrimas e sorrisos
Trazidos nesta ilação...
Tentando ouvir o mundo
Em sua velha canção
Deixada neste profundo
Fim de leilão.
Rio vogado
Premando absurdos
Falando aos surdos:
Aqui me repito em danos
Somando desenganos...
A paz que consigo
Lendo poetas idos
Nos passados anos...
Quantas frases soltas,
Desconexas, fora do texto
Relido e aceito
Entre as perdições
Do leito...
Laboriços
A cidade está cansada,
Dorme,
Que a paz esteja contigo
Terra de meus sonhos
Repetidos...
A cidade está dormida
Entre mendigos
Deitados às portas fechadas
Pelo seu inciso...
A cidade está predada
Entregue aos vícios
De gentes e praças
E humores antigos...
A cidade está acordada
Entre laboriços...
A página dois
A página dois
É a contracapa
Das verdades deixadas
Calar para não ofender
Ante o erro evidente...
A página dois
É o silêncio que implora
A opinião traverça
Entre palavras mudas
Que gritam alto...
Ocasiões elípticas
Que tornam a voltar
De lá d’onde voaram
À distância do olhar...
E voltam a revoar
Memórias deixadas
Elipsar
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