Sombras
Uma sombra chega
Na tarde consumida
Em erros que se bastam,
Mentiras verdadeiras
Na plêiade de valores vagos
Onde todos os gatos são pardos,
Costumeiros frequentadores
Desses bares baratos
Com insetos sobre
O mesmo prato...
Uma sombra chega,
A perguntar pelo seu corpo
Deixado aninhar-se cedo,
Já extinto morto.
Desafeto
Hoje preciso
Urrar meus desafetos,
Sentir que a dor no peito
Está mais perto
Da lisura de meus atos
Num deserto...
Correr com água no peito,
Criatura desmesurada
Que criei em boato feito...
Sempre copiei dos sonhos
Pesadelos escabrosos,
Nadando neste lodo,
Sem o fazer deveras,
Salvando-me em não o fazer,
Como última esfera...
Sentindo a voz rouca
Cansada de ser louca...
Pensando ouvir de longe
Um grito por socorro
Jogara-me ao poço
Por ser o poço o mundo
No fundo deste mundo,
Poço profundo...
Meditando pós o sono
Preciso urrar meus desafetos,
Dar este murro em faca,
Socar quem está perto...
Cansado de “bons dias”
Respondo com “pois não”
Como fazia o velho
Professor veloso
Em sua teimosia sana.
Por vossa vênia futura,
Em lugar de ser homem,
Ser apenas criatura.
Volumes
Dizemos,
Inadvertidamente:
“Vou tomar uma água”
“Vou dar um tempo”
Como se pudesse dividir
Água ou tempo em peças
De divertimento
Ou advertimento...
A alma ausente
A alma da ausente
Interpõe-se à presença
Da outra alma...
Ambas de asas feridas
Nesta discórdia
De valores estáticos,
Almejando
A mesma resposta
Ao plano
De vencerem-se,
Incógnitas...
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