Gastos
Dentro do poema,
(Se houver poesia)
Encrudesce a
verdade
Contida nos
silêncios
Emoldurados de
lavras...
Na conta da
verdade
A encrudescer o
verso
Há de haver a
casca
Protetora de
sentidos...
Na conta dos
sentidos
Caberá enfim a
poesia
Deixada fluir no
poema
Gasto em
evidências...
Temporal
Se vira o sol em
chuva
De repente o
assunto muda...
De conversa em
conversa
De repente vozes
se calam
Onde verdades
estalam...
Meus guardados
Meus guardados
São guardanapos
nas gavetas,
Rabiscados entre
sonos,
Sorrisos nos
retratos
Resguardados de
sofreres,
Lágrimas ocultadas
Nas vertentes de
emoções...
Meus guardados
valorosos
São ideias e
saudades,
O resto vai pro
lixo
Dos
esquecimentos...
De herança
Pai e mãe tiveram
Uma vida simples,
A casa cheia de
filhos,
Vindos de um a um
Transmitindo
amores...
A fome de minha
avó,
Trazida de anos de
penúria,
Quando morava
conosco
E tinha fartura,
escondia lanches
Pelo medo do
amanhã
Revestido de
ontens...
O pai com mãos
calosas,
A mãe com brasas
em prosas
De verdades
sinceras...
Herdamos deles a
vida,
Que mais esperar
no encanto
De serem vividas?
Desalentos
Como
As pessoas
Se vão da gente
Sem perguntas
Ou respostas,
Apenas acenos
Imaginários
De adeuses...
Expectante
Quero apenas
expectar
Os arredores de
meus setentanos...
Desanuviam-se as
dúvidas,
Quando me achei
demais,
Passou, agora me
sei de mais.
Não estou a fazer
projetos
Do arquiteto que
nunca fui
Sobra o construído
Em tijolos que
empreendi.
Hora do silêncio,
Bom para poetizar,
Daqui a pouco a
manhã
Nos trará a luz,
do sol,
No lugar da luz
das ideias,
Depois acordaremos
O senso outra
vez...
Na sala de
velórios
Não há mortos
visíveis,
Todos cabisbaixos
escondem
Terem morrido...
Salva-se a um
canto um menino
Brincando de
herói.
Todos os ignoram
Na sua inocência
sem culpas,
Ou dívidas
bancárias,
Ao longo do
silêncio
Os mortos ali
presentes
Confraternizam com
sua ideia
De vidas...
Roupas abodegadas
Dia de lavar roupas,
Lavam-se lençóis,
fronhas,
Em separado
toalhas
E camisas brancas,
Calças e mentes...
Dia de lavar
roupas de baixo,
Íntimas derrotas
Enxaguadas e
torcidas
Como a memória dos
dias idos...
Dia de lavar
roupas de festa,
De missa, de
provas vencidas,
Um consumismo de
trapos...
Dia de lavar
possibilidades,
Negócios e namoros
desbotados,
Procissão de
valores destímidos,
Decididos serem
válidos,
Já desvalidos como
velhos
Senhores de tempos
idos...
sergiodonadio
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