Impertimentes
Uma vida que se murcha,
Como a fruta apodrecida,
Vai secando aos poucos,
A cada pôr de sol se esvai,
Quando menos espera, seca
Na tristeza de não mais poder
Caminhar as pedras salientes
Da trilha de sonhos expirados...
São mentes cansadas de mentar
As coisas passíveis de sonhar...
Como a roseira na resseca
Perde as pétalas abrunhadas,
De vistas cansadas de procurar
Horizontes no brilho do olhar
Na espera do sonho dessonhar...
Em todos os passos
Há um espaço
Dado ao cansaço...
Com os sonhos domesticados
Amarra-se a coleira e pronto.
É bom caminhar nas nuvens?
Melhor que na areia escaldante
Ou nos pedregulhos dos momentos...
É como esvoaçar baixinho
Sobre momentos baldios...
Como acariciar pelos fofos...
Como é bom caminhar nas nuvens!
Tenho a idade do vivido
O não vivido não conta
Do havido ao desavido
O tempo se remonta...
Recomeço... Recomeço...
Que é novo o amanhecer
Neste gosto de manhãs idas
Nas protuberâncias da vida...
Deste outro crivo
Descanse, guerreiro,
Que tua guerra é finda!
Entre vítimas e heróis
Plantaste tua semente
De ódio amor
No finito de teus dias...
A tua dor faz alegria do outro.
Descanse, guerreiro,
Que tens fôlego, ainda,
Para seres estorvo.
Sujidades
Há sempre uma sujeira lícita
Nas amoradas do tempo,
Guardadas por decênios
De madrugadas agourentas.
Há sempre uma sujeira
Guardada entre frestas
Nessas rachas de vidas
Levadas aos extremos
De forçalidades...
Pelos senões das amuradas
Haverá resquícios deste tempo
Entre lamúrias e risadas,
Sua pitada de arrependimento
A cada fissura inválida...
sergiodonadio
talvez eu saiba
e não queira saber
que o tempo repassa
o tempo por vencer...
ouço alguém dizer:
- eu não tenho medo de nada.
estranho porque
eu tenho medo de quase tudo
por acontecer...
Impertimentes
Sinto-me preso ao momento
Carnal do desespero!
Pensei-me livre quando
Me levantei de súbito, tonteei
Ao toque do condão
Desta velha companheira,
Que conhecera jovem...
Quis vê-la assim,
De olhos brilhantes como antes,
Quis admirar seus gestos sutis,
Como antes...
Mas não, ela está arquejada,
De olhos vencidos,
Como se agora já tivesse sido.
E nos olhamos pesarosos,
Piedosamente nos vendo nos antes...
Sem as dores dos antes,
Afugentadas no instante
Perdido no ressonar dos antes...
Em nossas ilusões
Denegridas pela realidade,
Infinitamente mais forte
Que o sonho.
Eu quase choro
Quando quase penso
Nos atropelos
Do pensamento...
Pela mínima necessidade
Resenho a parte lúdica
Da mentira na verdade
Caminhos do nada
Não vale a pena
Repetir os passos
De uma agenda
Desestimulada
Pelo tempo ido
Em fanfarras...
O mundo não se divide
Por idiomas,
Mas por axiomas...
Viver experiências
É aprender desaprendendo
O ensinado na essência...
O chão difuso
Vestindo um relógio
No pulso emagrecido,
O molho de chaves
Na cinta gasta, arrependida,
A aliança no dedo viúvo,
Na década vencida
Pelo desuso...
Quantas palavras
Continuam neste silêncio
Surdo das raivas idas
Pelo suor da face
Deitando fatos...
Assim completamos
Anos amargurados
Pelo não levado
Ao chão difuso...
Todas as vezes
Como a pedra
No meio do caminho
Tropeço nas circunstâncias,
Resmungo, apregoo farpas
Aos sentimentos hostis
E passo adiante...
Todas as vezes desesperançadas
Me curvo à realidade,
Poderosa realidade despeada,
E me entrego aos sonhos
Irreais, dormidos no frio
Das geadas negras...
Todas as vezes me apego
E caio na realidade
De meus atos...
sergiodonadio
Poema de amor
Alguém disse
Que na minha poesia
Falta cantar o amor...
Retruco:
Mesmo quando falo
Coisas diversas do amor
Estou falando em amor!
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