Transeuntes
Ela passa todos os dias
Com suas sacolas de
compra,
Isso tornou-se um ritual,
Faz anos que é a mesma
coisa...
Agora ela está grisalhando
E não para de passar
Trazendo comida para
Sobrinhos, irmãos,
Que bebem e brigam
E comem suas compras
Achando tudo normal.
Na jaula do tigre
Tudo está pronto para a
caça,
Somos caçadores
milenários,
A corrida do tigre atrás
da corça
Assusta o homem, caçador,
Que espera o desfecho
disso,
As raças se contradizem,
Somos carnívoros contra
herbívoros
Desarmados dessa
ferocidade...
Temos caninos como os
tigres,
Predamos a mesma caça,
Concorrentes nessa corrida
Veremos quem irá
adiante...
Mas temos medo, um medo
Que o tigre desconhece, e
avança
Sobre gazelas ou jacarés
Com a mesma destemidez,
Que nós, humanos, perdemos
Com o tempo e a criação
Das armas e apetrechos
Protetores dessa raça
De armadores...
Das desalegrias
As pessoas
Vão e veem...
Não falo de passeios,
Viagens...
Falo em viver
E morrer.
Fazemos amizades
Com pessoas instáveis,
Elas aparecem do nada
Para conversas, afagos,
Choros, risos,
Ou ficam caladas
Ao nosso lado...
Quando menos se espera
Elas se vão...
Desalegradas.
Ordenados
São as pessoas... São as
pessoas
Que me fazem caminhar.
Quereria estar só, mas,
Dentro da lógica familiar,
não posso.
São as pessoas que ajudam
respirar,
São as pessoas que me
empurram
Para o lugar à frente, ou
a trás...
Não sei aonde estamos indo
todos...
São as pessoas que
acompanham
Meus passos, nosso
desespero,
No dia a dia... Que nos
fazem acordar
Com seus compromissos a
sanar,
Com seus roncos, com seus
alarmes
Que só deveriam tocar
quando
Ameaçados, mas tocam
sempre,
Para os cães e os gatos da
noite...
São as pessoas que se
alarmam
De dormir e despertar no
susto,
Segundo outros mandem
Que se o faça.
Quem lê um poema,
Assimila, o completa...
A visão de cada ledor
À visão de cada poeta.
A vida é partida pedaços
Como o boi no açougue
Coração, fígado, baço,
Intermediados ao laço.
Olimpíadas
Estamos olhando
O limiar de um tempo...
Daqui vemos os fogos de
artifício
E o espocar das
champanhes,
Bem perto crianças
brincando
Sua miséria
E seus pais sentados em
caixas
Assistindo aos fogos...
Não há champanhe,
Uma garrafa de guaraná, já
vazia,
A alegria esperando a
felicidade?
Aquelas pessoas doem na
alma...
A pessoa daquele pai,
Daquela mãe ao lado,
Das crianças escarradas em
ranho...
A pessoa que se subtrai à
luta
E cede aos braços cansados
E move-se de arrasto...
Aquela pessoa... Aquela
pessoa...
Talvez doesse mais
Se fosse eu aquela pessoa
Desamparada...
sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva.
Incógnita (Portugal)
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores
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Perse e Clube de Autores
As guerras transformam
Pessoas em cadáveres
Apodrecendo vivos
Entre atirados e
atiradores.
Entre famílias de mortos
Ficam insepultos os
congêneres
Deixados viver o desespero
Da falta...
Transformando pessoas boas
Em pessoas más,
Digerindo tantas verdades
Impossuídas...
Dessas guerras em tempo
De paz.
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