Caminheiros
Pela rua que caminho
Não tem rua
Tem estímulo...
Ando pelo espaço criado
Pelo meu próprio tino
Curtindo meu viço...
Estradas pelo ar
Que respiro,
Pelas valas que persigo
Entre barros e poeiras,
Entre estrelas caminho...
Logradouro reto
Pelas torturas da rua,
Dessa rua sem rua
Por onde caminho solto...
Solto me habilito
E me evito.
Guarás
É preciso esquecer
As maldições antigas...
A vida ensina viver-se,
É preciso escutar a vida,
Que tem experiência
Das maldições antigas,
Sofridos uivos da noite...
Luas cheias, lobos...
Nós, guarás nervosos,
A eriçar pelos no medo
Do susto, mesurados...
Uivamos à lua, silêncio,
Pela vergonha de sermos
Vistos lobos travestidos...
Prometidos
As promessas
De esperteza
Afastam o homem
Dos outros animais
Pela diferença
Fundamental
Da sinceridade frente
À nossa avareza.
Três dias fora do face
Alguém me pergunta:
- Onde estava, pô?
- No lugar de sempre,
Nesse lugar nenhum...
Que se faz presente.
Sonhar acordado
No dia ontem sonhei
Com mirabolantes viagens,
Sobre penhascos
Saltei de parapentes,
Mergulhei no oceano vago,
Suei à bica os cansaços...
Depois dormi.
Acordo arranhado pelo fato
Dessas intenções todas...
Malogradas por alguma razão.
Agora preciso tratar
Das queimaduras que ganhei
Nas travessuras
Da realidade.
Desenho pronto
Depois de rascunhar viagens,
Desenhar poses para retratos,
Tenho a idade passada a limpo
Sem qualquer reparo...
O mundo de cada um
Circungira diferente,
Vide o passo da gazela
Da tartaruga e da gente...
No cansaço das horas
Que as lágrimas vão-se embora
E fique um sorriso
Esperando a resposta
O encontro de
Um conservador
Com um conversador
É pobre até na rima.
A viagem sonhada
Sem fim
Não tem começo...
Político honesto
É o do avesso...
Discussão
Gente que grita
Sua posição
É porque não tem
Argumento.
Passado o frio
Do primeiro encontro
Ou o papo esquenta ou cala.
Não tem meio termo.
Inspiração & transpiração
Quando você pensa
Ver a folha em branco,
Fixe-se nela, logo aparecerá
A ideia que se esconde
Dos incautos...
Aqui as frases estão prontas
Esperando a perspicácia
Do leitor, fraseador,
Que a cada um diz um mote
E a todos empreende
Na longevidade dos dizeres
Ocultos no branco
Da página em branco...
Menina moça
Ganhaste um vestido,
Que não te serviu à hora,
Eras miúda, eras franzina,
Mas a tal vestimenta
Ficou te esperando
Pacientemente chegar
Ao hoje,
Quando te moldas a ela
E saem,
As duas,
A passear suas adolescências,
Na praça,
Como boas amigas,
E reais figuras...
Das acontecências
Sabe o que acontece
Quando você para?
- A vida continua...
Foi assim
Para cada afogado
Nessa mágoa do dia,
No dia a dia trabalhado...
Como se o nada
Fosse tudo
Naquele momento...
É quando o nada se acaba
Em sono
Que a desistência do cansaço,
Por uma ausência talvez,
Se atenua...
E o tempo continua
Escorrendo tuas lágrimas,
Esperando sorrires
Outra vez.
Caros ouvintes
As palavras,
Que não dizem nada
Se esvaziadas,
Ao serem ditas
Dizem tudo quando
Atenciosamente ouvidas
E entendidas...
As palavras, quando
Vindas de sábias mentes vividas,
Dizem muito à cada vida.
Se compreendidas em sua razão,
Se sinceramente apregoadas,
Se lhes prestares atenção.
As palavras,
Que não dizem nada,
Se bem semeadas
Sobre motivos férteis...
Dizem muito no pouco faladas
À sua atenção.
sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva.
Incógnita (Portugal)
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Perse e Clube de Autores
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Perse e Clube de Autores
“O que importa
São as pequenas coisas,
Como ter certeza de que
Há água no radiador,
De que as unhas foram limpadas,
De que há papel higiênico
Na privada, ou lâmpada extra
Para a troca da queimada...
Coisas desse tipo,
Que não parecem grande coisa
Mas são essenciais...
Lide bem com as coisas triviais
E as gigantescas vão para seu
Devido lugar.
Mesmo a morte assumirá
Um caráter de lógica
Perfeita”
Charles Bukowski
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