quarta-feira, 31 de maio de 2017

Tudo é irrevogável

Vejo pessoas
Mortas em vida…
A realidade
É cruamente exposta
A cada despedida,
Seja do amigo
Ou da mãe parida…
Tudo é irrevogável!
A floração do cacto,
O aninhar do pássaro,
A filiação ao facto…
A inação é um trágico
Senão entre os atos!
Tudo é irrevogável
Desde o nascituro
Ao obituário fático…
Então não posso deixar
Para depois de amanhã
A dissertação que me faço,
Perdido nesse tempo
Deixado inapto.


REFÚGIOS


O que te passa na cabeça,
Inábil mandatário?
A volta do esporádico?
A vinda do salvádego?
A voz de anjo, ou demônio,
Fantasiado de benedeto?
O que te faz insuspeito
Nessa rixa de altos salários,
O salafrário? O guardador
Das verdades inventadas?
Dizem aos incautos,
Pejorativamente:
- Coisas de poeta…
Quando a culpa latente
Se espraia em dissolventes
Asseclas dessa laia.
Resposta de um entre tantos:
- Somos poetas,
- Não otários!




Contagiânças


Ouvindo Raul Seixas
Degringolando
Seu maluco beleza
Aos ventos contrários…
Uma alma de dez mil anos?
Um senhor engravatado
De segunda a sexta?
Um maluco na sua beleza
Deixando as correntes peadas
Em suas formas vis…
Quem sabe somos todos,
De segunda a sexta
Preparando o sábado
Domingueiro de malucagens…
Raul… Raul… Que maluco
É esse que nos contagia
De relembranças
Tardias?





Dilutos


Todos os sonhos
São dilutos em doses
De realidade bruta…
Como cápsulas
Diluem-se na água
Que nos habita
E nos aplacam dores,
Somem com o tempo
Passado e não voltam
Nos tempos atuais
Do mesmo verbo.







Abrandamentos


Chuva,
Que me vem molhar o cenho,
Que satisfaz a alma
A ensonar o corpo.
Que transforma as sementes
E a terra afofa
E prendes que lava a poeira
Do outono…
Por que vens assim, tão braba,
Derrubando casas
E entristecendo almas?
É derrubar paredes
O que resta de ti?
Chuva… Chuva…
Que violência esta de arrasar
Que não se aquieta mais?







Aos dedos perdidos


Os tantos dedos perdidos…
Agora lá se vão os anéis.
É o ouro derretido dos dedos
Que se valiam disso,
E nem por isso os guardei
Um dia antes da agonia…
Dos valores os anéis
Seriam de mais valor?
Já que os dedos
De pouco me valiam
Perdida a função de apontar
A esmo pelo deserto
Os sonhos derretidos.







Comuniqueixas


Meus pais ligavam o rádio
Para saber das coisas,
Da guerra e da paz…
Nostalgicamente à memória
Do silêncio de seus pais,
N’outro tempo atrás…
Eu ligo o CPU
Para me comunicar
Com meus contemporâneos…
Nessa fase de descartados
Meus filhos usam-se
Nos notebooks desatualizados…
Seus filhos pelo wathzapp
Apressam a não se atrasar
À próxima desmemoria
Que já lhes vem atrás…
Como farão os filhos
Da próxima geração
Para saber das coisas
Da guerra e da paz?

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Inadvertidamente


Quando refaço planos
Desenho novos conceitos,
Que já deixei para o antes
Os velhos sonhos desfeitos…
Quando refaço planos
Nesses desenhos em eitos,
É em suas entranças que
Volto inadvertidamente
Aos rabiscos pertinentes
Àquela infância…






Por que chorar?



Não há porque chorar
A morte do corpo
Se se esvai em dores.
Vejo isso como boa sorte,
Livra-se a alma
Desse peso morto.
O bom da vida
Não é juntar tesouros,
Mas vive-la na tranquilidade,
Cobrir-se ao manto os louros,
O bom da vida é deixar saudade,
Portanto
Não há porque chorar
O bom que foi-se,
Se apenas a dor te faz lembrar
O velho corpo.


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