Às vezes no silêncio da
noite
Um cão ladra a certa
distância,
Acorda meu senso de
medos...
Por que razão estaria o
cão
Espantando o próprio medo?
A distância entre
A mente e as mãos
É muito longa,
Às vezes inalcançável...
Sonhos pequenos
Esses sonhos,
Quando menores,
Criam as possibilidades,
Por realizáveis...
Já dizia meu pai:
-Não dê o passo maior que
a perna,
Vai tropeçar...
Tropeçamos todas as manhãs
Nos nossos próprios
chinelos,
Estranhos de nós,
Depois de uma noite
De sonhos...
Grandes demais.
A desesperança
Não seria o contrário
De esperança,
Mas a falta de...
O fim do túnel
Sem claridade à frente...
A curva da esquina
Sem esquina?
Talvez o sonho desfeito
Ao fim da realidade...
A desesperança
É tal qual o olhar
lacrimado
De um órfão
Em seu orfanato...
Viranças
Todos se vão, um dia,
Não é possível perenizar
Cada momento
Em cada memento...
O agora há pouco
Já se finda em ponteiros,
O daqui a pouco
Surpreenderá o
desvivido...
Assim todos corremos
O mesmo risco de virar
Cisco...
Términos
A memória do corpo
Tem mais valia
Por mais presente...
Na terceira idade, a
última,
Tudo é definitivo, a dor,
O amor, a sensação de
estar
Pronta a casa, o muro
Que a separa da rua,
No sentido do nada.
A memória da dor
Vale-se dessa fraqueza
Do corpo para impor-se
Ao encanto da espera
Terminada...
Feminais
As coisas
Passíveis de ser
Acabam sendo...
Ao menor esforço
A fêmea vista macho,
O macho visto fêmeo,
Assim, na ira extrema
É passível de entender
A cada objeto o abjeto
A conceber o errado
Como certo.
O carro
Às vezes é mais amigo
Que o humano amigo...
Envelhece com a gente
E a gente não percebe
Quanto estamos
Envelhecidos...
Na troca de pneus,
Na implantação
Do marca passo...
Nas regulagens dos pinos
E dos cadarços...
O carro, velho
companheiro,
Bate as bielas e afoga-se
Nessa mágoa de seguir
Rodando esgarço...
Maturidade
Saí pro mundo
Pra vencer o mundo,
Volto desse mundo
Vencido pelo mundo...
Ouvindo Suassuna
Nada é tão irreal
Quanto a realidade...
Sombra e água fresca
Todos morrerão um dia,
Se acreditares nisso...
Por isso eu não morrerei,
Porque não acredito na
morte,
Senão de um corpo cansado
De correr atrás das coisas
fúteis...
Mas eu, a alma desse
morto,
Viverei para outro
corpo...
Erraremos pelo mesmo
jardim,
Nem que esteja seco,
Seremos bem vindos nele,
Entre as rosas ressecadas,
E tartarugas procurando
Sombra e água fresca...
Acreditas nisso?
Pequenas fardas
Procuro as cores
De pequenas fardas...
Não fui guerreiro
Tesoureiro dessa
ilharga...
Operário da palavra
Cedo-me a mim como
Retrocesso... Dei a volta
No quarteirão, não me vi
Em nenhum portão...
Apenas me assisti
Passando, procurando
As ocorrências pardas
Perdidas pelo trecho
Das pequenas fardas...
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