Preâmbulos
Para chegar até aqui
Viramos o mundo
De cabeça para
baixo...
Sonhamos o
impossível
Relendo algum
relato...
Daqui vemos o ficado
Entre pedras e
poeira,
Algum fato?
Besteira...
Apenas boatos...
Levantando asneiras
Daquele candidato
A festeiro nato...
Para chegar acolá
Pinçamos o que não
há
De verdade
mentireira...
Desenvolturas
Talvez a vivacidade
Seja um erro,
Conheço certos
mondongos
Bem vividos...
Enquanto alguns
espertinhos
Se dão mal
Nas planejadas
engrenhas
Dissonadas...
Mesmo assim
Os mais vívidos não
sofrem
Preconceitos banais,
Apenas têm de se
mostrar
Sempre despertos...
Enquanto os menos
espertos
Dormem e descansam
No seu alto
astral...
Talvez a vivacidade
Seja um erro
Descontrolável para
quem
É normal.
Sergiodonadio 21/9/19
Na parição de um
verso
A menor dor, decerto...
Ainda me deito
Abraçado ao poema,
Que ficou em
branco...
Bartô
Pois é, Poeta
Bartô...
Estamos junto
Nessa parada
De parir a lavra...
Com ou sem dor
O renascer contínuo
De cada verso...
O inverso
xingamento,
Talvez lamento,
Talvez gaitada
De quem está
Por perto....
Pastos
Não vejo a vida
Como um desafio,
Nós é que desafiamos
A vida...
Se fossemos espertos
Como o são certos
animais,
Que apenas se
preocupam
Em não se preocupar,
Seríamos bem
melhores...
Veja como os veganos
pastam,
Sem mirar
horizontes,
Apenas o que está a
seus pés,
Ao seu alcance de
pastar...
Veja como os
carnívoros
Correm atrás do seu
sustento,
E como outros não se
importam
Em perder um entre
rebanhos
Para o predador
cansado...
O desafio entre
nossas vidas
Parte sempre de nós
mesmos,
Podendo pastar ou
predar
O pastador...
Celeridades
A agilidade do tempo
É impressionante,
Durmo a noite de domingo,
Quando acordo é
quarta!
Preciso desse tempo
Imprescindível de
ressaca...
Fomos amigos de infância,
Nos esquecemos de
lembrar
Que o tempo nos fez
rapazes
Logo depois
envelhecidos,
Quase crianças outra
vez,
Vencidos os tempos
da vez
Dos revezes, dos
Talvezes...
Deslembrados
aconteceres
Voltam a atormentar
ideias
De voltar, talvez
uns anos?
- Umas eras!
Os meninos e suas
bicicletas voadoras
Sonhos da infância persistem
Na memória dos
momentos,
Os meninos e suas voadoras...
Claro que bicicletas
não voam,
Mas transcendem as
vontades,
De Peter Pan e suas
miragens,
Fadas e piratas... Ermos
de deslumbramentos pelo ar,
Vontade assumida de
voar...
Os meninos e suas
bicicletas
São infâncias
coloridas,
Esmaecidas nas
agruras da vida.
Meninos e bicicletas
voadoras
Confirmam sonhos
impossíveis,
Mas passiveis de ser
em tempos
Difíceis de aceitar,
embora veros...
São tão loucos esses
meninos
Com suas bicicletas
voadoras
Pela vida afora...
Lembrança amarga
- Alguém passou
E não fechou a
porta!
Que importância isso
pode ter
Num final de dia em
que
O rapaz chega
assustado
Pela correria na rua
Onde dois pulavam
quintais
No desespero de
fugir dos cães
E da polícia?
O susto de ver a
porta aberta,
- Se tivessem
atravessado
Teriam entrado!
Como, certa feita,
meninos
Fugidos no trem de
carga
Invadiram a casa,
eram seis,
Assustados guris de
dez anos...
Lembrança de outros
tempos,
A inocência não
portava facas...
Mas a memória
continua
Nesse rapaz
assustado...
De monges e
namoricos
Toda vez
Que alguém picota
Uma folha de papel
Parece esconder
alguma coisa...
Talvez um bilhete
secreto,
Talvez um Poeta
obscuro
Em sua riesta...
Penso na perca que é
Um papel picado,
Portando nova
notícia?
Sem a mensagem
chegar
Ao seu
destinatário...
Que possa trazer
Aviso dos longes,
De um antigo
namorico,
Ou de monges...
No boleto do IPTU
Encapado com fotos
da cidade,
Ordeira, limpa,
iluminada,
Como não é bem a
realidade.
“Uma cidade melhor é
você que faz”
Sucinto, mas irreal,
Impostos pagos, lixo
recolhido.
Calçadas quebradas,
ruas sujadas
Pela própria
imundície panfletária...
Uma cidade melhor é
você que faz,
Está implícito uma
ameaça?
Pagando impostos,
como ser capaz?
Parece uma
advertência
Que se desfaz na
irrelevância
Do poder-se mais...
Maquinário
Hoje se vive
Em torno de
máquinas...
De lavar, roupas e
louças,
De laminar arestas
fabris,
De fabricar outras
máquinas
Para novos perfis...
Mas estamos
desatualizados
Nessa idade em que
os órgãos
Disfuncionam,
desistindo
De entender siglas e
erros,
Pâncreas pedindo
ajuda,
Estômago rejeitando
temperos,
Coração tocado a
estatinas...
A mente querendo
descanso
De máquinas
traquinas...
Os braços cansados,
as pernas
Frouxas, o sexo
humilhado
Por essas soluções
Tornando nosso fardo
Essa máquina
De viver-se...
Meu sonho de
realização
É que ao olhar
O mundo em volta
Não veja polêmicas,
Apenas aprecie...
O difícil, ao
escrever um poema,
É que, depois que se
o rebusque,
Mantenha a frescura
de que
Tenha sido feito de
uma penada...
Quem sabe, um dia,
Eu possa dizer o que
sinto
Sem ofender
ninguém...
A vez primeira é sempre
repetida,
Mas diferente da
outra vez,
Dita antes de outra
maneira...
Desespero é o do
ponteiro dos segundos,
Naqueles relógios de
antigamente,
Que correm loucos
para chegar à hora...
Segundo a visão
espírita
A gente não morre a
vida,
Renasce em outro
nível...
A grande, maior
verdade,
É que não temos
destino,
Construímo-nos...
Quem sabe ainda
reapareça um sábio
Que reconheça que
não se sabe sábio,
Como o outro disse:
Sei que nada sei...
As casas antigas
ficaram antigas
Pela resistência dos
materiais.
As casas modernas em
vez disso
Ostentam a
desistência do material.
Antigamente
Pobres moravam
Em choupanas,
Hoje em panos...
Não somos moradores
de cidades,
Somos vítimas das cidades...
Para bem aceitar
Um novo pensamento
Faz-se preciso
assentar-se
Um momento...
Amanheceres
ACORDA!
Já anoiteceu o dia
hoje,
Já se foram os
convivas,
Se pregou o último
prego
De sua construção
diária...
ACORDA!
Que o tempo medido
Em parições de
nadas,
Não para...
Vai-se da memória,
Como ao rio vazado,
A aguada que jorrou,
Exemplo de que a ida
Não tem volta...
Pirraça
Talvez a palavra
Esteja na boca
errada,
Na página errada,
Num livro abandonado
No canto da
estante...
Sei lá, a palavra
Parece
descontextualizada,
(Como esta, agora)
Num espaço de termos
simples,
Compreensíveis...
Mas palavra teima
Em sair do nada,
E insuflar-se...
A luz filtrada
De todas as
luminosidades
O olhar de uma
criança
Nunca se apaga...
A luz filtrada
Dos aconteceres
Basta para ser livre
Entre atos
prisioneiros...
A luz filtrada
Desses desterros
É tão mais forte
Do que seus erros...
Aula
O que o tempo ensina
É uma porção de
inexperiências...
Ou nesta manhã se
repetem,
Em tua rotina,
As mesmas ações,
Do ontem levado
embora?
O que o tempo ensina
É que o tempo
Não tem hora.
Vividos
A difícil etapa
É chegar ao fim do
túnel
E ver que o túnel
Não tem fim.
Todas as portas se
abrem,
Corre!
Que todas as portas
Se fecham...
Demissões
Quando
O caminho é sobre
brasas quentes,
Corra!
Que os pés queimados
São a primeira noção
de perda...
Depois vem a
desilusão do sonhado,
A dor de ser
defenestrado
De um emprego,
De um lar,
Do teu passado...
Otimismo não se
ensina.
Como provar à
lagarta
Que amanhã será
borboleta?
Cada um se acomoda
Com seu próprio
deus...
Respeite-se a
vontade Dele.
Entrevistas
A vida passa
Numa velocidade
inatingível
Pela percepção nossa...
Estou vendo
recordações num vídeo,
De pessoas que se
foram,
E pensando-as aqui
ainda
Ao lado das ideias
de agora,
Concebidas na esfera
atemporal
Dos sonhos a
realizar-se...
A vida passa
E ficamos
choramingando falhas,
Como a deixamos
passar
Na vasação dos
dedos, escorregadios,
De agora... Quando
Meus grandes ídolos
Foram embora.
Mandriices
Não admito
As mandriices de
certas pessoas,
Sinto que preciso
produzir
Alguma coisa
diariamente...
Seja um poema ou um
pão de forma,
Seja uma linha ou o
desalinho
De coisas vistas improdutivas,
Mas relevantes para
a mente
Movimentar-me,
acesa...
Não me admito torvo.
Gosto sim de dormir
bem,
Seja à meia noite
Ou ao meio do dia...
São as oito horas em
que me vence
Às outras horas em
que venci-me...
Talvez um tanto
renitente
Ao verbo antes do
pronome,
Ou vice-versa, que,
sem nome,
Me aprecie a
inversão do texto
Em falhos arremessos
À estranha fome...
Ao fim da tarde
O sol se pondo
Em cores desenhadas
lindas,
Observando as cores
vivas
Das coisas mortas
Suspeito da
descrença
De certos embriões
De que não existe um
dedo
Dessa natureza que
chamam deus
Entre as crendices
dos ateus...
A noite chegando
Nas escurezas dos
arredores
A vida continua
incólume
Na espera de uma
nova luz
Vinda do mesmo sol
Na outra volta do
planeta,
E das cabeças...
Equinócios
Sim, assim no
plural,
Porque a cada hemisfério
Os equinócios de
adversam,
Aqui primaveramos
Acolá se invernam
Ao frio das estações
Virando anos...
Monologado
Gosto de estar comigo,
Não sinto solidão
por isso...
Na verdade, tenho de
reconhecer
Que preciso me
tolerar,
Só eu sei o que sou
E o que devo
ser-me...
É provável que
envelheça comigo,
Sei que não posso me
deixar,
Mesmo que não me
tolere, às vezes,
Sei de onde vim,
Não sei para onde
vou...
Mas estarei comigo
sempre...
Até por não ter
outra opção,
Ou me amo ou me
aguento...
Às vezes é-me
difícil aguentar,
Mas quase sempre me
divirto
Com as maluquices
que
Só eu sei que
aprontei...
Ah, mas é assim
mesmo,
Somos todos
individuais,
Queira ou não
queiram
Certos animais.
Não se vive para
sempre
A flor da idade,
É preciso viver-se
A flor de cada
idade...
Envelhecer bem
É compreender
O incompreensível
Em outras idades...
Vesiculares
São vesículas
amargas
As desses
atriteiros,
Se não reagires ao
insulto
Perdem a tesão ao
assunto...
Persistência
Nesses momentos,
Em que pensas
desistir,
Observe a lagarta
Se tornando
borboleta...
Pseudorrevelações
“A poesia morre em
poemas fracos”
De um Poeta a um
livreto ofertado.
Verdade, precisamos
de poesias reais,
Que relatem o
momento da emoção,
Que não se assente
em reunião,
Que não se prestem a
bajulação,
Que não se firmem em
um palavrão...
À atenção da crítica
a palavra poética
Se desvalija ao
contato dessa verve,
O canto verdadeiro
do Poeta emudece
Frente à necessidade
de recursos
Divulgadores de sua
lavra...
Empalidece
defrontada com a vaidade
De academias e seus
fardões...
Desculpem a
sinceridade, mas
Os grandes Poetas,
como Quintana
E Drummond rejeitaram
prêmios
Bajuladores de sua
palavra...
Indícios de que as
aspadas acima
Estão corretas.
Não te iludas
Ninguém pode te
ensinar caminhos,
No máximo mostrar o
dele,
Que pode não se
encaixar no teu,
Pela diversidade de
espinhos...
Neste momento
A mosca se parece
comigo,
Fica rodeando a luz
Mas não sabe para
onde ir...
Talvezes
Não perfilho ninguém
na rua,
Nos bancos,
drogarias, UPAS,
Mas são fulanos
arriscando
Se desfazerem de
suas dores...
Que não são iguais
às minhas,
Desiguais às minhas
de ontens...
Onde estarão os
velhos amigos,
Da mesma rua, mesma
escola?
Mas eles não estão
mais aqui!
Onde maceram suas
dores?
Talvez estejamos
todos mortos!
Não nos
encontraremos depois,
Visto que cada um
visualiza
Seu próprio céu, no
qual crê-se.
A triste presença da
ausência
O solitário idoso
Se entrega à
modorra...
Por motivos vários,
Das dores cervicais
Às dores
emocionais...
Por olhos embaciados
De chorar
ausências...
Por mimos e sorrisos
Que não curte
mais...
E um nó na garganta
Que desistiu
sonhar...
Uma nova velha
estória
Nesses ambientes
Costumeiros, salas,
Salões de barbeiros,
A vida segue
adiante...
As mesmas estórias,
Da irreal
realidade...
Quem sabe amanhã
Tenhamos assunto
Com tantas guerras
Nessa paz fabricada...
Casamentos feitos,
Casos desfeitos,
Nessa manada...
Resquícios
Nos encontramos
Num camping de
praia,
Ele se arrastava de
joelhos
Levando os netos
para o mar...
Em lá chegando se
libertava,
Nadava solto...
Livre
Daquelas pernas mortas.
‘Lutei na segunda guerra,
Mas me machuquei no
mato”
Como que explicando
a figura
Que fazia dó aos
passantes...
Mas a vida é uma
guerra contínua,
Sobre a
sobrevivência explicou:
“Sou suíço, meu País
era neutro,
Mas no fervor das
batalhas
Fui instado pelo pai
a servir”
-Por que lado? -Não sei, fomos descarregados numa trincheira
Instruídos a atirar
na direção norte,
O inimigo, até hoje
não sei.
Montou o guarda-sol
e foi pro mar,
Lembrando uma
tartaruga em terra,
Tentando esquecer o
acidente
Com o trator na
lavoura...
No silêncio dos
tempos
O espelho espelha
faces
Que se foram
No silêncio dos
tempos...
Elas estão ali,
Nos velhos acordes,
Que ousam
espelhar-se
Na involução dos
jeitos...
Se prestar atenção
Verá pessoas que
usaram
A impressão dos fatos
Retocando batons e
talcos...
Se transformam em
retratos
No silêncio dos
tempos...
Boletos
Passeio pela avenida
Esperando abrir a
lotérica
Para pagar as
contas...
Enquanto espio as
vitrines
Moças sorridentes
Oferecem ajuda
Com uma frase padrão:
-Posso ajudar?
Algumas afirmam: -
Posso ajudar...
Fico pensando em
que,
E como poderiam...
Mas me calo.
A vida não se resume
a boletos,
Sinto-me grato por
isso.
Há momentos como
esses,
Em que belas garotas
Se preocupam com a
gente...
Ou me iludo nisso...
Torres de Babel
É assim que sinto
A feira de
domingo...
Cada um a falar sua
língua,
Cheia de meneios,
Numa estrutura
gramatical
Fora dos
compêndios...
Verdadeira babel
Em pleno século XXI,
Quando alguns se
pensam iguais...
As diferenças se enormizam
E apraz a cada a sua
linguagem
Incompreendida...
Mas se se perde na
dialética
Como discutir
pechinchas?
Se pergunta sobre o
frescor das frutas
A resposta é um simpático
siiim...
Se discute o sal do
queijo
A resposta é sempre:
O ideal...
Mas nessa torre de
babel
Todos se entendem,
enfim
Pelas necessidades,
isto é,
A mesa do domingo.
Fim de papo
Em quase sessenta
anos
Escrevendo...
Não me sinto
reconhecido,
Apenas não me sinto
esquecido...
Cansado de propor
que me publiquem,
Faz alguns anos que não
ligo mais...
Continuo a escrever
O que me vem à
cabeça,
Se não querem,
problema deles,
Escrevo para mim
mesmo,
Para assentar
pensamentos.
Esquilos
Escrevo sobre coisas
banais,
Já que as mortes por
assassinatos
Se tornaram banais,
O que mais pode ser
assustador?
Escrevo sobre políticos
E sobre esquilos...
Ambos inconsequentes.
Afinal,
Para o tempo de Deus
Qual a diferença
entre o homem
E o esquilo?
Não querem me ouvir
Os ouvidos a quem me
dirijo,
Os políticos não,
Os esquilos.
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