Rindo
de soslaio
Sei
que estou sabendo
E
por saber me sofro
Dessas
dores nas costas
Que
me dominam...
Sei
que de saber padeço
Mas
me aconselho
A
cobrir do frio intenso
Nesse
aconchego...
Viajei
as fases inaceitáveis,
Agora
as aceito
Entre
cicatrizes que não fecham
Pelo
este ego assim espesso...
É,
sei que estou sabendo
Mas
disfarço esse saber-me tenso
Rindo
de soslaio ao cadafalso
Que
está à espera de mim,
No
recomeço...
Desse
desvelo
Às
vezes
Não
importa o que diga,
Sempre
não terá razão
Visto
tua fadiga
Em
prover teu pão...
Procura
pelo rastro
Os
teus erros,
Limpa
deles teu sangue
Derramado
Que
a paz de revive-lo
Assim
ao largo
Na
distância maior
Desse
desvelo...
Esmoleiros
De
bons e maus tratos
A
gente desfaz-se em fatos...
Às
vezes corrige-se as rugas,
Estica-se
peles e calos...
Carrega-se
em palos ornados...
A
gente muda as falas,
Os
olhares, a visão se alarga
Mas
a coluna desfaz-se em lavas...
A
gente refaz-se em saudade,
Pena
por não ser a mesma fase...
A
gente orgulha-se da experiência
Vivenciada
em sofreres e mágoas...
Mas,
que droga, o que fazer disso,
Sem
força para doma-la?
Sentar
à espera das dores,
A
volta dos amores...
Quase
nada resta da velha idade
Levantada
e ida embora,
Por
favor, pequenos favores,
Sem
esmola...
DESPEJO
Dizem
que não é poesia,
Mas
é a verdade:
De
que serve a honestidade
Nessa
era de deslizes, Elisa?
Vale
o travesseiro macio,
A
mente aliviada,
A
fala sem gaguejos...
Pois,
nesta hora de lampejos
A
pressão judiciária
Faz
tremer o déspota...
Embora
dê de ombros
À
fome alheia que causa
Seu
descaso pela laia...
Que
importa a barriga vazia,
Se
é do outro que estrila?
Que
importa a goteira rala
Se
não é tua sala,
Não
é mesmo?
Tens
o direito de ficar calado
Frente
ao juízo interrogado...
Mas,
frente à tua dúvida,
Grita!
Que te escuta.
Só
deixa pegadas
Quem
anda pra frente...
Quem
retrocede
Repisa...
Nos
momentos
Onde
parei as vidas
Poucas
paisagens
Foram
esquecidas...
O
cansaço de estar só
O
segredo é estar só
Sem
sentir solidão.
As
pessoas que passaram
Continuam
passando,
Num
alinhamento militar...
Até
ouço a marcha do clarinete,
Elas
estão sempre com pressa,
Estou
já em ponto morto
Neste
declive legal.
Ouço
o apito a chamar
Para
a maratona... Não,
Não
vou mais competir,
Cansado
de correr atrás do sonho,
Estou
a esperar na última curva
O
último obstáculo...
A
meado do caminho
Esses
que correm
Nem
sabem para onde...
O
segredo é não resfolegar
Ao
cansaço de estar só,
No
mesmo lugar...
O
tempo apenas espera
Mas
não se conforma
Com
derrotas...
Invade
nossas entranhas
E
ali se acomoda,
Em
nosso cérebro,
Em
nossos intestinos,
Forçando
o envelhecimento
De
nervos e músculos...
O
tempo é um sisudo marcador
De
páginas vividas,
Perdidas
no escuro das velas
Nas
noites de tempestades...
Invade
nossas vontades
De
comer e foder,
De
caminhar,
De
ver o pôr do sol viajando...
Nos
aquieta nesta espera
Nervosa
pelo pior...
Desmanchando.
Está
serenando
Fora
dos limites da casa
Está
serenando...
A
ideia é precaver-se.
Voltar
ao teto antigo
Ou
Cobrir-se
de iniciativas?
Está
serenando
Em
quem ficou de fora,
Mas
está frio lá fora...
Saia
do sereno
Enquanto
não seja tua hora...
Está
serenando...
Está
serenando...
Está
serenando...
Cuidado,
se não estás vestido
De
capa e sentido
De
demora...
A
primeira parte do viver
É
descer uma corredeira,
A
outra parte, mais difícil,
É
nadar de volta à fonte...
Ao
som das ondas
Por
abismáveis
Temer
dos mares
Vivo
à sombra
Desses
cantares...
Extenso
véu
Vivemos
anos
Sem
perceber que um ano
Cabe
em uma noite insone...
Uma
hora em apenas
Um
piscar de olhos
Vira
outra hora...
Como
se já tivesse acontecido
O
próximo tsunami,
Então,
retalhados,
Esperamos
que tudo volte
Ao
normal de ontem...
Depois
que passe a onda
Que
varreu a memória
Das
ofertas e procuras
Acordamos
para o novo sol
Despertando
da noite escura,
Extenso
véu...
Disfunção
dos atos
A
dor mais profunda
Emerge
da disfunção dos atos...
Tropeça-se
no passado
E
o corpo desfaz-se em nódulos,
Se
inebria e inflama,
A
fase extrema da lauda
Em
vão remedia...
Mas
quando a alma se acalma,
É
novo dia!
Especulações
de viagem
Os
nascituros têm
A
força de recriar a vida
A
apagar-se nos sonhos
Idos
dos idosos...
Que
tudo é novo
Para
o primeiro olhar,
Tornado
velho
Para
o último olhar...
No
correr dos dias
Os
parentes próximos
São
parêntesis
Entre
as alegrias...
Reticenciar
é necessário
Porque
os assuntos
Não
se findam em si...
Quanto
mais eu rezo
Mais
assombrações
Desaparecem...
As
sombras
Valorizam
a luz...
O
pior trecho para
O
contador de estórias
É
o não ter fim
Na
própria memória...
Quantas
palavras leste
Entre
fascículos e bulas?
Tudo
vale a pena
Para
o leitor e sua gula...
Fora
da conjugação verbal
O
passado está presente
No
presente subjuntivo...
Quantas
vezes
Burlaste
a memória
Mentindo
a si
A
tua história?
DAS
DECISÕES INDECISAS
Para
cada pergunta
Tantas
respostas...
Como
definir a exata?
Será
que isto importa?
Para
cada pergunta
Tantas
respostas...
Como
definir a exata?
E
isso importa?
Quantas
vezes
Pela
vida afora
Pulamos
um muro
Pra
cair no mesmo lugar...
Quantas
são as vezes
Pela
vida feita, afora,
Que
pulamos muros e
Caímos
no mesmo lugar...
Se
um dia
Quiseres
saber
O
que vivi
No
que expressei,
Não
me perguntem
Em
nada...
Leiam
o que escrevi
Onde
me descrevo
Tim
tim por tim tim
Me
relevo e revelo
Nesse meio...
Fim
das especulações de viagem
Quando
se perde um braço,
Uma
perna, num acidente,
Provavelmente
antes
Tenha
perdido a cabeça...
Grupos
de contação de estórias
Farejam
plateias e se dirigem a elas
Com
tal superioridade que espanta
O
quanto não sabem, do que sabem...
Embaixo
dos viadutos
Embaixo
dos viadutos
Residem
algumas “coisas”
Deixadas
ficar ali
Pelos
que passam
Acima
dos viadutos...
São
famílias inteiras, coisificadas,
Em
seus caixotes de papelão,
Comendo
restos,
Cobrindo-se
de sobras
Jogadas
nas lixeiras, ajuntados
Contra
o frio e a chuva...
Assim
se acomodam consciências,
Tudo
bem, desde que não morram
Em
portões lacrados adiante...
Embaixo
dos viadutos
As
coisas se mexem, balbuciam
Com
seus lábios trincados
Algumas
falas pegajosas,
Com
o medo de incomodar
Os
acomodados com sua dor...
Esses
que não têm futuro
E
nem sabem passados...
sergiodonadio
Eu
quereria sorrir
Eu
quereria sorrir, sabe,
Mas
estou chorando,
Amarrado
ao meu nível
De
sustentabilidade,
Do
qual não posso desprender-me,
Vivo
assustado com a ferocidade
Das
pessoas que empunham
Microfones
e câmeras
E
saem favela afora desenhando
A
desgraça dos desgraçados
Para
os jornais do dia.
Eu
quereria sorrir
Mas
estou impedido pelo mea culpa
Que
me julgo diariamente
Por
não perder o sono
Ao
ter-me bem cuidado,
E
eles tão malcuidados ao meu lado.
Sei
que a retaliação prometida pós morte
Pelo
deus dos religiosos
Só
amedronta os crentes nisso,
Mas
o frio está cortando a pele de tantos,
Deixados
morrer devagarinho,
Em
suas penas, enquanto vivos...
Cotonetes
Tempestades
Não
escolhem telhados,
Voam
pedaços de todos eles,
Estando
no seu caminho,
De
súbito começam a balançar
As
telhas soltas,
Do
meu banheiro assisto
O
tamborilar estranho à janela
Procuro
algo a distrair meu medo,
Pego
um envelope rasgado,
Abro,
está escrito no avesso:
“Não
jogue cotonete no vaso”.
Pelo
amor de Deus,
O
mundo está se acabando
Em
chuva e vento forte
E
alguém se preocupando
Com
cotonetes!
Cá
de meu canto
Espio
as pessoas humanas.
Parece-te
estranho?
É
que existem as pessoas caninas,
Sabe,
esses animaizinhos
Vestidos
e penteados, como humanos,
Cheirando
a xampu e sendo mimados
Como
filhotes humanos...
Olhando
para o outro lado
Vejo
um garoto humano, sujinho,
Sugando
um osso, jogado fora,
As
pessoas humanas desviam dele,
Passam
ao largo, se enojam,
Criticam
autoridades,
Também
pessoas humanas,
Por
não enjaula-lo longe dos olhares,
A
não oferecer perigo aos bichinhos
De
estimação, também acorrentados...
Observando
decifro o real significado
Da
palavra “humanismo”.
Sussurros
Talvez
Este
seja meu último poema,
Nunca
se sabe, então
Faz-se
preciso caprichar
Na
retórica gramática...
Não
me preocupa a opinião
Porque
basicamente escrevo
Para
mim... Pronto,
Está
dito o que queria dizer.
Deixar
de sofrer pela palavra alheia
Sobre
meu sussurro indignado...
Não
perco mais tempo
Com
quem não quer entender
Meu
modo de dizer-me,
Sem
aspas, com reticências,
A
que vim descrever-me...
Sem
paciência.
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