Entre eu e mim
Há uma distância palpável
Entre eu e mim...
Somos diversos na diversidade
De ser.
Talvez um lapso de instantes
Nos separa em tantos
Que não é possível cercear
Qualquer viração de termos...
Entre mim e eu
Há um abismo de existências
Paralelas
Que não se encontrarão
No infinito...
sergiodonadio
Morbidades
Não quero culpar a vida
Pelos tropeços da lida
Mas, ultimamente, tem-me traído
A consciência do vivido
e revivido nas dores do dia a dia,
Nessa idade de mais dor
Menos alegria.
Não posso culpar a lida
Mas, conforme passam os dias
Sinto que o dia-a-dia me enfraquece nervos e juízos sobre
Desacontecidos, terapias, pílulas,
Esforços... para retornar
Ao tempo ido?
Mixórdias
Poucos sabem
Conviver com as chagas
Mas o tempo ensina
A prover-se às mágoas...
Quem sente a dor
Que atravessa o outro,
Destruindo sonhos?
Desses alguns reveses
Se acumulam em falhas
Desfazendo promissoras
Promessas não dadas...
Poucos sabem,
Mas os que sabem sorriem
Desdizendo lágrimas...
Das verdades desentendidas
Por aqui passava um verso
E por ele todos pendiam,
À volta da tensa liberdade
Que de alocuções dividiam.
O que dizer de temas rasos,
Semânticos de alguma lavra?
O que dizer da palavra fácil
Que do tema inda é escrava?
Que se perdeu num estilo?
O que dizer sobre a verdade
Escondida em verso idílico?
Se a poesia reside em planos
De verdades desentendidas
O que dizer da real vida?
Nostalgia
O tempo não volta atrás.
Seja vivido ou esperado,
Como algumas pessoas
Lamentam não o fazer,
É viver cada momento,
Abraçar cada intento,
Comemorar cada abraço
Como se fora o último,
Até ao último chegar...
O tempo não volta
Por mais que a saudade
Nos faça chorar...
Vagação
Com a memória trançando
Não sei a quem me apegar...
Com o passado esquecido?
Quiçá com o presente ficar...
Com futuro não conto mais,
Apenas espero a esperança
De me reencontrar adiante
Na esquina vagal do tempo,
Desse tempo devagar, lento,
Divagando ideias soporíficas
Que me levam a algum lugar
Deste soar implícito arrasado
Distante meu devaneio ido,
Presente no meu esperar...
Audazes
Vejo poucos humanos
Se aventurarem
Como os pássaros,
Desde de eu criança
O tempo embalança
E me faz vibrar
eu deveria dizer
mas a timidez me cerceia,
eu deveria esmurrar?
mas o tempo passou, sem sangrar.
quando preciso falar, emudeço,
quando preciso calar, esmurraço,
então o minuto de resposta
acaba em não o sendo...
eu deveria esmurrar a tempo?
mas o tempo me passou para trás
e seguiu em frente...
Azul esperança:
Uma cor define
O momento.
As estórias contraditórias
Contam nossas histórias:
Somos todos
gentes
De humor e
dentes...
Cadeados
Existem tantas formas
De precaver-se de ser roubado,
A mais displicente é o cadeado.
Inocentemente argolado
Em uma barra de ferro,
Como se fora inviolável.
Existem tantas formas...
Algumas imaterializadas
Em frases sutis, gargalhadas...
As formas vis de ver logrados
Os menos avisados, nós!
Encadeados por nossas mentes
Descobertas às serpentes...
Tributo à Mãe Dona Luzia
Olhando de curta distância,
O tempo vivido, o tempo
Sonhado viver... confrontado
A esperança à desesperança
De a merecer.... Cara senhora
De tantos predicados
O que mais saliento é tua paz
Frente as contrariedades
Que só o tempo, à distância,
Nos pode fazer entender
Que o tempo é a fumaça
Do vivido e do desvivido
Quando a tivera a um olhar,
Agora que a tenho a um pensar...
Tristemente rememoro
Que o tempo não apaga
A saudade vívida em este pensar
Que a vida, por vida, não desaba
Quando o corpo se cansa
De a carregar. sergiodonadio
Valha-me a palavra
Valho-me da palavra para expressar dores e amores...
Aqui se ferem más pessoas
Entre aplausos d’outros...
Aqui se embriagam parlatores
Sobre mentas e desavenças
Havidas no conceito de estravos
À fúria dos desavisados...
Com quantos paus se faz
A canoa sofreando nesse barro?
Valha-se da palavra verdade,
Da qual me armo...
sergiodonadio
Ao espírito do Dr. Sax
Pela visão de Jack Kerouac
A nuvem se enegrece e forma pássaro enorme, quilométrico,
E embica uma cobra
Que a queria degustar...
Aqui todos os danos são reais,
Até mesmo o que o menino tenta,
Que sacode o pano envergonhado
A tentar colher a nuvem pássaro
Que não lhe assusta em pesadelo,
As palavras emboscam o pensar,
A víbora se entrega ao poder
Do maior e se desfaz em partes,
Já amanhece em algum lugar,
Mas aqui o escuro reina
Entre dentadas de uma nuvem
Que não se desfaz enchoçada
Sobre a cabeça do menino
Que acredita em seres fenomenais
Na visão fantasmagórica de Jack...
Hora de sair do passado
Menino,
Enfrente a poeira de frente,
Sem arregrar sentimentos,
Apenas olhe para frente,
Atrás a ponte está caída...
Não tem mais corrimão
Em socorro à mão perdida...
Perdas
Ainda me lembro
Das causas ganhas ou perdidas,
Trazidas pelo correr da lida,
Mas não tenho lembrança
Das feições dos amigos antigos
Nem dos fatos recentes...
Como estarei daqui a pouco,
Perdido na rua de minha casa
Sem rumo norteado em paisagem
Nas dispersões das imagens
Guardadas numa cena vazia?
Confusas as medidas, como serei
Na foto dos ontens, se a base
Estiver perdida?
Das sobras do tempo
Das sobras do tempo
Colher os frutos doces,
Ferventar dos amargos
A mágoa que os trouxe
E adoça-las com gestos
De abanando adeuses
A cada lágrima deixada
Escorrer da face lívida...
Das sobras do tempo
Sorrir à oportuna lida
Que escolta despedida...
É preciso remar,
Mesmo que for
Contra a corrente...
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