À casa que me visita
A casa que me visita
Não tem muros,
Cerca-me de flores e
carinhos,
E eu a esmurro!
Quanto faz que não nos
vemos?
Desde quando nos
derrubamos,
Pedra a pedra, sentimento
à ânimo...
Somos sim, amigos desde
esse tempo,
Mas nos destemperamos
Com o tempo vivido acolhendo
vias,
Eu as despedindo.
A casa que me visita
Não é a mesma,
O tempo fez-nos diferentes
Nesse siso extremo.
Tempo de
olhar estrelas
Do tempo em que me via
criador
Ainda trago essa tenra ternura
De saber que o riso põe a
dor
Ao termo do agora
criatura.
Ao tempo em que vigia era
amor,
O mesmo, sem essa
licenciatura,
Pensando inda ser um
professor
Aluno dessa vã
nomenclatura.
O mar profundo espelha
estrelas...
Podes crer, há um grande
mundo
Abaixo desse nosso mundo
E um outro grande mundo
Acima do que vivemos
mundo,
Assim é que se assemelha
Me compram à vista,
Preciso desse prazo
Definido em lista...
A palavra
pode ser afago
E pode ser
adaga...
Conclusões da escureza
Todos cantos da casa são
escuros.
Todos cantos da criança
são rosa...
Por onde anda essa fase
inculta,
Que ouve o canto e se
conforma?
Eu tinha uns olhos
esperançosos
E a vida trouxe-me a
questão vital
De como semear pretensas
rosas
Entre as pedras soltas do
quintal...
Se o canto insiste em cada
escuro
Em que o canto não se
refaz capaz
De reerguer-se nessa fase
inglória?
É que o canto, em canto
implora
O som mavioso atravessado
muro,
Tornando escuro o tempo rosa.
Destempero
Esse não é bem o lugar
Que escolheria para dar
Ciência de meu desapego
Ao dinheiro... Mas, sigo,
A cena acontece agora,
Nesse teatro ilusionista.
Então, aqui me entrego.
Ao erro em sendo cego?
À paixão de não valorizar
Dinheiros, mas as rações
A suprir minhas fomes,
Outras nos destemperos.
Esse não seria bem lugar
De meu finado desterro.
A degola
Quando minha mãe
Degolava uma galinha
No quintal, para almoço,
Ela corria uns passos,
Desesperada, até se dar
Conta de perdido a
cabeça...
Lendo Maiakovski comparo
As galinhas aos
guerreiros,
Degolados nas batalhas,
Correndo ainda até
Se darem conta
De perdido suas cabeças...
Como somos predadores,
Se não de galinhas,
De nós mesmos!
A paz contempla
A inconsciência...
Os queridos
que se afastam,
Não se
vão...
Apenas sustam
suas presenças,
Em vão.
Valores imateriais
Os escritos estão
paginados,
Desde sempre,
Nas lápides dos poetas...
Dos sonhadores do mundo...
Dos estetas desorientados
Pela lei dos
latifúndios...
Estão na vitória e na
derrota,
Da palavra sobre a adaga,
Verve sólida empenhada
Em ser cultura... Em tendo
nada!
Que o tempo passou para
todos,
Apenas imortalizando a
palavra,
Deixando mofar nos túmulos
Os vencedores e os
vencidos
Das batalhas sem juízo
Dos canalhas.
sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva.
Incógnita (Portugal)
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Perse e Clube de Autores
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