Itinerários
Cruzemos os braços
À espera dos amanhãs...
Sensatamente diversos
Dos esperados ontem.
Hoje a supressão das horas
Praz-se a esperar nova
hora,
Aquela,
Que nos fará sublimes,
Emblematicamente
ligados
Por tarefas ou
crimes...
As questões miúdas
De nossos haveres e
deveres...
Agora, quem sabe,
O tempo se arrependa
E volte a pôr fé no que
pensamos
Ou desejamos...
Invólucro
Talvez o corpo
Seja o invólucro
perfeito
A cobrir uma alma
esgarça...
Talvez, apenas talvez,
O que se vê
externamente
Espelha o que se
passa...
Com este corpo desfeito
Não seja coberta o
plasma
De outra alma...
A que não esteve
presente
E se embreava...
Desconsolo
A vida vai se finando
Nesses asilos,
desassistidos,
Onde descendentes
Internam ascendentes
E somem na multidão...
Triste realidade
Num tempo de amarguras
Por mera
descompostura...
Cria-se um inimigo
Vestido de filho ou
neto
Nessa perdidão de
infesto...
O tempo vai se finando
Na tristeza de
esperando
A visita por incerto...
De quando em quando,
Desértico...
Enriado
Onde
Se escondeu o sonhador?
Será por medo do
sonhar?
A predição do iludir-se
a dor
Fez-se o medo a recuar...
Sentimentos se amontoam
E formam sonhos
enriados
Nas águas desse sonhar,
Lindo, mas assustado,
Pisando com o pé atrás
Passos a serem dados...
Tenuidades
A delicada ligação
Da vida com outra vida
Rompe-se na tenuidade,
No silêncio da noite
O que seria morte
É o confronto com a
verdade,
O tênue fio da verdade,
Da esperança à
saudade...
O suspiro do consolo
Incontestável pela
volta
Abanando um lenço
branco,
Sem revolta...
Tábua
Outra vez
Infringes o mandamento;
Desacreditamos de Moisés...
Será que o Senhor o
cria
Discípulo de suas
palavras?
Ou foi mais um incauto
Como nós?
Faldas
Agora se fez homem
O que, em menino,
Distribuía goiabas.
Desfazem-se os heróis
E suas heroicas
faldas...
Por nada de que se
viveu
Passou o tempo
ilusório,
Apaga-se o aceso da
vela,
A luz se faz na
escureza...
De verdade queima o
alarde
Dessas horas
monitórias...
Tempo findo, vela
finda,
Inda se iludem meninos
Na confusão das
estórias...
Adaptar-se aos tempos?
E logo no plural!
Mas esta necessidade
não vem,
Justamente do gasto,
Envelhecimento,
esclerose
de modelos e
estruturas,
que, por sua vez,
nasceram
de outras adaptações?
As atuais não
envelhecerão?
E será necessário
muda-las a seu tempo?
Ou preferem o eterno
retorno?
Xô, Heráclito, chega!
Isto cansa!
Tudo, menos a
eternidade
Que atira aos tempos as
cracas!
As adaptações aonde
devem ser atiradas:
No lixo!
Henrique Gregori
OS DOCES DE FIGO
A lata de doces vazia
Parece maior de quando
Tinha figos em calda...
400 gramas de figo,
Quantos gramas de
calda?
Agora só tem calda,
Maior que a vontade
De ter comido os
figos...
A realidade é assim
sempre,
Estranhamente vazia,
Se comidas as frutas
doces
E descartada a calda
fria...
Momentos
No momento
Em que tudo desaba
Eles quebram a cara
Expondo fakenews sobre
tudo...
Querem opinião sobre...
Eu só penso, não
discuto,
A não ser a poesia
viva,
Secularmente viva
Entre tantas situações
Morrendo por
inanição...
Quando se dorme se
guarda
O aprendido do dia na gaveta
Desse imenso armário
Em acomodada
nostalgia...
Prestem atenção
À importância
Da desimportância...
Ninguém fala sobre
poesia?
Alguém fala sobre
poesia...
Sei disso na muda de
assunto,
Posso ser desagradável
Falando sobre poesia
Com alguém que não se
vê poesia...
Então falemos sobre
política,
A administração
pública,
O que também é
enfadonho...
Então me calo
E este alguém se afasta
Por eu ficar
enfadonho...
Lendo certos Poetas
De nosso meio,
Não entendo o recado
deles,
Monossilábicos...
Mas tentei,
Juro que tentei este
tatibitate
Que quer parecer bom,
Dito por eles em sua
revolta
E sua acomodação torta
Diante da realidade...
Este mundo
Estranhamente moderno,
Ligações indecorosas
Propondo acordos,
(Já que o decoro seria o
silêncio)
Situações inventadas,
À revelia,
Acordados sobre
“dívidas”
Inexplicáveis...
As putas têm mais
credibilidade
Pois firmam e
entregam...
Os bêbados parecem mais
sóbrios,
Pois se reconhecem
bebidos...
Os loucos
enlouquecidos...
Estranha esta maneira
De se comunicarem à
distância,
Sem relevância...
sergiodonadio
Nenhum comentário:
Postar um comentário