A pena
Reduz-se a meia
palavra,
A outra metade silencia,
E pena...
O suplício
suplicia?
O silêncio
desvenda
O princípio que
principia,
E vira tema...
Há um século
O Poeta se
encantava
Com a máquina à
vapor,
À diesel, à
explosão combustiva
Como a nova era...
(Que já era)
Agora a poesia se encanta
(Ou chora)
A inquietação
cibernética...
Há um século a
modernidade,
Agora obsoleta,
Trazia novidades,
hoje vencidas,
Isso mostra que o
tempo
É só de idas...
Malas prontas
Fazer as malas
Para o não partir
Talvez fosse, ou
seria,
A melhor viagem,
O descanso da
viagem...
O deixar de ir por
ir,
O ficar por olhar
Distâncias
Daqui....
Esta janela
Esta janela,
Se me abre pela
manhã,
Atiça a
imaginação,
Ouço pássaros e
cães,
Motores e
discussões...
Quer dizer que
estou vivo!
O que se me abre
Com esta janela
abrindo
É um mundo
Na sonhada viagem
Sem sair daqui...
Estou perto de
todos os portos,
Dentro de todos os
templos,
Banhado de todas
as praias
Com todos os
recantos
E seus encantos...
Remissivo
Toda maldade se
concentra
Num pensamento de
revolta,
Vingança,
arrependimento...
Se refaz a cada
ato impensado
E se expõe a ser
sentimento,
Floresce onde a
paz fenece
No agir
impensadamente...
Redime não quando
o que
Deveria ser
esquecido
Torna semente...
Manhã azul
O dia dá-se por
chuvoso,
A manhã sorria o
azul
De um tempo
límpido...
Depois fechou-se,
Talvez por raiva
ou instinto
Seguindo a cara
desse frio
Na vontade de
ir-se...
Antes que
contamine
Essa nuvem negra
Viro do avesso a
manhã
Com sendo um casal
brigado
E me avexo...
Lauréis
As portas ficam
longe
Quando se as quer
perto
E perto quando
Se quer distanciar
delas...
Por isso todas não
estão
Abertas na hora
incerta,
Porque a gente as
fecha.
A vontade se perde
Na incapacidade de
ir-se
Quando é realidade
Despedir-se ao
choro...
Tentar até o fim
do trecho
Pois todos os
trechos são
Iguais na
desigualdade
De seus louros...
Tudo é válido
Na convivência
diária,
Do riso que renova
Ao pranto que
estorva...
Basta de lamento
Que o verbo é
curto
Urgente o
intento...
Como uma lágrima
Como uma lágrima,
Perdida em um
adeus,
Choras a última
despedida
Em seu vago
olhar...
Como uma lágrima
Esquecida de
verter
Pensas a próxima
saída
Entre esses
encontros
Furtivos entre tu
e eles...
Com uma lágrima
Salgas os olhos
outra vez
Tentando esquecer
A dor em dívida...
Contemplares
Aos olhos
Apagados de um
cego
A paisagem
É transparente...
A cor que vedes
Em teu estranho
ego
É a mesma cor
Que ele sente...
Entre a hera e a
era
A hera e a era
Se unem no muro em
frente,
Cobrindo pichações
dos tempos
Formando pichações
recentes...
Quanto basta ao
olhar furtivo
Saberem-se
descobertos
Por misantropos
esquivos?
Quanto baste, além
do esquecimento,
A lembrança de
tudo variada?
Talvez o tempo remonte
ao tempo
E a letra que se
destacava
Desfaça o que se
desenhou
Em foice e forca
de cada fase...
A hera e a era se
unem
Para descrever, da
história,
O que não ficou
transparente
Naquela hora...
É o bicho...
Faz algum sentido
A vida parada ao
meio?
No tratado de manada
A vitória que não veio...
Um tempo de
rebuliço
Com tantos catando
lixo
Na colheita de quase
nada...
Faz algum sentido,
Pois na revolta é
cantada,
Não o melhor das
vidas,
Só as promessas
dadas,
Como o menino que
Entregou-se ao vício
Ser apenado por
isso
Quando o vendedor
desse lixo
Lixa-se para o desequilíbrio?
Como saber se não lhe
veio
O que lhe seria
esteio?
Distendidos
Não me dobro à
dor,
Seja de músculo
Ou de alma...
Seja de hoje
Ou herança desse
tempo
Revivido dia a dia
Sem pejo...
Não me dobre, ó
dor,
Que me sustento
Em doer a menos
A dor que penso...
Não se dobre a dor
Ao mesmo tempo
Em que me arrasto
E me distendo...
Que a dor, assim
como
O prazer e o ranço,
Me fortalecem
Ao pejo...
Esperar sem
desesperar
É explorar o tempo...
Queria ter um
momento
Sem ossos...
Impossível?
Talvez não, se
caprichar
Em desossar o
tempo...
Terra de ninguém,
Aqui todos os
pares
São ímpares...
Talvez cansado de
conviver
Quero apenas
Viver-me...
A poesia caminha,
Eu procuro
acompanhar
Nesse passo trôpego...
Negar a ditadura não,
Mas negar a necessidade
Da ditadura também
não...
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