A peia
A poesia, no poema,
É feita de repentes...
Uma folha que voa
E aterrissa, não cai,
Como a brisa que
Não chove, se esvai...
Como a nuvem que
Se move devagar...
O poema se faz poesia
Quando aterrissa,
Como a maré mareia,
Não mais.
sergiodonadio
Gabaritando
A vida não tem gabarito
Para se medir se está boa,
Média ou ruim...
A vida se faz, assim,
Dona de si, e de mim...
Na internet
A oferta de cura milagrosa
É um desrespeito à dor alheia...
A você que me conhece
A você que me conhece
Procure disfarçar a pressa...
A você que me conhece
Não desfaça o sorriso pelo riso...
A você que me conhece
Não tema a desgraça de não ter graça,
Que o dia hoje não foi completo,
Faltou a alegria de entristecer-se
Com a alheia patacada...
A você que me conhece
Feche a mente para os olhares
Que vierem repreender-nos
Por felizes de vez apoquentados,
Que o tempo há de viver-nos
Em nossa graça de podermos
Conhecer nossos valores,
Com jaça...
Caminho da roça
Plantios de milho e carinho,
No milharal a canção do exilio
Ao sabor do sal do suor...
Carreador ladeado de gramas
Onde ciscam passarinhos
À procura de sua colheita
De milho desmanchado
Do sabugo jogado seco
Nesse chão de oportunidades
De sóbrios reinados...
A caminho dessa roça
O inesperado presunçoso
Torrão da seca ao invernado...
Faz tua prece
No dia hoje
Entrega tua
vida
Ao
sentimento de vencida...
Faz tua prece, tua pedida
De paz na guerra desistida...
Flerte com a esperança
Que te acolhe desde criança
E vai... que o tempo se esvai
Com ou sem tua espera...
Assim estilam velhas promessas
De festa e refusta o sol esteiro
Que te traz preguiça na tarde
E viagem à estela brilhante
De tua ornada esperança...
Pomos
Dos desencontros comigo
Trago cicatrizes cerradas
Das longas vias de aviso
Levara arenga de estradas...
Por aqui passamos medos
Entre paisagens e nadas
Da força desses degredos
Vistos da ponte em vagas
Quanto vivi essa manada
De sentimentos furtivos
Deixados na desesperada
Procura de novos trilhos
Entre roseiras e pedradas
Saídas de cortes furtivos
Tempos amenos
Parado em hoje
Suplico à memória
Um cisco no olho seco,
Sem desperdício
De lágrimas...
Estive me procurando,
Até me encontrar
Estranhamente ativo
Na orla deste ar...
São os sonhos pequenos
Que me fazem voar
Neste tempo ameno
De expectar...
Aprendimentos
Aprendo a viver cada momento,
Desobstruir todo mal pensamento
Na espera pela volta da esperança
Crendo na palavra feito criança...
A lembrança é o susto de ontem,
Revigorado na ascensão de hoje,
Os lassos discorrem à meia idade
A relembrar tropeços em passos
Deixados em rastros sangreados
Sobre pedras pisadas de passados
Em formatos sutis às decepções
Dada a desaconselhada cincada
Sofrida nas perpetuações aladas
De asas frágeis à voluta enseada
Tempo de esquecimentos
Depois de décadas vividas
Entre paixões sobrepujadas
Esquecer insanos atropelos
É quase erosão ressequida...
Aqui somemos os males
Distribuídos em halos
De forras desinibidas...
Tempo de esquecimentos
De taxas fósseis das idas
Aos quintais de petrinas
Avoadas de seios ilhados
Em torno de nossos atos
Desatados de aços latos
De outras telas revividas
Memórias
Me esqueci das palavras que
Tenha dito em épocas furtivas...
De quando em quando alertava
A memória de datas festivas,
Mas não lembro desses dados,
Escritos à revelia das verdades,
Hoje dessumidas realidades...
Esqueço do que comi de manhã,
Esqueço do que extraí de setas,
Mas deixo minha fraca memória Escrita em palavras verdadeiras!
A alma não envelhece, suspira
A febre do corpo doente, e reza
A amainar a dor lítica da mente
Urtigais
Coça... coça... coça...
Só quem sentiu é que sabe
Quanto coça o pelo da urtiga
Na perna nua dos garotos
Dessa época de coceiras...
E meandros e desinterias
Por causa de mascar flores
Para saber-se macho entre
Meninos crassos...
Consertadores
Acompanho
Reformas ávidas,
De casas e pessoas,
Conserta-se telhados
E ações diversas...
Evitando goteiras
E furos passados...
Brandi minha bandeira
Divergindo de meus pares, conscientemente...
retalhos
feita de retalhos,
costurados pelo
tempo vivido,
a vida faz sentido
nos remendos floridos...
não nos enganemos
com flores desavisadas
de minutos desavindos...
é dos retalhos emendados
que se compõem
os lírios...
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