Ao meu
pai. (E a Drummond, pelo poema a mesa.)
Bem que
gostavas da festa, e, pai, que festa te faríamos hoje, os teus filhos que não
bebem e os que gostam de bebericar, unidos na mesma sala, esqueceriam seus
temores, suas mágoas, desavenças, lamúrias impuras, para o preito à sua pessoa.
Ali, sentado à cabeceira, olhando de lado a lado teus descendentes diretos e
agregados, que também o são, com certeza, terias os olhos d’água ouvindo o
desarrimado canto dos desafinados... mas, o que conta, senão a emoção do
momento? Sei que, com teus olhos acostumados a ver lonjuras, verias nos teus
filhos os filhos deles, que um dia vieram, por ventura, e que te arregalavas
acariciando-os pequenos, vindos à ti. E, do teu lado, pai, nossa mãe,
alicerçada, a que pôs os filhos à mesa guarnecida sempre, sempre arrumada, que
esses filhos sessentões viriam pedir-lhes agora que cosam, não as calças rotas,
mas as almas. Do lado desses sisudos senhores, estariam ambos abençoando o
momento.
Bem sei que
gostavas das viagens, pai, estivesses aqui agora, que viagens faríamos
juntos... a planejar os meios, as paradas, os destinos de nossas jornadas...
Bem sei que
querias a maturidade dos seus... e, pai, que bom se aqui estivesses para ver
teu sonho realizado.
Pai, junte
seus tratos e vem, que é hoje dia de festa, dia de tê-los ao lado de nossos
sonhos e de poder sonha-lo também, com sua aura de bom pai e bom cidadão, como
poucos vivenciei. Sei que devem estar juntos, numa alegria maior do que
poderíamos oferecer, mas por amor e ternura vimos convida-los para outra vez
juntar-se a nós, nessa ilusão de fartura, de amor, compreensão, agora que
estamos sós, com vossa ausência fazendo-se presente em nossa sala... vazia.
Sergiodonadio.blogspot.com
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