Convexo
Para o bebido no balcão
aberto
O mundo lá fora é convexo
Como o mar ao marinheiro,
Como o infinito ao descrente
Que varre as coisas sujas,
Pensando o teto aparente.
O velho poeta dizia do
inusitado,
Supria de rolhas garrafas
vazias
E um ditado que as vazias almas,
Que um velho frade exprimia
O lado ruim como certo,
assim,
Certo lhe fazia.
Mas o tempo, como o mar,
visto
Da praia, é convexo, embora
Reto em que o olhar tem por
si,
Bebido no balcão daquele bar,
O mesmo olhar que a religiosa
Presa ao claustro teria.
Pintura
À margem desse erro
Tingi as barras
De um desterro ainda fresco
De tinturas outras...
Quem fornicou a bela,
Que engravida tanto
Quanto
Minha aquarela
Em pranto?
Espera
Aos baleados
Do livro convexos
A mãe que espera filho
Espera-o são, rijo, sorrindo...
A mãe que espera um filho,
Vindo do ventre ou da guerra,
Espera-o cria nova, sempre
Outra vez o parindo.
A mãe não quer um filho
Pra rua dos esquecidos,
A mãe quer que seu filho
Seja o mais bem vindo
Dos outros da mesma
Rústica esteira.
Sendo a vida esta guerra
De rua, escola, destreza,
De alegria ou tristeza,
Ou que o mundo afronta.
Para cada mãe que espera
Há uma lágrima pronta.
Carrinho de mão
Depois de tanta evolução
Vejo o jardineiro com seu carrinho de mão
Como nos tempos passados...
Lá dentro a criança brinca no computador
Não mais na terra arada do jardim plantado.
Depois de tanta involução
A criança perde o espaço no jardim
Para sentar-se frente a esta tela
Inacabada
E não mais sorrir das coisas leves.
Depois de tanta volição
Alegra a criança vir desse jardim
Trazendo nas mãos uma flor
E os pés sujos da terra semeada
Que replanta ideias outra vez brotadas.
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