Visita ao
asilo
Nossa velha amiga foi pro
asilo,
“Para ser melhor cuidada”
Tudo mais ou menos
limpado,
A refeição sem cardápio
(escolha)
É feita da xepa da
feira...
Tudo bem que assim seja,
Pela falta de recursos
patrocinados,
As camas divididas em
quartos duplos,
Os bancos do jardim ao sol
da tarde,
Mas o carinho passa longe
Na frieza dos olhares.
Há uma desistência nos
andares,
Muitas feridas, algumas
expostas,
Tantas cicatrizadas escondidas,
Convalescendo uma dor
antiga,
Vindas de lares
desmantelados
Onde meninos dormiam e
comiam
Sob a benção já
esquecida...
Agora procuro entender
porque
não morrem nesse tédio, porque
Já foram assassinados!
Cancros
Escutando esses olhares
frios,
Fixos na inexpressão do
nada,
Sorvem o sal à última
lágrima
Sobre a terra que se
arrasou...
Donde o fruto já não diz
nada,
Quando o último chega,
assenta,
Parece muito normal
presença,
Tecem alguns laços de
amarras
Mas silenciam de vez a
manhã
Seus utensílios festivos
ontem
E gritam a espantar o mal
feito.
Apenas o silêncio é a
descrença
De que haja algo ainda
vivo
Na face lívida de olhar
difuso...
Vasculhes
Passeando pela memória
Retentivas empoeiradas...
Algumas conchas vazias
Idas do mar das viagens...
Algumas flâmulas
coloridas...
Umas miniaturas de
garrafas,
Ainda até hoje desavindas,
Um silêncio sobre as
formas,
Sobre as idas sem
vindas...
Tanto quanto desabitadas
Nesta impensada berlinda.
Pois é, amancebado
gregário,
As vidas passam esquecidas
Nesses fundos de
armários...
Lenires
Descubro que as coisas
Acontecem por deixar
Que aconteçam...
Muito do que procuram
No dia a dia na sesta,
Nessa primeira hora
As emoções tomam conta
Por conta de umas pernocas
Bonitas e um sorriso meigo.
Depois por conta de susto
Por ter-me desprevenido...
Agora, armado e tentado,
Contra novos dissabores,
Descubro que quase nada
Pode contra meu intento
De lenir branda demora
Quando tenso.
Adversos
A parede se ilumina
Às tantas da madruga...
Sou criador ou criatura
Dessa palavra Poesia?
Que me cria... Me recria
Em cada gesto deixado
ficar
Nas outras horas do dia...
Nesta hora silenciosa
O teclado se mostra
trépido
Entre vogais avançadas
Sobre consoantes mortas.
Estamos aqui, eu e a
palavra
Que crio a cada gesto,
A cada pensamento novo
Nessa velhice de tetos...
A parede se ilumina
No escuro da madruga
Entre silêncios e falas
Além desse criador sereno
Que me faz criatura.
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