Observatório
Nação morena, sim senhor,
Com muito orgulho!
O moreno só é moreno
Pela pele?
Graças a Deus que não!
O moreno, como o polaco,
Como o asiático, têm
O mesmo coração,
Humanamente
Pulsado.
A alma desse moreno
Que cor terá,
Entre as cores desse parto
Exposta ao deus dará?
Das cheganças
Épocas comemorativas
Emocionam o senso
Aos descompromissos...
Não pensas nas dívidas,
Sejam ativas, desativas,
Sejam monótonas
Promissórias prometidas...
Monetárias ou
humanitárias,
Sempre dívidas...
Apagadas no panetone,
Nas bolas coloridas
Nos pinheiros falsos...
Na chegança dessas datas,
Coelhos trazendo ovos,
Jesus deixando presentes
Pelas mãos e São
Nicolau...
Comemorar o esquecido
Passar do tempo
Em momentos...
Nós sempre fomos eu,
Mesmo quando chamei
Alguém que me perdeu...
Subi as rampas oferecidas,
Desci as águas consumidas
E vamos em frente, nós,
Equitativamente iguais,
Com ombros caídos,
Com mãos calejadas
E um ai a cada caída
Levantada.
Nós sempre quisemos ser eu,
E assim é que caminhamos
Nossos passos
A caminho doutro sonho
Que se perdeu.
Para este ser doente
Suas roupas adoecem junto,
São calças, gravatas,
lenços
À espera de ser
defuntos...
Depois de cumprir idades
Não vale suicidar,
Tem cada vez menos
Pra morrer junto...
Os sonhos da pessoa
São seus tesouros,
Ele sonha ser médico,
Depois enfermeiro...
Tenta sonhar outras
profissões
E acaba sendo
O homem da limpeza,
Das panelas depois do almoço,
Das latrinas, dos canis...
Assim mataram os sonhos
Deste homem
Que vai esvanecendo
Pouco a pouco
Na mesmice de obedecer
ordens
Desconexas de alguém,
Sendo levado a viver seus
dias
Como algo sem outro fim
Que se inicia às 6 horas
da manhã
E finda ao som da Ave
Maria,
Todo dia... Todo dia...
Todos os dias
Até que lhe findem os
dias.
Dia de apuração
Se a ideia é de que
Alguém aqui seja santo,
Esquece...
A promessa,
lógico,
Não será
conferida,
Mesmo que
promessa
Seja dívida.
Aqui se
locupletam,
A conta,
amarga,
Será
dividida.
O que enerva
Nessa turba
indigesta,
É a cara
despercebida...
Mas antes
que o galo cante
Três vezes,
será vencida
Pelo
desencanto da secura
Antes da
virada costumeira,
Não é a
última, não foi a primeira,
Por falta de
opções
Vencerá
outra vez
A opção
rasteira?
sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva.
Incógnita (Portugal)
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Perse e Clube de Autores
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