domingo, 4 de setembro de 2016

Desamparos de guerra


Não vejo sentido
Mandar em continência
Os jovens braços fortes
À inexperiência da morte,
Torturando os cansados
Braços de seus pais
A chorar seus ais,
A vencer o mesmo eito
Plantado de antes,
De amanhã, de sempre,
A suprir a mesma fome
De todos, que é perene,
Com menos braços
Para lavrar, e abraçar,
Tirando do que se come
O que se defende
Em nosso nome.




Fundeadouro


Daria pouso
À minha história,
Não fosse o aflito esperar
Pelo incerto amanhã,
Inverno
De pequenas gripes
E fortes aberrações...
Se pudesse
Daria pouso
Ao passado, relíquia
Do perdulário
Feito azaro...







Tu é de lata, amigo,
Com medo que a lágrima
Te enferruje o umbigo,
Por onde vês a pátina?







Meus mortos familiares
Me visitam, guardam que
Faça um pedido, mas sou
Incapaz de ocupa-los disso








Escorredouro


As coisas não fazem aniversários,
Apenas perenizam sob a poeira
Dos tempos contados em anos...








Nem todos os poemas
Dizem a verdade,
Este é o destino
De cada fase...











Ainda agora procuro
Meus haveres idos...
Reviver o passado
Não faz mais sentido.








Tem cenas que
Só se fazem lindas
Vistas com olhos
Fechados...







O cansaço da espera


Quando as peças da sala acordam
Fazem um certo barulho
Empurrando-se umas às outras,
Se tornando entulho...






No amanhecer
As coisas se aclaram...
Não pelo sol nascente,
Pela noite bem dormida.







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