Calos d’alma
Com seus calos n’alma
Voltam jovens que viajaram
sonhos...
Já passaram pelos meus
momentos
Outros viajores navegando
tempos...
Vejo-os sorrindo tal
contentamento
E invejo à força seu
desprendimento.
Tudo passa e passou o tempo
Dos que viajaram jovens
sonhos.
Retornam tanto mais
experientes,
Nem por isso deixam de sofrer
O tempo por alguns maus
tempos.
Eles voltam ilesos, ainda
assim lesos,
Como os que ficaram,
protegidos,
Só que, mais que estes, inda
vivos.
Utopismos
Eu tive uns olhos
esperançosos...
Mas a vida embaçou-os,
alhures.
O que sobrou daqueles olhos
tolos
É a saudade desses tempos
puros.
O que prestou, prá deixar
saudade?
Foi a esperança de um vão
futuro.
E os meus olhos, lacrimados,
puros,
Choram a realidade de tempos
duros.
Tempos calosos de queimar
miragens,
Chegada a hora de saltar o
muro.
Mas guardo olhos inda
esperançados,
Revendo planos para o tal
futuro.
Ausência no olhar
Os que estão longe
São sempre os ninguém.
Assim que passam a linha
Imaginária do olhar,
São reconhecidos pares.
Os longe, os ninguém,
Salvam-se de seus males
Pelo turvo da imagem,
Assim que passam a linha
Imaginária de cegar.
Esses longe, quando perto,
Abanam gestos de paz...
O que mais? Um poema,
Da dor dita sincera,
Se traída no olhar?
Subconsciência
Ouço já, que bate à porta,
Um imaginado suor de
lágrimas,
O momento tenso me diz
Da forma oclusa de dizer
nadas...
Ouça, que já bate à porta
A fereza do menino, moço
capaz
De infinidade de senões e ais
E um sorriso tímido, talvez
um riso,
Fala-me dos acontecidos entre
Mim e eu, um extenso
descaminho
De imagens e miragens
passadas,
Um extremo caminho de
saudades
Que ferem as têmporas
cansadas
E fazem-me capaz de dizer
adeus.
Arrebóis
A sombra de dentro,
Cingida à sombra de fora,
Forma um compadrio.
O sol já se pôs e
A luz trêmula da lamparina
Desenha sombras alongadas...
Assim a vida,
A de dentro, dos silêncios,
A de fora, dos chilreios
De pássaros festando
À luz do sol.
Ambas cingem-se nos arrebóis
Das tardes silenciosas.
Intuições
Palpando o silêncio
Encontrarás uma urna
De tentos e intentos,
Arrumados no fundo dela,
Desde o nascimento,
O flanar da vela,
Cada enternecimento,
Do negro à amarela...
Palpo e perscruto
Entre dedos trêmulos,
A voz abafada...
Ouça a urna gemendo
Sua dor dos tempos,
Plena madrugada.
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