Na crista da serra
Nesse cantinho de mundo
O jorro no balde acorda
ouvidos
Que o som d'água, esquivo,
Enfim se aplaina à manhã,
Ainda penuriada...
Uns homens de manta alva
Cortam folhas das grossas
palmas,
A mulher enrugada põe à mesa
A carne do bode, inda amigo,
De rica pobreza...
De quando em quando um ganir
fraco
Põe a saber que o cão inda
vive
Escondendo-se na balaustrada,
Que a vargem cobre, ressequida,
Como a vida.
O que seria afago é a mão em
riste
Que corta da cana a água
braba
E da cisterna a suja lama...
Tem nada não, camarada,
Ele resiste...
Quem sabe o dia inverne, é
tempo...
E solte, mais que gotas,
vidas
A este cantinho de fim de
mundo
De famélicos artistas
auscultados
Pela mão vivida.
A cada dia, nesse campo morto
Renasce como ressuscita um
cristo
Uma criança em tal
desconforto
Que treme frio em sol a pino
De extrema lida.
Aqui se farta de fartura
pouca
O ralo grão que, se vai à
boca,
Não reconforta a fome fátua
E a sede de tantas outras
águas
De lama pouca.
E som da água, enfim
conforta,
A mão em riste, enfim, afaga,
Nesse cantinho esquecido,
Tem nada não, camarada,
A vida insiste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário